Usina de Letras
Usina de Letras
154 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->À Beira do Lago -- 10/07/2003 - 23:50 (Luciano de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nunca tinha reparado como aquela parte da cidade onde fica o lago era bonita. Sentado no gramado, olhando o horizonte e a beleza do lago, seu olhar parecia estar dirigido ao infinito. Na verdade, estava dirigido para o passado. Olhando de longe, a impressão que dava era que ele estava a fazer uma reflexão de toda a sua existência. Avaliando cada etapa de sua vida, cada amizade feita, amores perdidos, glórias conquistadas com muito esforço.
Sentia um misto de alegria, orgulho de si mesmo mas ao mesmo tempo sentia uma certa tristeza.
Havia crescido. Tanto que aquela cidade, onde nasceu e foi criado, parecia agora muito pequena para as suas ambições, seus projetos de vida.
Olhou para o lago e para as pessoas que se divertiam nas imediações e concluiu que queria mais da vida. Mais do que, até então, a vida havia lhe dado. Ele merecia.
Seus amigos já não o viam mais como ha 5 ou 6 anos. "Você está diferente, não é mais o mesmo!" - dizia um velho amigo de infància. Ele não achava que havia mudado tanto assim, aliás, não achava que tinha mudado em nada. Continuava o mesmo rapaz de sempre, apenas um pouco mais velho, naturalmente. Mas na essência era o mesmo. Ele é quem agora via as pessoas, as mesmas com convivera durante anos, de maneira muito diferente.
"Como podem se contentar com tão pouco?!. Será que eles não querem mais nada na vida? Aquele emprego será que o satisfaz?" - pensava enquanto a imagem de seus amigos vinham-lhe à mente.
Lembrou-se de quando, ainda criança, ajudava o pai nos negócios da família. Família humilde, porém honesta e digna. Recebera uma educação exemplar do pai, isso não podia negar.
Mas viu-se profundamente triste quando percebeu que seus esforços nunca haviam sido reconhecidos. Acordava cedo, ia para a escola, e na volta ajudava o pai no pequeno comércio, até a hora que este encerrava seu expediente. Foi assim durante anos.
E quando finalmente se deu um grande acontecimento na sua vida, aquele momento tão especial, quando esperava ver nos olhos do pai o orgulho e ouvir de sua boca palavras que demonstrassem esse sentimento, afinal o filho entrara para a faculdade, o que viu nos olhos do pai foi uma certa indiferença, e o que ouviu de sua boca foi o silêncio. Nem uma palavra sequer. Aquilo o magoou profundamente. Com o resultado dos exames nas mãos, seu sorriso se desfez e foi para o quarto.
E agora estava ali, à beira do lago, lembrando-se daquele dia que era para ser o mais feliz de sua vida.
Por um instante deu-se conta que, em relação os demais irmãos, nunca havia sido privilegiado em nada. Sentia uma ponta de ciúmes quando via o irmão mais novo receber atenções que ele nunca tivera. Seus olhos se encheram d´água e tentou conter aquelas lágrimas que insistiam em rolar na face. Não conseguiu.
As pessoas que estavam por perto, divertiam-se como se nenhuma preocupação lhes perturbasse os pensamentos. Estavam alegres e felizes. Mediocremente felizes.
Estirou-se no gramado contemplando aquele céu incrivelmente azul. A brisa suave refrescava-lhe tanto o corpo quanto a mente conturbada. Sentiu que o vento levava para longe todas aquelas velhas mágoas. Ele as superaria, certamente que sim.
Tomou, enfim, uma decisão: deixaria sua cidade natal e partiria para a cidade grande. Definitivamente, não cabia mais ali.
Certo de sua decisão, levantou-se e caminhou tranquilamente para casa. Não sabia como a família iria reagir à decisão tomada, tampouco lhe importava. Seguiria agora a sua vida, construiria sua própria história.
Chegou em casa e foi direto para o quarto arrumar as suas coisas, antes que ele próprio mudasse de idéia. Estava decidido a não se deixar influenciar por pequenos dramas familiares. Arrumou a mala colocando mais do que suas roupas. Colocava também todas as suas lembranças acumuladas até ali.
Quando abriu a porta do quarto, a mãe estava sentada à pequena mesa da cozinha, descansando de uma dura jornada. O pai fazia-lhe companhia tomando uma xícara de café recém passado.
Ambos ficaram surpresos ao ver o filho com a mala nas mãos. Ele calmamente comunicou-lhes a decisão tomada.
A mãe ficou com os olhos marejados quando o filho aproximou- se e deu-lhe um beijo na testa. O pai continuava com aquela irritante indiferença. A mesma daquele dia quando recebera os resultados dos exames para entrar para a faculdade. Dois momentos importantes de sua vida, e o pai não esboçava qualquer reação.
Despediu-se da mãe com um caloroso e demorado abraço. Orgulhoso de si mesmo e da resolução que havia tomado, fitou o pai nos olhos, e tão frio quanto este, estendeu-lhe a mão em um cumprimento rápido e mudo.
Na saída encontrou o irmão que o ajudou a pór a mala no carro. Abraçaram-se demoradamente e ambos com lágrimas nos olhos, despediram-se.
Enquanto dirigia e deixava para trás a pequena cidade, deixava para trás também todas as tristezas. Começaria, enfim, a sua verdadeira vida. Começava, agora, a escrever uma nova história.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui