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Cronicas-->A proposta indecente -- 18/07/2003 - 19:51 (Raul Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A proposta indecente

(para Natanael Gonçalves)

Era uma dessas segundas-feiras que nos obriga a saltar da cama cedo para enfrentar o batente de sempre, depois do ócio do fim de semana. O tempo estava densamente brumal. O horizonte, fechado, plúmbeo. A mulher e os dois filhos pequenos dormiam. Nossa secretária, desde sexta-feira, quando saíra queixando-se de fortes dores no pescoço, não dera o ar de sua graça. A pia estava cheia de louça de véspera. Adentrei meu surrado Ford Ka adquirido através de consórcio, graças a Deus, quitado. Segui por uma trilha de chão enlameada até pegar o asfalto com o propósito de fazer o desjejum no Romeu Caldas, pois moro na periferia. Chovia fortemente nas imediações daquele mercado, outrora ponto de encontro das donas de casa, hoje em forte decadência com alguns boxes com poucos produtos nas prateleiras. Notei um velho e vergastado Fusca ao lado de um Corcel II, entre outras viaturas. Consultei se os dois reais estavam na carteira (minha mulher, amiúde, retira dali até os centavos). Em disparada alcancei a soleira da enorme porta. Recompus-me. Ao virar para esquerda, deparei-me com Fernandez, o arquiteto, saboreando um refresco de maracujá com um pastel de carne. Cumprimentei-o e busquei uma mesa vazia no boxe adjacente de uma senhora simpática com os seus óculos de lentes grossas e rosto redondo. Ao balcão, sobre um banco de pernas longas, de costas, Natanael, o causídico, que, ao ouvir-me a voz, voltou-se e, dirigindo-se à minha mesa, cumprimentou-me com forte aperto de mãos. Fernandez, espontaneamente, após Natanael, sentou-se também. Ali estávamos, os três enleados pelo velho costume da "da velha república de estudantes": eu, Manaus; Fernandez, Belém e Natanael, Rio de Janeiro. Todos profissionais seniores de longa labuta e com semelhantes condições sócio-económicas, fundadas peremptoriamente na milenar, mas hoje tão aviltada e desmoralizada virtude: a honestidade. Entre haustos de refresco, café e mordidelas no pastel, eis que Natanael, olhando-me de través e fixando-se em Fernandez, com uma boa dose de ironia, comentou:
- Este Pedro é "perigoso"... Veja que deixou muitos corações partidos em Belém! Aliás, diga-se, é um dos poucos que se salva na profissão que abraçou, afinal todo arquiteto é chegado a trejeitos minimamente destrambelhados!...
Risos!... - Em seguida, ainda Natanael:
- Raul, tu és engenheiro, Fernandez, arquiteto... Por que, aqui, nas construções, principalmente nas populares, se utilizam baldrames de tijolo?... Não é essa a causa da umidade nos rebocos? - Eu que já respondera didaticamente em outra ocasião ao inquiridor, resguardei-me. Pedro, porém, lhe deu suas explicações... - A conversa tomou outro rumo:
- Vocês leram minha crónica, "A proposta indecente?" - Sugeriu Natanael e em prosseguimento: já havia escrito algumas boas contra o descalabro público enquistado no paço, mancomunado com dois ou três conhecidos órgãos da administração indireta. Eis que, naqueles dias, abordou-me um empresário conhecido de muitos pelo seu apelido carinhoso: Fininho, aproximou-se com seu trejeito de felino vulgar, olhou-me o velho Fusca e propós-me um carro zero!... Ora, ora!... No outro dia... Lá estava estampada mais uma de minhas Cronicas: A proposta indecente!...
- Olhei o relógio, entreguei à garçonete os dois reais, pedi permissão e sai apressado.
Ainda chovia...
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