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Faça-me!
Com rodelas de limão,
dividido em lascas de um picante
e azedo clamor.
Erga-me!
Em taças de grande
e incorruptível poder de embriagues.
Leve-me até seus lábios,
rachados e machucados,
pela alimentação vil a que submete-se,
e que te engole,
e que aos poucos te censura.
Beba-me!
Sorva-me!
Entupa-me!
De teu salivar ocre.
Pois hoje,
diante de teus olhos fracos,
hei de derramar minha presença
dentro de sua infinita goela abaixo.
E de lá,
crepitando como brasas,
ardendo como chamas,
vou causar-te as piores dores,
mas igualmente,
abrirei os juncos de tua mente,
e maldito e sagrado,
me infiltrarei nos poros
de teus mais inaudíveis
e submersos sentimentos.
E quando lá estiver,
boiando em sua mente,
quererás tomar-me para ti,
beijar-me até ao fim,
ganhar-me por inteiro.
Mas por decerto,
polido e decentemente ordenhado,
tu é que a mim,
já pertencerás!
E no cingir da noite,
quando meu poder de sedução
for se findando e sublimando...
Quando caído o deixarei
e levantado partirei,
buscarás como um louco,
mais um teor,
mais um chamego,
nos goles, nos beijos
e nas lambidas de beiços,
que esperas por mim
novamente afundar-se.
Eis que ali estarei,
o sagaz líquido,
chamado Álcool.
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