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Cronicas-->Perdido na Metrópole (25) Aventura Mineira -- 18/07/2003 - 23:22 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Seis da manhã. Acordei apavorado. Pesadelo. Genival, meu computador, Mafalda, a geladeira, Epaminondas, o forno e Adilsom, meu rádio me atacavam ferozmente. Por que?

Quando criei estas personagens, companheiras de meus dias, não notei que representavam parte do meu inconsciente, dos problemas de um passado não totalmente digerido. Refletindo sobre as imagens que acabara de presenciar dormindo, tomei as rédeas da situação. - Quem manda aqui sou eu!

Vivemos assim. Em uma eterna luta com os nossos problemas. Por nós mesmos produzidos. Por que não tratá-los com bom humor? É o que tenho feito.

Recuperado do susto, com a cachola no lugar levantei às pressas. O Yslauss, banda de rock pop da qual sou assessor, estava com viagem marcada. Show em Minas Gerais. Requisitado para vender os ingressos da apresentação deixei o escritório, meu habitat. Levei o Adilsom. Gosto de rock, mas não sobrevivo sem minha MPB.

Uma das coisas boas de excursionar com o Yslauss é descansar da metrópole sem deixar de ser um perdido seja onde for. Ao embarcar, Adilsom a tiracolo disparou.
- Arruma espaço na van. Aqui tá dez!

No Yslaussmóvel para enfrentar trezentos quilómetros ensaiei uma soneca. A banda conversava ouvindo rock´n roll no último volume. Meu neurónio esquerdo ouvia heavy metal e o direito bossa nova. Paramos para um rápido café na divisa dos dois estados em um daqueles simpáticos restaurantes de estrada. Os mineiros (boa parte pelo menos) adoram falar no diminutivo e não complementam as palavras. Tomamos um café bem quentim e prosseguimos rapidim. Uai!

A estrada não acabava mais. Mudei de posição umas duzentas vezes.

Chegamos! O produtor estava lá a nossa espera, há três dias cuidando de todo o evento. A cidade em questão é a sede do nosso fã clube, o Yslauss Minas e graças ao esforço das meninas que o criaram o evento tomou corpo.

Fomos conhecer o hotel, tipo Trem das onze (porta e janela, porta e janela...). Vislumbro meu quarto. Noto duas camas. O neurónio esquerdo, ainda sob efeito do heavy metal da viagem, concluiu que alguém dormiria no mesmo recinto. Sou obrigado a contar que um dos integrantes da banda ronca muito. É impossível dormir em paz com aquele misto de trator, britadeira e festival de música eletrónica ao meu lado. Como sou lerdo, no momento fatídico da escolha dos apartamentos, ele sempre sobra para mim e a turma tira o maior sarro.

Hora do rango. Caldo de mandioquinha com carne, acompanhado de pão e batatas fritas. Tudo muito caro: R$ 1,50.

Do restaurante observamos a entrada do salão. A aglomeração era enorme. Entramos na secretaria do clube e fomos recepcionados com frieza. Estava acertado que a agremiação teria direito a 20% da bilheteria. Os responsáveis pelo clube (penso eu) partiam do pressuposto que sairíamos correndo, a qualquer momento, com cada centavo. Quatro fiscais para nos vigiar. Com o tempo demonstrei não ser um gangster.

Os três pequenos guichês foram abertos. Guerra por Convites III - A Missão. Muita gente para pouco espaço no caixa. Loucura total! Tomado pelo desespero, não sabia o que fazer. Absurdamente atrapalhado pegava o dinheiro do cliente, destacava o ingresso, entregava o dinheiro de volta e guardava o bilhete. Com o tempo organizei a bagunça mental. Tumulto. De uma mocinha, em um dos cantos da bilheteria, eu só conseguia ver a boca espremida tentando berrar.
- Um ingreeeeeesso poor faaaavooor!

Em meio a toda aquela confusão do lado de fora percebi o nosso vocalista dando uma de segurança e organizando a fila por conta própria. Não tinha outro jeito. Colocou ordem na casa. O produtor, mais tranquilo do que eu cuidava de tudo ao mesmo tempo.

Eu contava a bufunfa, fazia montes de mil reais e colocava na minha super 007. Os 20% interessados vigiando a todo o instante. Olhavam dentro da mala, dos meus bolsos... Não desgrudaram um momento sequer. O que salvou a pátria foi o auxílio das garotas do Yslauss Minas. Resolvemos fechar o caixa. Eis que surgiu o presidente do clube. Contou pessoalmente nota por nota. A festa rolava solta no salão. Recontou três vezes. Uma de nossas parceiras locais, sócia da agremiação desde criança, notou algo estranho e pediu um recibo. Sem qualquer pudor o presidente explicou que 10% do arrecadado seriam entregues à associação e os outros 10% teriam como destino os bolsos do filho. Nossa representante fincou pé e defendeu seus direitos. Isto não está certo! Eu continuava perdido feito cachorro em mudança.

Fomos para o palco. Ali estava a razão de toda a aventura. Salão apinhado de gente. Não cabia mais uma formiga fã do Yslauss. Todos cantando nossas músicas e pedindo mais.

Sentado em um dos cantos do palco observei a banda agitar a galera. Era o que realmente importava. O público satisfeito. Pagamos todas as despesas, que não foram poucas, e regressamos para o hotel com o dever cumprido.

Seis da manhã. Tentei dormir ao som de um agradável guindaste enferrujado com motor fundido.

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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