Quantas vezes reclamamos das dificuldades, mas raramente paramos para vivenciar de perto outras vidas para que comparada a nossa venhamos a agradecer todos os dias a dádiva do bem viver.
Há alguns anos atrás uma vez por mês eu saia distribuindo cestas básicas aos mais necessitados.
Como este meu trabalho era individual, eu buscava junto as igrejas católicas endereços de famílias necessitada e as escolhia aleatoriamente.
Certa vez um destes endereços escolhidos por mim levou-me a um casebre de madeira que ao avista-lo por fora, imaginei que fosse apenas um cômodo.
Chegando a porta este se encontrava totalmente fechado em dia de sol muito quente.
Arrisquei a bater na porta quase que na certeza de não encontrar ninguém.
Aguardando um instante ouvi passos arrastados, que indicavam dificuldade no andar.
Uma senhora de seus 85 anos, maltrapilha, com as pernas bastante inchadas onde eram visíveis várias feridas me atendeu com olhar de curiosidade.
Com a voz fraca exclamou: Entre sem perguntar o que eu estaria fazendo ali.
Meus olhos percorreram o ambiente sombrio
Um velho fogão com uma pequena caneca vazia em cima, ao lado um pequeno pedaço de pão que já representava ser envelhecido.
Um sofá muito desbotado em um canto, onde deu-me a impressão de ser o leito da Anciã.
Ao lado de uma pequena janela com uma cama de solteiro um homem de seus 60 anos permanecia imóvel.
A senhora apresentou-me como sendo seu único filho paralítico, do qual ela cuidava com muito carinho.
O cheiro da miséria me sufocava..
Lá fora brilhava o sol, lá dentro chovia dor...
A Senhora me olhava com olhar intrigante, então eu disse a ela:
Vovó, hoje eu vim te trazer alguns alimentos que gostaria que aceitasse com todo meu carinho.
Nisto os olhos da anciã se fixaram ainda mais nos meus.
Quando saiu deste estado contemplativo jogou-se ao chão beijando meus pés.
Em prantos ela gritava:
JESUS...JESUS...
Você ouviu minhas preces Jesus?
Jesus! Você veio?
Jesus! Você esta aqui?
Eu estagnada com a cena tentava levantar a senhora do chão que insistia em beijar meus pés.
Seu filho paralítico na cama chorava copiosamente.
Mais refeitos me contaram que a fome os rondava a dias...
Pão seco e água era tudo o que tinham como alimento.
O pequeno pedaço de pão que estava ao lado da caneca seria o jantar do filho que a mãe havia reservado como ultima e única refeição
Descarreguei os alimentos que foram abertos de imediato
Deixei o casebre que era afastado da comunidade, endereço do abandono...
Voltei para o conforto de meu lar, abrindo portas e janelas e comecei a analisar o quanto este dia mudou minha vida...
