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Contos-->A CHAMA AZUL -- 11/05/2004 - 11:17 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fernando Zocca


Capítulo 1


- Por que, ordinário, você não agrediu alguém do seu próprio tamanho?
Renata, lívida, no começo da tarde daquele domingo, 24 de dezembro de 1961, numa das ruas centrais da bucólica Tupinambica das Linhas, caminhava murmurando ao vento, as tais palavras, causando certo desconforto nos vizinhos que já a consideravam, pelo frigir dos ovos, um tanto quanto pancada.
Ela saíra dum almoço no qual, com outras nove pessoas, comemoraram, antecipados, a chegada de mais um natal. Sua minissaia cinza e o ajambrado da blusa clara, davam certo sinal pros contíguos, que tal figura não seria corriqueira e que poderia causar problemas.


Capítulo 2


A mesa estava quase posta quando Renata entrou, sozinha, naquela cozinha enorme. Havia duas mulheres, suas tias, que parolando alegres, fritavam bifes na chama azul e forte do fogão novo.
Elas notaram a chegada da moleca, e depois que se entreolharam por sobre as lentes dos seus óculos, continuaram com as atividades e o nhenhenhém.
Um moço franzino vindo, pelo corredor longo, ingressou no compartimento e, dirigindo-se ao armário sem pintura, sacou de lá, um vidro de Biotônico Fontoura. A hipocondria fazia dele um consumidor inveterado também dos óleos de fígado de bacalhau, vinhos reconstituintes e pílulas do Dr. Ross.
Com suporte nos seus poucos anos de vida, e sentindo o clima amistoso do ambiente, Renata soltou-se; as palavras fluíam já com certa facilidade à sua consciência. E, tome blablablá!
Mas, a menina tremeu nas bases, quando ouviu uma das tias presentes dizer que tinham acabado de chegar, lá do deus-me-livre, o tal de Quincas Ducarteado, sua esposa, professora de longa data, e a filha Angélica. Eles estavam no quarto, preparando-se pro almoço.
A expectativa da entrada da tríade provocou pruridos na Renata que, agoniada, desejou sair correndo.
E lá vinham eles! Do fundo da passagem estreita o grupo compacto, caminhava ritmado, crescendo na retina da menina que, tensa aguardava a abordagem. Na ponta esquerda, da trinca em movimento, estava Angélica; no centro a professora arfante, e na direita, o Quincas todo sorrisos, carregando debaixo do braço direito um volume de O Garanhão do Harold Robins.
Os velhos amigos, da antiga vida devassa, dos botecos e trapaças, consideravam Quincas um sujeito brilhante. Naquele dia um aroma penetrante, de perfume raro, emanava da sua pele reluzente.
Angélica tinha a mesma idade que Renata. Seus cabelos, porém, eram pixains e seu nariz negróide evocava a miscigenação outrora havida, na família branquela.
A curiosidade da Renata a ouriçou. As meninas estranharam-se. Uma por ver uma coisa esquisita, e a outra por ser olhada com aquele olhar de quem nunca viu.
Porém, meu amigo, minha amiga, e senhoras donas de casa: como é que se poderia explicar para aquelas figuras, (e quem o faria?), com o nível de conhecimentos que elas tinham, naqueles dias, os segredos da genética, suas causas e efeitos? Foi por isso que o mal estar que ambas sentiram, tornou-se dominante e perene.



Capítulo 3


Depois de uns 30 minutos de conversa fiada, Angélica constrangida, arrastou pra um lado a sua mãe, e pra desabafar, segredou-lhe que Renata chamara-a de preta.
A teacher convocou Quincas e esse, assim que teve oportunidade, deu trela pra Renata, deixando-a mais à vontade. Todos se sentaram à mesa e quando então a mocinha, de minissaia cinza, falava praticamente sozinha, recebeu de repente, uma cortada terrível do Quincas que, por não ser besta buscou logo, a concordância dos demais presentes. Acudiu confirmando a opinião do Ducarteado, sua nobilíssima consorte, seguida pela anfitriã.
O constrangimento de Renata, que se calou, serviu pra lhe reforçar a sociofobia vicejante, a partir daquele momento, na sua personalidade.
O pai da recalcada chegou e, sentando-se participou do banquete. Nada lhe foi dito ou, por ele, perguntado sobre o assunto.


Capítulo 4


No dia seguinte, 25 de dezembro, a mãe de Renata pregou, com muito prazer, na parede da cozinha um quadro, que tinha ganho, na véspera, da comadre professora.
Era uma réplica enorme, da Última Ceia, do Leonardo Da Vinci.





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