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Todos os direitos de: José Antônio de Sá-Registro BN N. 333.617
Obs: A Parte I se encontra publicada na data de 28/08.
O CONSELHEIRO DOS SONHOS
PARTE - II
O velho olhava para o rapaz enquanto ele pensava, e falou.
- Vi que você falava com você mesmo e entendi que você é um estranho e que nunca havia penetrado nas leis da vida. Senti que você tem paciência para resolver seus problemas, e a paciência é que faz o melhor, e o melhor meu coração sentiu ao ler em sua face. E assim digo que sua vontade de percorrer os caminhos da vida é grande, mas sua coragem é pequena. Só lhe resta superar seu medo e seguir atrás de sua liberdade. A liberdade é que nos deixa agir, e é somente agindo que se consegue o que se quer. Toda batalha é uma grande luta, mas com as leis da vida será uma batalha de paz e não de sangue.
- Preciso ir, disse o velho, mas antes vou lhe dizer mais uma coisa:
-
- Procure tomar cuidado com todos aqueles que de tão invejosos que sejam venham a destruir seu sonho, pois neste mundo eles são como os conselheiros do universo que se fantasiam para testá-lo, e é por isso que lhe disse que você precisa estar bem preparado. O mundo é mágico, e nele existem muitas magias onde muitas delas podem arruinar sua vida, mas se você souber se defender jamais isso lhe acontecerá. Mesmo assim saiba que toda vitória ou derrota tem seu destino, e quando ocorrer a vitória continue a fortalecê-la. Tudo no mundo tem vida, e só sobrevive com o alimento que temos a obrigação de dar-lhe. E tudo tem o alimento que lhe fortalece, e só alimentando sua vitória para se ter a segurança precisa. Por outro lado, a derrota também tem seu alimento que são suas esperanças. Quanto mais lutamos para corrigir o erro cometido, mais se tem a esperança de corrigir. Então não existe razão alguma para tamanha preocupação: sempre existe uma solução para todas as coisas. E para você deixo estes manuscritos que escrevi por anos e anos da minha existência, e com eles entenderá mais ainda o segredo da vida. E lhe desejo boa sorte e que um dia haveremos de nós reencontrar para festejarmos sua conquista. E deu um abraço no Rapaz.
O Rapaz não conseguiu segurar suas lágrimas e o velho mais uma vez falou:
- As lágrimas são como um rio de águas salgadas que dá inicio aos oceanos e, em alto mar, encontram-se os festejos dos ventos que, com muitas das vitórias, se reúnem para festejar uma boa ação cumprida em solo. Então veja: para cada boa ação que pratiquei sempre existiu um sorriso, sempre consegui realizar mais um sonho, mas neste momento não estou sorrindo porque ainda não consegui realizar este sonho que é ver você realizar o seu próprio sonho. O seu sonho também faz parte de minha vida, e assim lhe peço que me ajude, e faça este seu sonho se tornar realidade, nem que tenha que fazer todo o esforço de sua vida, mas não se destrua. Faça como seu coração lhe pede e descubra todos os segredos que ele tem a lhe dar. Abraços. Estou indo.
E foi-se o velho seguindo seu caminho.
Já era quase o fim da tarde. O sol ainda iluminava as colinas com uma luz amarela-avermelhada. Os pássaros voavam no céu. O Rapaz feliz olhava as paisagens ao seu redor. A felicidade se fazia presente e sentia uma explosão suave em seu coração.
- Nunca senti nada igual, falou de si para si. É maravilhoso sentir toda esta força. Sinto-me tão feliz, e também me sinto triste. Sinto-me feliz por estar cumprindo minhas leis, e me sinto triste por saber que muitos não procuram suas leis e não tem uma vida feliz como a minha. Observo toda esta beleza, o ar puro, o silêncio que em poucos lugares reina, e com ele aprendo a comunicar-me melhor com as leis da vida. E neste momento meu coração explode de amor. Preciso dividir todo esse amor com alguém. PRECISO DE UMA MULHER AMADA
Manuscrito: Amada
“Para se ser feliz não basta ter todo o dinheiro do mundo se você não tiver a quem amar. E quando não se tem uma pessoa amada seu coração lhe trai. E quando os corações traem é porque eles também foram traídos, e traições para eles é como a vida, onde despedidas têm fim, pois uma pessoa amada é aquela pessoa que de tanto amor que tenha no coração chega a dividi-lo com aquela que seu coração lhe diz que é realmente ela que você deve amar. E jamais deve recusá-la pela falta de beleza ou segurança que ela possa lhe trazer, pois a verdade sempre foi uma só, e é dita como os ocorridos que de tão perfeitos que sejam eles poucos descobrem a verdade que ocorre em certos destinos. Por isso lhe digo: procure sempre fazer o que seu coração lhe diz e jamais contrarie toda a verdade que lhe passar. E aprenda a viver com o que a ele pertence. Os corações sabem a qual coração se juntar, e jamais troque uma pessoa amada que você só consegue amar, por uma beleza que você só consegue ter prazer, porque o Amor sempre teve mais prazer do que a Beleza”
O céu começava a escurecer. O brilho da lua é cada vez mais forte. O Rapaz parou próximo a uma árvore. Ele gostava de ouvir o balançar dos galhos durante o sono. Já estava acostumado. Para ele era como uma orquestra ambiental. O vento e as árvores sabiam se amar.
O Rapaz comeu uma refeição leve, arrumou seu saco de pertences e se deitou, pondo a cabeça sobre o mesmo, e ficou olhando para as estrelas. Sempre ouvira seu pai dizer que acreditava que elas, as estrelas, eram pessoas falecidas que ao morrer viravam estrelas. Por outro lado, sabia que não era verdade, mesmo assim gostava de acreditar porque a história era bela e lhe fazia bem durante o repouso. Logo depois adormeceu. Durante o sono sonhou que um dia conseguiria escrever um grande livro. Sonhou que seria um grande escritor e que as pessoas se apaixonariam pelo que escreveria.
Amanheceu feliz. Acreditava em sonhos, e muito mais ainda em si. Acreditava que as leis da vida eram a força que dominava o mundo e que ainda respeitavam a tradição, pois fora criada pela mão que domina o mundo. Sentia-se seguro ainda mais. Já penetrara muitas vezes nessa verdade. Sentia e se orgulhava. Sabia que existia muito além da nossa existência, e que era muito difícil de se compreender porque, para a mão que domina o mundo, não foi fácil criar o mundo e, para nós, também não será difícil realizar nossos sonhos.
NADA QUE FOI POSTO AO NOSSO ALCANCE É IMPOSSÍVEL, pensou.
Manuscrito: Jamais Desista
“Em tantas coisas que existem ao nosso alcance sempre foi preciso criar coragem e força para alcançar o que planejamos por longos anos. Não seria justo desperdiçar tão brilhantes idéias. Idéias que um dia se tornariam brilhantes vidas, que aconselhariam uma nova maneira de viver para muitos dos que há tempo jogaram fora tão brilhantes idéias, pois hoje se vê um tão grande número de vidas que há muito tiveram grandiosas esperanças de dar, não só para si como também para quem muito ama, a segurança precisa.“
Continuou a viagem. Olhava para os campos verdes e sentia o saudável ar puro da manhã. Sua alegria era maior do que a alegria de outras manhãs: o ar puro lhe fazia feliz. Tinha amor pela natureza. O sol já se punha ao meio céu quando chegou a um pequeno povoado. Parecia deserto. Quase não se via ninguém, apenas uns poucos homens sentados na porta de alguns estabelecimentos. Entrou em um deles e viu um senhor barbudo atrás do balcão. Foi ao seu encontro e perguntou:
- Sou um viajante. O senhor poderia me informar em que povoado estou?
- Aqui é o Povoado dos Mineiros. Aqui quase todos trabalham na mina que fica morro acima.
- Obrigado. O Rapaz agradeceu, e mais uma vez disse:
- Preciso de uma refeição, mas que seja à altura que eu possa lhe pagar. Estou precisando economizar no pouco que tenho.
- O homem entendeu e pediu que ele esperasse que logo seria servido, e que não se preocupasse porque naquele povoado todos compreendiam os problemas uns dos outros.
O Rapaz ficou feliz, pois seu coração sempre que recebia uma resposta onde o amor estivesse presente uma onda de felicidade penetrava em si. Mais feliz ainda ficou porque iria saborear uma refeição diferente que há muito não saboreava. O senhor barbudo apareceu e trazia em uma bandeja um saboroso guisado de carne fresca. Era realmente algo muito apetitoso que o rapaz comeu até ficar satisfeito e, satisfeito, agradeceu e saiu. Foi descansar na pequena praça central do vilarejo. Olhava os comerciantes sentados a espera dos mineiros. Uns pensavam, outros conversavam em grupos fazendo com que o tempo passasse e o fim da tarde chegasse com seus famintos e sedentos mineiros. O rapaz ouvia a conversa em silêncio. Falavam de lugares distantes onde as ruas eram sempre movimentadas e as pessoas andavam de um lado a outro procurando resolver seus problemas do dia a dia. Para eles era uma vida muito estranha, embora falassem deste assunto, mas pouco se interessavam. Sabiam que jamais trocariam seu pequeno povoado por qualquer outro lugar que fosse. Amavam o silêncio do dia e da tarde e já se acostumaram com o barulho dos mineiros durante a noite. O rapaz gostava de ouvir histórias e um dos comerciantes contou uma história que muito o emocionou. Era a história do vendedor de laranjas.
O Vendedor de Laranjas.
Certa vez, um vendedor de laranjas se estabeleceu pela primeira vez em uma feira onde se via uma grande sujeira de detritos por todos os lados, e seus feirantes apresentavam frutas e verduras de péssima qualidade. Mas o vendedor de laranja, que tinha suas qualidades, vestia-se à altura que podia. Suas laranjas eram belas, suculentas e doces. Ele achava que o que interessava era o bom atendimento e as frutas de boa qualidade. Já os outros vendedores pouco se importavam com isto. Apenas procuravam vender suas mercadorias e repetir o mesmo no dia seguinte. Para eles todos os dias eram iguais. O vendedor de laranjas não entendia por que os compradores preferiam comprar as laranjas dos outros, que eram sujas e amargas, a comprar as suas, que eram belas, suculentas e doces. Eles olhavam-no como a um estranho num lugar estranho. Embora as laranjas fossem de preços iguais e de maior qualidade, ele não conseguia vender. Assim, o fim do dia chegou e o vendedor nada vendeu. Quanto aos outros, venderam de tudo. Quando já se preparava para ir embora e pensava dizer para a esposa que nada vendera porque fora o primeiro dia, um senhor idoso chegou perto e perguntou.
- Essas belas laranjas ainda estão à venda?
- Estão, respondeu o vendedor.
- Porque tu vendes tão belas laranjas em um lugar tão sujo como este ao invés de em um outro lugar?
O vendedor de laranjas pensou por um instante e respondeu.
- O lugar onde se vende não importa. O que importa é o bom atendimento e a boa qualidade do que você vende. E como estas minhas laranjas são tão belas, suculentas e doces, eu não consigo compreender a razão de eu não vender uma única laranja nesta feira, enquanto que os outros venderam de tudo. Eu não entendo. Não entendo mesmo. E baixou a cabeça em sinal de tristeza.
- Ficar triste não resolve o problema, pelo contrario, aumenta, disse o senhor, e continuou:
– Existe qualidade para todas as coisas, e todas as coisas funcionam melhor com suas devidas qualidades. Por isso eu lhe digo que o lugar destas belas laranjas são em lugares onde existam suas qualidades, ou seja, lugares mais limpos como você. E entenda que essas pessoas que freqüentam esta feira já tem suas qualidades, que são seus costumes, e para elas a melhor qualidade é as que combinam com sua maneira de viver. Eles têm seus direitos e criam suas próprias leis. Não esperam mudanças até que suas situações de sobrevivência mudem para melhor.
O vendedor entendeu e pediu que o velho levasse quantas laranjas quisesse em agradecimento.
O velho, ao ouvir o vendedor dizer aquilo, disse.
-Levarei todas estas belas laranjas.
O vendedor ficou assustado, pois eram muitas laranjas e gastara boa parte do pouco que tinha para comprá-las. Achava que estava sendo enganado pelo velho, mas como já havia dito que ele poderia levar quantas laranjas quisesse nada mais poderia fazer, então disse:
- Não entendo porque o senhor me cobrou tão caro por um conselho, mas como não sou injusto dou-lhe todas as laranjas, mesmo sabendo que há injustiça.
- Não há injustiça alguma, disse o velho e continuou:
– Estás levando mais um conselho meu, e de graça: “Prestaste atenção em tuas palavras, e não confiaste em qualquer um”, e mais uma coisa te digo de coração: “Esse é o preço que se paga pelo sucesso.”, e foi-se embora com todas as laranjas sem nada pagar.
No dia seguinte o vendedor comprou novas laranjas belas, suculentas e doces, e foi vendê-las no lugar onde o velho aconselhara: limpo, e onde todos vendiam laranjas belas. Suas laranjas foram vendidas em tão pouco tempo e ele logo se lembrou do que o velho havia lhe dito.
“Esse é o preço que se paga pelo sucesso”, e sorriu.
