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Contos-->O presente -- 10/05/2004 - 19:27 (Andrea Natali) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lucinha era uma menina esperta. Sempre atenta ao que estava à sua volta, reparava em tudo e em todos. Sabia até das conversas adultas. Para uma menina de 10 anos, percebia todos os problemas de seus pais, das dificuldades da vida e de um mundo meio distante para crianças da sua idade.

Morava numa cidadezinha do interior. Lucinha e sua família não tinham muitas posses, mas comiam e dormiam bem, numa casinha aconchegante. Viviam apertados, sem dinheiro para sustentar luxos e regalias, e por isso sua mãe ficava triste, pois não podia dar as belas bonecas que a menina via nas lojas da cidade. Todas muito caras. O orçamento da família era justo e não havia possibilidade de comprar uma boneca mais cara. Por isso, D. Lurdinha costurava as bonecas para a filha.

Lucinha, aparentemente, não se importava. Menina astuta dizia sempre para a mãe: “não se preocupe, mamãe, eu sei que você e o papai não têm dinheiro, quando a gente puder compraremos uma bela boneca”. Mas em seus sonhos havia uma boneca de plástico, que parecia um bebê, com os olhos bem verdes e grandes, como se lhe sorrissem. Sempre que ela passava na loja da cidade, pensava naquela boneca, brincar, dar papinha... Ah, se ela pudesse transformar uma moedinha numa nota grande, de valor alto!

Certa vez, uma tia distante da família voltou à cidade. Tia Elisa era uma senhora rica e viúva. Depois de ter perdido o marido, ela voltou à cidade onde nasceu, afinal seus filhos já estavam casados e não moravam perto. Por se sentir sozinha, Elisa retornou para montar um pequeno negócio e ficar mais próximo de seus parentes.

D. Lurdinha não gostava da tia de Beto, seu marido. Achava-na que não condizia com as condições da família e recebê-la em sua casa seria constrangedor. “Não vamos ter o que oferecer à tia Elisa; ela está acostumada a coisas finas, requintadas e eu só sei fazer o que comemos no dia-a-dia”, dizia ela ao marido. Mas Beto pedia à mulher que se acalmasse, afinal era de bom coração que viria à cidade, ficar perto de entes queridos.

No dia seguinte, Elisa foi à casa de Beto e Lurdinha. Foi bem recebida e ficou encantada com a menina Lucinha. Esperta, cheia de vida, enchia o ambiente de alegria!

Daquela vez em diante, Elisa visitava constantemente a família. D. Lurdinha ficava sem jeito, mas recebia a tia com toda a educação que lhe era peculiar, mesmo assim tinha suas restrições.

Um dia, Elisa resolveu dar um presente à menina que fazia dar altas gargalhadas. Como não sabia qual o gosto da pequena Lucinha, levou um dinheiro para dar a ela. “Lucinha, compre a boneca que quiser com este dinheiro. Escolha a boneca mais bonita e fique como um presente meu”.

A menina saiu em disparada pelo quintal feliz da vida! Pela primeira vez ia ter uma boneca de verdade e não aquelas bonecas de pano que a mãe fazia. Já sonhava em dar papinha, pedir ao pai para fazer um pequeno bercinho para brincar de ninar a “filhinha” e à mãe para fazer roupinhas e trocar sempre.

Mas sua mãe não ficou tão contente assim. Sentia-se devedora com a tia. Depois que Elisa abriu o pequeno restaurante na cidade, Beto fora trabalhar lá para poder pagar mais. Além de dar emprego à família, agora iria encher a menina de presentes? Ela jamais viveria na realidade. Começaria com uma, depois com duas e assim Lucinha não daria mais valor à família e somente aos presentes da tia. O marido a alertava que a menina sabia da situação e que Lurdes não precisava se preocupar.

Na tarde seguinte, Lucinha pegou aquela nota grande e foi até a loja de brinquedos para realizar seu sonho. A boneca que parecia um bebê iria ser sua. Ao chegar na loja outra criança saía com uma que seria igual à boneca de seus sonhos. Entrou cheia de vontade na loja e pediu para a vendedora:

- D. Joana, eu quero aquela boneca que parece um bebê!
- Mas você tem dinheiro? Não sabe que custa caro? – indagou a vendedora.
- Sei, mas minha tia me deu esta nota de presente e agora eu posso comprar! – respondeu radiante a menina.

A vendedora tinha vontade de chorar em ver tamanha alegria da menina. Meu Deus, pensava ela, logo agora não poderei realizar o sonho desta linda garota! A vendedora queria num passe de mágica fazer aparecer uma boneca novinha. Acabara de vender a última para uma cliente. E loja havia pedido poucas unidades, já que a boneca era cara, e fazer nova encomenda demoraria muito. Mas Joana tentou buscar uma nova saída e disse a Lucinha:

- Lucinha, e qual outra boneca você gosta?
- Ah, D. Joana, eu gosto daquela! Até já mandei meu pai fazer um bercinho para ela!
- Mas, Lucinha, aquela boneca é muito cara! Por que você não leva outra?
- D. Joana, a minha tia me deu uma nota grande e eu já sabia que poderia comprar aquela boneca, então eu não quero outra.

A vendedora não sabia mais como explicar à menina. Os olhos da pequena garota brilhavam na espera de seu grande sonho!

- Lucinha, é que a última boneca que tinha na loja, foi embora! A Dona Fernanda comprou para sua filha.

Lucinha era uma tristeza só. Por alguns instantes sentou no chão da loja e ficou olhando a nota que iria trazer o seu presente. Chorava porque queria aquela boneca. A vendedora tentou conversar com a menina em vão, pois ela saíra correndo sem deixar pistas.

Ao chegar em casa, todos perceberam a tristeza da menina. Tia Elisa, que estava junto com seus pais, tentou contornar a situação, mas não teve êxito. Mandou o motorista comprar uma boneca daquele jeitinho na cidade vizinha e prometeu a menina que daria o brinquedo que queria.

No dia seguinte, tia Elisa chegou com a boneca nova. Lucinha ficou feliz, mas a expressão no rosto dela não era de total felicidade. Mesmo assim, brincou a tarde toda com a boneca. Depois que a tia foi embora, D. Lurdinha foi ver como estava a menina no quarto.

- Filha, você não ficou feliz com o presente da sua tia?
- Fiquei mamãe, por quê?
- Seus olhos não dizem isso...
- Fiquei sim, mamãe, é muito bonita minha boneca!
- Mas não deu um belo sorriso quando abriu o pacote?
- Está bem, mamãe, vou dizer. É que essa boneca não igual a da loja!
- E o que a boneca da loja tem de tão especial? – indagou a mãe.
- É que aquela tinha o rosto igual da minha irmãzinha... E comprando aquela boneca eu ficaria lembrando da minha irmã e teria a sensação de brincar com ela! A boneca que a tia Elisa me deu não tem a cara da minha irmãzinha!

Lurdinha saiu desolada do quarto da filha! A menina só tinha dois anos quando a filha mais nova morreu aos seis meses de idade por uma doença que os médicos não conseguiram descobrir. Abraçou o marido sem dizer uma palavra.

Nunca mais se voltou ao assunto. Lucinha continuava a brincar com sua boneca favorita e a vida seguiu seu curso normal. Mas aquele presente nunca foi igual ao da sua imaginação, que lembrava com tanto carinho o rosto da pequenina que se juntou tão cedo ao Papai do Céu.



Andrea Natali
andrea.natali@uol.com.br
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