Em 1989, vésperas da primeira eleição quase democrática após um grande período de jejum causado pela ditadura militar, os sindicatos ligados a Central Única dos Trabalhadores receberam diversos artigos e estudos analíticos de especialistas da área econômica que anteviam a explosão do neoliberalismo, um pouco atrasado no Brasil, a multiplicação do desemprego e o caos para a população latino-americana.
Os diretores sindicais tentaram alertar os companheiros de fábrica para o novo desenho político mundial, as consequências da conjuntura e o desdobramento para o povo tupiniquim.
Poucos foram os operários dispostos a ouvir os alertas, pois ainda havia o gatilho salarial do Sarney, que havia declarado a moratória que permitiu ao país respirar um pouco mais, sem o pires da miséria do FMI.
Sarney segurou um pouco o apetite estrangeiro sobre as riquezas nacionais, mas Collor, eleito por uma legião imensa de trouxas que identificavam no pseudo facistóide uma esperança de mudar o país, abriu as comportas e deixou que as águas neoliberais tomassem conta de vez do frágil território de Santa Cruz.
Uma das exigências do FMI já em 1989 era a mudança da política governamental em relação aos valores do setor energético. Os custos de manutenção das centrais européias e norte-americanas eram muito maiores, e apesar do potencial hidrográfico brasileiro permitir um custo baixo, isto sempre foi considerado um entrave pelos economistas internacionais. A subida das taxas de energia se fazia urgente. E a privatização também.
Cumpridas as determinações por Collor, Itamar e Fernando Henrique, o povo experimentou aumentos sucessivos das tarifas, os industriais, amigos de primeira hora dos regimes de direita, perderam dinheiro, e não há mais limite que satisfaça os novos proprietários das empresas de energia.
O povo aceitou o apagão sem protestos, vai pagar pela diminuição do lucro das concessionárias, e de quebra paga mais pelo gás e pela gasolina.
Algo está errado. Se foi feito tudo que o Fundo Monetário Internacional determinou e o povo continua recebendo o ônus oficial, então a novela está mal contada. Para falar com Deus, com os vizinhos, com as comadres, o povo vai ter que apagar a luz. Talvez na escuridão possa distinguir quem vai ser o próximo dono da candeia.