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Cronicas-->Zé -- 19/07/2003 - 15:48 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

As folhas do cafezal tremulando saúdam o vento. Uma vastidão só. Perde-se de vista. Lindo demais para qualquer olhos mirantes. Verde contagiante, matizado. Não se percebe o trabalho que deu para um bando de ànus migrantes, para o sol, mãos de calos grossos fincadas na terra.
Do barraco de palha, Zé se aquieta e observa. Chapéu panamá preto-fubacento pelo uso, escondia até a testa queimada pelo serviço sol a sol. Dá um tapa na saudade acariciando a barba rala. Suga o cigarro de palha, com fumo de rolo, secado no varal de embira, mesmo espaço onde seca o lençol encardido pela poeira vermelha, a calça remendada e a camisa única de festa e trabalho. Peito lanhado, chora escondido até dele mesmo, "homem não chora"- repete para si. Pudesse ia embora, prolongar o cheiro na mulher amada que sempre o espera. Saiu de casa o pequerrucho ainda não sabia falar "papá". Infla o peito ainda mais, pela ausência, abre a carteira volumosa, nada de dinheiro, tudo fotografias. Pega aquela com pintas de ferrugem a bloquear os contornos dos olhos lindos e cabelos encaracolados. Contorna com o indicador os lábios grossos. Beija-os. Sente arrepios por todo o corpo, ouve sussurros da Ana, passados debaixo da velha aroeira à beira do riacho preguiçoso. Sabia que estavam lá, no velho tronco, cravado em corações, as juras de amor eterno entre os dois, promessas de que nunca se separariam. Agora separados pelo plantio do cafezal.
Precisava voltar para casa ou buscar a família. Tinha pressa. Ia já, largaria tudo ou todos juntos.
Um olhar anuviado o retorna à razão:
- Voltar como? E a colheita? Buscar como? Para onde? No local não é permitido
construir casas, só choupanas, barracas para uma safra, pouco duradouro.
Era sempre assim, toda safra. Zé procura uma saída e não a encontra. Pega a ferramenta e volta para o verde. Lucro na certa pela abundància de chuva. Era uma das melhores plantações da região. Tinha cabeça para plantio, sorte danada a sua. Mas, o pensamento ligado no desafio, não sabia o que fazer:
- Vou tirar duas semanas de folga, o mato espera, a chuva agora demora, dá
tempo. Converso com o compadre Pedro para passar o olho no cafezal, pra mim. Amigo é amigo.
Tomada a decisão, retorna para o rancho, arruma a mala, espera a hora de partir para o ponto de espera da primeira carona que encontrar para o Recife. Deixaria Minas para trás, sem saudades. No olhar um brilho de satisfação. Muito tempo sem ver a família, sem abraçar a Ana. Lembra de cada traço, cada gesto. A alegria deseja apressar o encontro. Quando se preparava para sair, recebeu a visita de um encarregado que lhe trazia uma correspondência. Era da Ana:
"Zé, não precisa voltar. Vou me casar, no civil, com o Paulo, nosso amigo. Ele está sempre presente. Me sentia sozinha e ele preencheu o vazio deixado por você. Espero que encontre uma companheira aí no cafezal. Aliás, sei que já encontrou.
Abraços da Ana."
Zé não acredita no que lê. Olha para o mensageiro e quase não lhe responde o até logo.
Desfaz a mala e suas saudades. O orgulho de macho é maior.
- Amigo nem sempre é amigo - desabafa.

Juraci de Oliveira Chaves
Pirapora MG julho de 2003
www.jurainverso.kit.net

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