Vivendo e Aprendendo
Teresinha Oliveira
Há uns anos conheci uma figura marcante, de uma inteligência rara, com uma bagagem de conhecimentos de um transatlàntico trafegado em muitos mares.
Era uma solteirona assumida, elegante, vaidosa com ela e com a casa, sabia como ganhar no jogo da vida.
Pois muito bem, após a varanda, na ante-sala, havia um chapeleiro em jacarandá, com espelho de cristal, com todos os cabides ocupados por apetrechos masculinos, como sejam chapéu, boina, viseira, um guarda-chuva e embaixo um par de sapatos bem engraxados.
Como ela morava sozinha, aquilo me encasquetava, eu remoía de mim para mim, com mil pontos de interrogação, e nunca chegava a nenhuma conclusão.
Ela era uma figura muito querida e gostava de receber as amigas com um chazinho embiscoitado, com finos acompanhamentos, e em meio dos assuntos, entremeados com tititis, ela apontava para o chapeleiro e falava: "Este aqui é o Sr. José, que me faz ser respeitada pelo eletricista, bombeiro, entregador de gás e de água. Numa casa sem homem, até os objetos masculinos impõem respeito"
Eu me empolguei com mais essa filosofia dela, achei o máximo, e passei a respeitá-la mais ainda, por compreender melhor o porquê da célebre frase que diz - "Toda a ausência é atrevida". Aquele móvel calado era a simples marca da presença masculina, que servia para intimidar os que não sabem respeitar a fragilidade da mulher.
(Crónica n. 67 do livro "Crepes, Tafetás etc Gravatas" do capítulo "De Conversa em Conversa" )
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