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Cronicas-->OS VELHINHOS NA VARANDA -- 18/07/2003 - 15:55 (Hilton Görresen) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A crónica de hoje está um pouco sentimental. Aliás, é um direito que assiste à crónica. Tem ela uma gama de níveis que vão do jornalístico ao puramente literário. Às vezes, a crónica resolve falar dela mesma, num processo metalinguístico (é o que estou fazendo agora).
Dito isso, vamos aos fatos. Numa manhã de domingo, praticando minha caminhada, passei por um casal de velhinhos, refestelados em cadeiras de palha, numa varanda rente à calçada. O homem tinha os cabelos brancos, abundantes nas têmporas, e o queixo fino, dando ao rosto uma forma triangular. A mulher era uma senhora magrinha, o rosto cruzado por rugas antigas. Não notei o tipo e as cores das roupas, não sou ligado nessas coisas. Costumo fixar-me em gestos e comportamentos.
Que faziam eles, refestelados na varanda? Ouviam música, o rádio ligado num programa dominical de música alemã.
Sou meio sentimental. Fico me apropriando dos sentimentos dos outros, com saudade de coisas e de um tempo que não vivi. E logo os imaginei recordando um agradável dia de maio, há muito tempo. A jovem Erna com o rosto luzindo de saúde e felicidade em seu vestido branco, coroada de rosas alvíssimas. Adolfo desajeitado num terno escuro, sem saber onde enfiar as mãos rijas e calosas (como vê, leitor, já inventei até nomes para o casal). A casa ampla, cercada de varandas, em plena festa: parentes vindos da colónia, crianças tesas em suas roupinhas engomadas. Durante a semana haviam matado um porco enorme, degolado e depenado dezenas de galinhas. No quintal, uma barraca de lona atulhada de barris de chope. O sanfoneiro Jeremias puxando animadas polcas. E a valsa? Ah, a valsa. Uma valsa barulhenta, compassada, Adolfo rodopiando com a sogra, a velha Gertrude. Depois a foto oficial dos noivos, ainda hoje pendurada na parede, em moldura oval. Quanto tempo já se passou... Nessa hora, tive de suspender o texto e ir passar uma água nos olhos, já um pouco ardidos, úmidos.
Pombas, e se o casal não estivesse relembrando bulhufas? Possivelmente estavam apenas curtindo a música. Preciso parar de ser tão sentimental.

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