SOPRO!
Inda não sei por que tu sempre apareces
Trajando à pálpebra da boca esse objeto.
Deselegante e desbocada, está reto
Um largo incêndio que em teu sorriso esqueces.
E quando vês que o meu olhar, nestas preces,
Lacrimeja em esfumaçado desafeto,
Aspiras tudo, ris de lado e arrefeces,
Mas permanece à boca esse vasto inseto.
Não me resta outra opção - que mais faria? -
Senão te dizer isto em tom inteiro.
Me sei grosseiro, outro desfecho queria
E peço desculpas se lhe critico o cheiro.
Eu detesto concordar com a maioria,
Mas tu guardas acre gosto de cinzeiro.
Zé, em Julho de 98.
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