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Contos-->Dos Pecados -- 04/06/2004 - 22:33 (Barbara Amar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não conseguia despregar os olhos da foto no jornal. Uma esquálida mulher de cabelos escuros tosquiados, ossos à mostra, vestindo apenas combinação branca, o olhar impregnado de angústia, estava presa pelos pulsos a uma cadeira - as mãos expostas. Em frente a ela, também sentado, um homem forte e calvo, mangas arregaçadas até os cotovelos, preparava-se para torturá-la. Ao contrário da vítima só era visível seu perfil determinado, quase pétreo, lembrando um burocrata. Numa mesa forrada, uma série de instrumentos pontiagudos meticulosamente enfileirados: alicates, pinças e agulhas de calibres variáveis. A um canto, terrível em sua simplicidade, sobressaía a pequena tigela branca.
- Deve ser para recolher as unhas e pedaços de carne, pensou. Ou então aparar o sangue. Será?
Reparou melhor na fisionomia da moça. Pareceu-lhe quase abnegada, a mártir entregando-se ao sacrifício. Como gostaria de estar lá e apreciar em detalhes. Já se imaginava fechando os olhos quando o sangue esguichasse. Quem sabe não vomitaria ao ouvir os gritos da infortunada criatura? Um sentimento de piedade a envolveu escamoteando o fascínio que a impelia a participar da cena. Ficou namorando a figura, a mente voando livre a bordejar terrenos inexpugnáveis. Voltando à consciência entendeu tratar-se da foto de um filme que iria estrear no final de semana. Ah, se pudesse assisti-lo.

Antes de dormir suspendeu a rústica camisola preparando-se para o vício noturno já integrado à sua rotina; não o ato em si, mecânico, mas toda a encenação a acompanhá-lo. Sua fantasia preferida era a da garotinha de doze anos assassinada pelo casal de amantes. Imaginava, com minúcias, o homem e a mulher obscenos em sua nudez seviciando a menina despida no depósito de feno de uma fazendola. A criança não fora amordaçada pois seus gritos gravados iriam, no futuro, levá-los ao auge do prazer sexual. Via com nitidez o homem, jovem ainda, estuprar a pequena. A amante o assessorava com apetite feroz. O final era sempre o mesmo - a morte da garota, após lenta agonia. Neste momento, seus sentidos exaltados alcançavam o apogeu proporcionando-lhe um furioso e ininterrupto orgasmo.

Ao se preparar, na manhã seguinte, sobressaltou-se com as fortes olheiras:
- Bobagem. Pensarão numa noite mal dormida.
Estava tudo acertado para receber o magnífico visitante. O grande carro negro chegou na hora aprazada e ela, em pessoa, atravessou os jardins para auxiliá-lo a saltar:
- Eminência, é uma grande honra.
- A honra é toda minha, Madre Claudina, disse o cardeal estendo-lhe a mão que ela beijou dobrando os joelhos.
É incomum encontrar uma religiosa com tanto apego à caridade como a senhora. São meritórios seus atos bondosos junto aos pobres e às criancinhas abandonadas.
A Madre Superiora agradeceu, contrita, e ofereceu o braço ao idoso prelado. As freiras à sua volta lançaram-lhe olhares de admiração e respeito. Suas grandes olheiras evidenciavam mais uma noite de sono perdida em vigília, dedicada fervorosamente às orações.

24/02/03
Reescrito em 04/05/04






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