Eu sempre fujo das pessoas perigosamente normais. Por isso, toda noite, quando fecho os olhos para dormir e coloco meu cérebro no travesseiro de flores e estrelas, Deus acende seus belos refletores de vertigem sobre mim. Então, poeticamente, vejo no verso das pál-pebras a última imagem do dia glorioso que acabei de viver. Aconte-ce que, para dormir, tenho antes que acordar, em todos os sentidos. Portanto, não conto ovelhas - eu conto lobos. Mas nem sempre foi assim. Houve um período em que Deus me abandonou. Esqueceu-se de mim, cobriu-me de misérias e de dor. Quase morri. Mas nunca cheguei a rezar: não tive coragem de humilhar-me perante Ele. Rezar é rebaixar-se. E talvez por isso - por meu intenso orgulho de herói - é que Deus agora me respeita tanto.
Fico pensando no que acabei de dizer.
Quando você deixa de amar alguém - e continua com esse alguém - não é apenas esse amor que acaba morrendo: é tua própria capacidade de amar que apodrece.
Sou observador. Tem dias que vejo uma procissão de formigas em direção a um saco de lixo - e me lembro de vocês: trabalhando, cumprindo horários, correndo muito, seguindo regras tolas, mansos, ordeiros, pacatos, oprimidos em grupo, submetidos, uniformizados.
U-ni-for-mi-za-dos.
- E sendo "felizes", cada um à sua maneira...
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