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cronicas-->Perdido na Metrópole (24) Mercado Mundo Mix -- 08/07/2003 - 14:44 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Perdido na Metrópole
Silvio Alvarez
Ilustração: Bruno César



Parece que a minha gripe Éguinha Pocotó foi embora. Cuidado com ela. Vem a galope, gruda no cérebro e corrói os neurónios, todos os dois. De quebra, acaba com o nosso humor. Terrível. Tomei um comprimido que tem nome de acessório para bicicleta e resolveu. Tetra Ciclina. Consulte seu médico.

Neste final de semana fui a um tal de Mercado Mundo Mix. Um galpão enorme com estandes que vendem de tudo. No princípio do projeto o público alvo era a galera clubber, underground e a turma GLS. Agora todo mundo virou público alvo e aprovou a idéia. Já havia ouvido falar, mas a chance de ir pintou só agora. Um manifesto da liberdade. Tem todo o tipo de gente convivendo na maior paz comprando as coisas mais malucas. O normal ali é não ser normal. Por falar nisto, o que é ser normal? Existe alguma regra? A regra que procuro respeitar é... A minha liberdade vai até aonde começa a do outro. É tão simples. Respeito. Simplesmente.

O lugar é muito colorido. Roupas, cabelos, acessórios, móveis, gente... Tudo muito colorido e fashion. Tem gel para cabelo, fosforescente. Brilha a noite. Discretíssimo. Imagino quando esta moda pegar para valer. As fábricas de iluminação para casas noturnas vão falir. O público será a iluminação.

Percebi que o piercing esta mais em alta do que nunca. Fiquei enroscado em uma mocinha. Ela foi amarrar o tênis verde goiaba e eu passei com meu celular-tijolo que agora anda vestido, ganhou uma capinha. Não me perguntem como este enrosco foi ocorrer. A mocinha tinha um piercing de gancho no supercílio. Um detalhe chamou minha atenção enquanto nos desvencilhávamos. Seu umbigo piscava. Interessante. Seu umbigo era iluminado na cor rosa choque 220V e piscava. Fiquei meio zonzo na operação me larga.

Tinha um rapaz com tamanha quantidade de brincos em uma de suas orelhas que sua cabeça estava pendendo para a direita. A princípio pensei que ele estivesse com torcicolo ou que fosse algum tique nervoso. Não era.

Um Mercado Mundo Mix permanente seria jóia. Já devem ter pensado nisto. Não só pelos produtos interessantes. Mas pelo exemplo de convivência sem preconceito. Cada um na sua.

Tatuagem? Vi um monte de gente com um monte delas. Não vou nem comentar. Muito normal. Chamou minha atenção apenas uma tatuagem andante. A pessoa em questão era uma tatuagem só. Legal. Belezura!

Desta vez não briguei com nenhum segurança. Eram discretos e também não havia necessidade da presença deles. Estavam lá discretamente. Para alguma eventualidade muito eventual.

Vou decorar minha casa no Mercado Mundo Mix. Assim que tiver dinheiro. Vou liberar o Sig Bergamin aprisionado em minh´alma e complementar a decoração do meu apertamento-kitchenette amarelo canário, azul ofuscante e verde bandeira. Por falta de variedade de ofertas não será! Tem de tudo. Como meu lar não é muito espaçoso não terei muito trabalho (dois por dois... centímetros). Encontrei um dragão chinês fantástico. O único problema é que é tão feio e assustador que ninguém vai querer entrar em casa. Nem eu.

Descobri uma poltrona que faz massagem. Onde? Lá! Onde poderia ser? Interessante seria ficar observando a cara da pessoa sentada à minha frente, conversando em casa. Feito entrevista da Marília Gabriela. Cara a cara. Surgiriam fisionomias surpreendentes. Já imaginaram?

Um fato perceptível é que o passado voltou à moda. Principalmente o estilo dos anos 60 e 70. O colorido new wave do início dos anos 80 também retornou. É surpreendente ver garotos e garotas vestindo e considerando ultra-moderno o que já era démodé antes deles nascerem. É no mínimo curioso. Isto é incrível!

O som do mercado era aquele característico. Tum! Tum! Tum! Yéééh! Tum! Tum! Tum! Estou totalmente acostumado. Meus dois neurónios já estão ambientados desde o último festival de música eletrónica. Dançam e raciocinam no ritmo. Eles aceitam de tudo. Techno, house, rock, trash, rap, pagode, punk rock, hard rock, axé, jazz, sertanejo, forró, Éguinha Pocotó... Nããão! Isto não! Tudo menos isto.

Mudando de alhos para bugalhos, não estou mais tão só. Fiz amizade com uma vizinha. Somos bons amigos. Ela mora na metade do meu apartamento. O meu é o 18 e o dela, o 9. Helena é uma portuguesa legítima de Lisboa. Fala aquele português gostoso difícil de se ouvir por aqui nos dias de hoje. Mora igualmente sozinha e trocamos grandes idéias. Na realidade dividimos nossas solidões. Muito bom! Já temos uma filha! Calma lá. É a Laika. Sua cadelinha de dois meses. Está apaixonada por mim e me chama de pai. Dei-lhe um urso de pelúcia. E não é que a cachorrinha dorme com o urso!

Parece incrível, mas em uma metrópole como esta com milhões de habitantes uma amizade é muito difícil. Mesmo entre vizinhos. A maioria, no máximo, dirige um simples e gélido bom dia no elevador e olhe lá.

Esta crónica é uma homenagem a minha nova amiga portuguesa com certeza!

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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