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Poesias-->Sonhos de Uma Puta -- 31/03/2005 - 12:41 (Jadson Buarque) |
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Sonho com uma noite calma.
Onde eu possa escutar o silêncio.
Onde eu possa deitar minha cabeça
Deixar meu quieto.
Sentir-me relaxada,
Dormir apenas.
E ter novos sonhos.
Sonho em poder ver o sol.
Não deixar o meio-dia passar por mim
Sem que o sol me aqueça.
Ver a manhã, a tarde e o crepúsculo.
Ouvir os pássaros
E eles me despertarão.
Não darão o toque de recolher.
Sonho com uma vida normal.
Poder olhar todos de frente.
Nem ser pior, nem melhor.
Sonho com pessoas amigas
E não com clientes em potencial.
Não quero mais precisar agradar a ninguém.
Mas entre minhas pernas
A realidade pinga e me queima.
E sinto uma dor muito maior
Que a que os tarados me provocam.
Sinto uma necessidade maior que a deles.
Que dinheiro nenhum poderá pagar.
Sonho em dormir com alguém.
Não rolar constrangida da cama.
Enquanto eles procuram suas roupas.
E se vestem apressados
E me deixam o dinheiro que paga tudo
Menos os meus sonhos.
Menos a minha dor.
Sonho em gozar de verdade.
Não precisar gemer falsamente.
Como uma atriz de uma peça nojenta.
Sonho em não precisar controlar meu corpo.
Em contorcer-me de verdade
Sem querer agradar a ninguém.
Apenas saciar o desejo de meu corpo.
E reduzir o clamor da minha alma.
Mas a verdade que come lentamente
Penetra mais fundo que qualquer órgão ou objeto.
E arranca de mim muito mais que gemido.
E não consegue me lubrificar suficiente.
Para que eu possa deslizar para fora
E esquecer como entrei nessa vida.
Sonho em ter um endereço de verdade.
Não um ponto na calçada e um quarto no puteiro.
Sonho em escrever cartas para alguém
Não em ter um anuncio no jornal.
Sonho em poder sonhar com o futuro.
E não com o próximo cliente.
Sonho em poder saber o que fazer amanhã.
Além de contar meus trocados
E refazer minha maquilagem
E voltar ao dia a dia de uma vida
Que não pude escolher
Mas que aparece cada vez mais forte na minha vida.
Sonho em poder amar e ser amada.
Com alguém que queira saber algo mais de mim.
Que fale coisas mais importantes do que
“Vire-se”, “deite-se”, “chupe” e “morda”.
Que não queira comandar meu corpo
Que me dê algo mais do que dinheiro sujo.
Mas em minhas entranhas penetrou algo
Que não pode mais sair.
Que entra cada vez mais profundo.
Indo além do corpo
Numa dimensão que machuca meus sonhos.
Muito além do que se pode pagar.
Tenho sonhos.
Mas o que importam
Quando a noite é fria
E o movimento mais do que eu poderia sonhar.
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