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Cronicas-->Forrozando com você -- 13/07/2003 - 18:14 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Faz frio. A lua brilha medrosa no céu. É junho. Já é tradição a festa "Forrozando com você". Um brinde aqui, uma fogueira ali, muitas barracas. Cada qual com o mesmo objetivo. Ganhar o valioso prêmio do primeiro lugar. Precisam vencer todos os quesitos do regulamento. Do outro lado, o rio majestoso, corre lento. A cor da água azul se contrasta com coloridos brilhos. Na margem oposta, luzes refletem na água, acusando o silêncio da cidade vizinha, ninguém lá, todos cá. Muita gente, caras e bocas que se beijam, se tocam num silêncio mudo a ouvir o choro da sanfona e o repique do pandeiro. Pessoas andam pra lá e pra cá, dançando, brincando, liberando emoções. O sanfoneiro pressente o gosto do público e nas alças da galega dá um show, mote para a saudade. Notas musicais se desafiam no ar ao brilho do foguetório enfileirado refletido na água do "Velho Chico". Em cada quadrante da área de evento, um casal ensaia um balanço aqui, outro busca um ritmo alí, frega-esfrega, no rosca e rela, desejos incontroláveis. No mesmo ar, um cheiro gostoso de quentão, chocovinho, pipoca na manteiga, acordam órgãos adormecidos. No cabelo da mulata o perfume "francês" dá lugar ao odor do churrasquinho assado na brasa. Narizes se aninham no emaranhado dos fios sem se preocupar com isso. Noutra ponta, abrem-se passagem para a entrada do casamento na roça. De roça mesmo, nada. Calça remendada , camisa xadrez e chapéu de palha tentam reproduzir o caboclo sertanejo. Os organizadores nem percebem que o sertanejo não se veste assim. Ele procura a peça mais bonita do seu vestuário para homenagear o Santo do dia. O progresso chegou e muitos ainda presos a um passado distante, nem notam a mudança de costumes.
Parece-me que o santo casamenteiro cochila um pouco. Há ralos casamentos e fartas separações, se bem que ele só tem o compromisso de casar e não o de mantê-los casados para sempre. Poderia ser para a eternidade mas os homens, escassos de carinhos, angustiados, desempregados, falta-lhes um tesão de viver. Mesmo assim os queremos por perto, fazendo nosso corpo arrepiar, umedecendo nosso sexo a gemer de prazeres silenciosos. Distantes, nos causa melancolia e saudade. Num papo animado das jovens moças, cada uma conta a simpatia que fez com Santo António: ferveu o santo na panela de pressão, outra vestiu o santo de gay , outra levou sua varinha e "varona", outra ...
São tantas aberrações maiores do que a própria fé. Cada absurdo, falta de Deus. Inesperadamente uma das moças fora convidada a dançar por um rapaz. Mais tarde voltou ainda acompanhada dizendo:
- Vou para casa trocar a roupa do Santo. Nada de vestimenta gay. Trato é trato.
Foi uma gargalhada só, com pontinhas de inveja.

Juraci de Oliveira Chaves

Pirapora MG 24 de junho de 2003.
www.jurainverso.com.br ( aqui texto ilustrado)

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