O RECIFE E SUAS INTERCORRÊNCIAS
por Carlos Jatobá
Iniciei a escrever, de oitiva, nas oitavas que precedem a páscoa do segundo ano da graça do terceiro milênio.
De uma feita: Escrevia. Parava. Escrevia. Parava. Quando me dei por conta, o Recife estava naquele nasce-não-nasce das alvoradas de agosto, onde - em suas versões subtropicais - o inverno se foi e a primavera ainda não chegou.
De outra feita: Deparava-me, lá pelas horas de véspera, com o encontro das águas dos rios Capibaribe e Beberibe parecendo-me um só corpo, uma só alma, visto não haver como distinguir um do outro no emaranhado de suas intercorrências.
Diante desse cenário, senti-me - premido pelas circunstàncias - nomeado escritor ad hoc para retratar meus sentimentos pela cidade onde nasci. Sem ressaibos de terminologia filosófica ou estrangeira e com a simplicidade daquele que fala, reproduz e repete lógica e gramaticalmente. Porém, adicionando-lhe a sagacidade daquele que sente, cria e recria alógica e agramaticalmente; ultrapassando as limitações naturais coadjuvadas pelo lapsus calami.
Apesar de não ter a opulência verbal de um Rui Barbosa, nem o aticismo de um Machado de Assis; tenho a vontade de escrever, uma idéia sufocada por um aluvião de outras tantas que me vem à mente. Contudo, cuidando-me para que tal não soe tão falsamente quanto a célebre "pergunta": - Sabe com quem está falando?
Contudo, esta peça é fruto de um esforço modesto e indefectível. Não adepto de uma modernidade literária que nos impinge figuras como: "homens histéricos e mulheres de saco-cheio". Ausentes de fogo e de estro, próprios de uma literatura de soslaio. Donde é muito comum ver e raro observar.
Porém, mais do que o Pessoa que tinha o rio de sua aldeia, tenho eu os rios de minha cidade: Capibaribe e Beberibe, para debruçar-lhes a pena.
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