SEGUNDA-FEIRA
Não sei se por ter sido a última, mas essa viagem pareceu mais sinistra que as outras! De um lado a visão maravilhosa da Chapada Diamantina, de outro um sol causticante, umas estradas horríveis, um roteiro pessimamente elaborado - por mim mesmo -, transporte escasso, caras enrolados...
O primeiro dia começou até bem. Havia saído no domingo de Salvador em direção à Conquista, de onde segui direto da rodoviária para Livramento de Nossa Senhora, numa viagem que eu definiria como - digamos - mais ou menos boa. Lembro de ter ficado com uma música impregnada na cabeça o tempo inteiro. Matança: "Cipó caboclo tá subindo na virola...". Não era exatamente a música inteira, mas apenas aquela parte: "... na sombra da barriguda". É que o caminho entre Conquista e Livramento é repleto de barrigudas e a cada árvore que passava, o refrão de Jatobá me tomava o pensamento com a força e a velocidade de um raio. - Insuportável!
Quando finalmente cheguei - e foram longas horas de estrada -, já estava com o cérebro mole de tanta sombra de barriguda. Suado e sedento, desci do ónibus imediatamente e fui tomar uma incrível água de coco na lanchonete da rodoviária. - Geladíssima. Enquanto me deleitava debruçado sobre o balcão, perguntei a um rapaz que estava ocasionalmente ao meu lado quais os horários disponíveis para Paramirim, cidade programada para ser a primeira do roteiro.
- Só tem esse carro aí - Respondeu o sujeito, apontando para o ónibus do qual eu acabara de descer de mala e cuia.
Tentando disfarçar um pouco, afinal o "carro" já estava indo embora, comentei com ar displicente:
- É... amanhã vou ter que ir lá, coisa e tal...
Refeito da sede, um pouco mais seco do suor e menos abalado por ter perdido o carro, descobri, ainda na rodoviária, que havia um outro horário para Paramirim por volta do fim da tarde. Fiquei mais tranquilo e, naturalmente, aproveitei para fazer logo o trabalho em Livramento - que estava programado apenas para o dia seguinte. Tive sorte com os equipamentos (PCs 486) e não perdi tempo durante as instalações, o que me permitiu até dar umas voltas na cidade e tomar mais uns dois ou três cocos. - Aquele lugar é quente demais!!!
No horário do ónibus, antes um pouco até, fui para a rodoviária e de lá para Paramirim. A estrada estava muito boa e o trajeto curto não me causou nenhum dano. Em menos de uma hora eu já estava na agência - não tem rodoviária lá. E apesar de já ser início de noite, um dos funcionários da filial, o Bidu, estava me esperando. Eu nunca tinha o visto, muito menos ele a mim, mas acabamos conseguindo nos encontrar em meio à multidão de cinco ou seis pessoas que desceram do ónibus.
Muito prestativo, Bidu perguntou se eu queria ir direto para o hotel ou preferia fazer o trabalho naquela hora mesmo.
- Vamo tomá uma! - Respondi quase afoito.
Sem perder um minuto sequer, o camarada abriu um sorriso e me levou para um bar onde algumas mesas do lado de fora praticamente convidavam os passantes a sentar-se ao redor de uma nevada. - Delícia! Embora fosse uma segunda-feira, havia algum movimento na rua e não seria má idéia ficar por ali. Porém, Bidu preferiu o lado de dentro. Sem que me tivesse sido dada a oportunidade de escolher, o acompanhei até uma mesa que ficava bem em frente a um muro repleto de propagandas de lojas da região. Mesmo um pouco desconfiado, acabei tomando algumas, jantando, e indo embora sem maiores "problemas" - digamos assim.
Como um bom anfitrião, Bidu ainda me proporcionou um city tour antes de me deixar no Hotel Bahia e ir para casa prometendo me apanhar na manhã seguinte, logo cedo, para que eu pudesse fazer o trabalho e continuar a viajem.
- Bom hotel esse Bahia. Boas toalhas...
(Publicado em Anedota Búlgara)
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