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cronicas-->Ópera-bunda (quarta-feira) -- 19/07/2003 - 13:12 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
.:: Prólogo - Segunda - Terça - QUARTA - Quinta - Sexta - Epílogo ::.


QUARTA-FEIRA

"Nasce um dia lindo pra sonhar..." - Sábias e belas palavras do poeta!!!

Uma manhã magnífica! O céu enfeitado pelo azul mais maravilhoso que há; a Chapada Diamantina voluptuosa, se erguendo com tal soberania diante de mim, que o horizonte, ao contrário do que me ensinaram todos os anos de vida litorànea, não ficava abaixo, mas acima; bem acima dos meus olhos!

As perspectivas daquele despertar tranquilo eram as mais positivas. Não havia dúvida que aquela seria a oportunidade perfeita para pór o roteiro em ordem: Rio de Contas pela manhã, Piatã à tarde, e outros dois longos dias para serem distribuídos entre as últimas três cidades. Tudo resolvido.

À noite, como derradeira iguaria de tão farto banquete de sensações: jogo do Bahia! Eu praticamente podia sentir, já àquela hora, o radinho de pilha vibrar de expectativa. E foi assim, com o espírito renovado e cálido, que cheguei à porta da filial. Eram oito e meia da manhã e Gogó já me aguardava de sorriso aberto - literalmente.

Como diz o ditado, gato escaldado tem medo de água fria, portanto, procurei me inteirar acerca dos horários dos ónibus para Piatã antes mesmo de começar o trabalho. Para minha alegria, por volta do meio dia saia um.

Não tive nenhuma dificuldade com as máquinas de Gogó e antes das onze horas já estava liberado. Fui, então, conhecer o prédio onde funcionava a filial. Uma construção incrível, de paredes grossas e pé-direito elevado. Ali - me disseram - funcionou uma antiga e famosa prisão no século XVIII: a Casa de Càmara e Cadeia. Nela, os presos mais "perigosos" da época eram trancafiados, torturados e esquecidos em uma sela térrea, enquanto os ilustres representantes da sociedade local se reuniam pomposamente no pavimento superior.

Com trabalho e passeio terminados, pude esperar o horário do ónibus tranquilamente. O simpático Gogó, inclusive, ligou para a filial de Piatã recomendando aos colegas de lá que me tratassem muito bem e me aguardassem na agência. Ficou certo, também, que um deles ficaria comigo até um pouco depois do expediente para que eu pudesse encerrar o trabalho naquele mesmo dia. - Fantástico!

Tudo pronto, visitado e acertado, almocei em um pequeno restaurante próximo ao ponto do ónibus e, por volta do meio dia, embarquei. A estrada era terrível. Nem asfalto, nem cascalho, nem areia e nem barro: só poeira.

E foi assim, chacoalhando na poeira e parando até em porta fechada de venda, que eu via a tarde ser vencida por aquele pedaço de chão febril. Porém, às quatro horas, em pleno mercado de Abaíra - distante ainda uma hora e meia de Piatã -, o motorista fez um pronunciamento nada solene aos seus meia-dúzia de passageiros:

- O pneu tá furado.

Aquilo não era possível! - Como assim, furado? - Me perguntava sem esperar resposta.

O dia, até então perfeito, começava a virar e a mim não restava outra alternativa senão ter paciência. Às cinco e meia da tarde, justamente no horário em que eu deveria chegar em Piatã, saí de Abaíra. - Sem saber, começava a etapa mais terrível de todo o roteiro.



§ § §


Apenas as estrelas davam luz ao céu quando, às sete horas, desembarquei em Piatã. Dei uma olhada em volta procurando alguém que se assemelhasse a um típico funcionário de filial, mas não vi ninguém. Mesmo assim resolvi tentar a sorte e ir até lá. - Em vão; não apenas a filial, mas toda a cidade parecia já estar fechada. Tomado por um furor quase incontrolável - e sem lá muitas alternativas -, voltei para a agência disposto a esperar o resto da vida pelo tal "colega".

Para a minha surpresa, porém, mal cheguei e lá estava ele. Jajá! Embora não o conhecesse, foi fácil deduzir que no meio de ninguém mais, aquela alma só poderia estar me esperando. Em prudente consideração ao rapaz, desfiz a cara amarrada e após alguns cumprimentos e comentários mútuos acerca do atraso do ónibus, partimos em direção à filial.

Ainda no caminho, entendi quão importante seria terminar o trabalho em Piatã naquele mesmo dia - ou noite -, pois, segundo Jajá, para ir a Barra da Estiva (próxima cidade do roteiro), precisaria embarcar às seis horas da madrugada no EMTRAN com destino a Boninal; trocar de ónibus, e só então ajustar o rumo e seguir viagem na direção desejada.

Face a urgência da situação, tratei de começar o trabalho imediatamente, afinal, como se não bastasse tudo o mais, queria assistir com calma - e pelo radinho - o jogo do Bahia.

Pois bem. Liguei o micro, verifiquei a senha do setup e fui configurar o autoexec. Fiz as alterações necessárias, "alt"; "a"; "r"; "enter" e pronto! O incrível aconteceu. O inacreditável, o impossível, o inusitado, o inédito, o jamais pensado e nunca, sequer, cogitado: faltou energia!!! Em plena noite escura da chapada, tive a sensação de estar no fundo de um poço negro e frio.

Não sei se para amenizar um pouco a situação, Jajá tentou me confortar:

- Aqui é assim mesmo. Acontece direto. - As palavras ditas por mim em resposta são impublicáveis.

Por cerca de trinta minutos esperamos o retorno da energia. Depois, Jajá me levou até uma pousada chulerenta e foi para casa dizendo que se a luz voltasse me buscaria para irmos novamente à filial. Estava atónito. Sabia que se não fizesse o trabalho naquele dia, teria que fazê-lo no outro, perdendo o ónibus da madrugada e tendo que ficar em Piatã até sabe lá quando. - Programão!

Pelo menos ainda restava o meu Bahia. E como todo bom torcedor, jamais perderia a resenha que antecede um bom jogo. Liguei então o radinho e - ótimo!!! - consegui ouvir mais de 20 emissoras de AM! Mas não a Sociedade! Aquilo não podia estar acontecendo. Rádios do Rio, de São Paulo, Minas e até uma emissora paraguaia anunciavam seus jogos: Flamengo, Corinthians, Vasco, Cruzeiro... Em cada uma delas uma partida diferente, mas a do meu Bahia sequer era mencionada.

Obstinado, investi um bom tempo até descobrir que se ficasse sentado na cama, pusesse o radinho de cabeça para baixo e encostasse uma das mãos na parede, conseguia pegar um sinal - ainda que fraco - da Sociedade e, claro, do tricolaço! Àquela altura, era mais que perfeito!

Mas, como precisava de um bom banho e não conseguiria toma-lo e ouvir a resenha ao mesmo tempo, deixei um pouco de lado radinho, frio e falta de luz, tratei de encontrar coragem, conseguir uma toalha e cair debaixo da água gelada.

A coragem, confesso, não foi muita. A toalha, porém, foi ainda menor - não mais que meia das de rosto -, e a água gelada que caia do acanhado chuveiro mal molhava meus cabelos empoeirados. O banho foi rápido. Quando acabei de me secar, quase batendo o queixo de frio, a luz acendeu. Não sei, mas tive a impressão que a energia estava apenas esperando eu terminar o bendito banho para voltar. - Mas, como disse: não sei! De qualquer maneira, me vesti e fiquei esperando Jajá sentado na cama com o radinho de cabeça para baixo e uma das mãos encostada na parede.

Demorou um pouco mas, apesar de eu mesmo não acreditar, Jajá chegou. Entrei no carro imediatamente e minutos depois já estava dentro da filial sentado bem em frente ao computador. Só que, para o meu azar, ali nem plantando bananeira o diabo do rádio sintonizava alguma estação! Tive mesmo que me contentar em fazer o trabalho o mais breve quanto possível para voltar logo à pocilga - digo: pousada.

Noite escura, nuvens negras... O computador estava horrível. Super lento e totalmente desconfigurado. Minha inspiração, àquela altura, também não ajudava em nada e como já não havia ninguém na matriz, o jeito foi instalar os sistemas e orientar Jajá para que os testasse apenas na manhã seguinte. - Qualquer coisa - ainda lhe disse -, ligue pra Salvador e procure um colega japonês de nome Massaka!

No caminho de volta para a "pousada" Jajá me mostrou o EMTRAN no qual eu embarcaria às seis horas da madrugada seguinte. - Gente boa, o cara! Agradeci a sua presteza, me despedi, e fui direto para cama, onde sentei, pus o radinho de cabeça para baixo, encostei uma das mãos na parede e fui escutar a resenha que, naquela noite, não poupou elogios às virtudes do esquadrão tricolorido. - Nada de noite escura ou nuvens negras: o Bahia vencera a poderosa equipe do Goiás e, de quebra, os rubro negros apenas empataram com a limitada equipe do América de Natal. Maravilha!

Já passava das vinte e três horas quando finalmente desliguei o rádio, programei o relógio de pulso para apitar às cinco e meia da manhã e me deitei risonho, embora preocupado com as poucas horas de sono que teria pela frente.

(Publicado em Anedota Búlgara)


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