O RECIFE E SUAS NÃO-CONCORRÊNCIAS
por Carlos Jatobá
Recife, crismada por Gonçalves Dias como a "Veneza Americana".
Tobias Barreto decantou-a como uma "cidade valente, brio da altiva nação".
Ribeiro Couto, em nosso tempo, a viu como "Cidade-Menina" e, Paulo Torres a contemplou como mulher: "... uma mulher esguia e loura, mirando-se no espelho das águas do rio".
Austro Costa, sempre se perguntava: "Capibaribe, meu rio, que vida levamos nós? Tu corres, eu rodopio!".
Gilberto Freyre, nos idos dos 40, já acenava que: "O rio está ligado da maneira mais íntima à história da cidade. O rio, o mar e os mangues. Assassinatos, cheias, revoluções, fugas de escravos, assaltos de bandidos à s pontes, fazem da história do Capibaribe a história do Recife".
Domingos Carvalho da Silva sentiu o Recife como se fosse uma enorme embarcação, entre as garras do rio e os laços do mar: "A cidade corta as águas, como a quilha de uma nau".
No jornalismo a "Crónica da Cidade" (por décadas existente e na qual ora me inspiro) do "Jornal do Commercio", teve inicialmente a "trolha" de Mário Mello, sucedido pela "batuta" de Waldemar de Oliveira, ambos de irretocável enlevo e amor ao Recife no singularismo da inversão do "M" num "W", mantendo-na o mesmo cerne.
Na poesia, a cidade do Recife foi reinventada por Carlos Penna Filho, observando que: "A cidade foi construída, metade roubada ao mar, metade à imaginação, pois é do sonho dos homens que uma cidade se inventa!". Mauro Mota, assim expressou-se: "O Capibaribe compõe o Recife, o Recife compõe o Capibaribe com os edifícios marginais e os casarios semi-aquáticos. Levante-se a estatística: nenhum rio mais cantante e cantado. De Gonçalves Dias a Manuel Bandeira, de Joaquim Cardozo a João Cabral de Melo Neto.
(...) Dezenas de poetas nativos ou adventícios miraram-se no Capibaribe".
Num arroubo de camoneano amor, "qual fogo que arde sem se ver; qual dor que desatina sem doer"! ... , Ledo Ivo ficou fiel à esta capital:─ "Amar cidades, só uma: Recife!".
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