Vocês não vão acreditar! Não me lembro de alguma vez ter falado ou escrito a famigerada expressão "com certeza". Não me olhem ( ou leiam) desse modo, como se não pertencesse ao gênero humano. Sou mesmo meio esquisito. Talvez isso se deva à indecisão, própria dos librianos. Ou, quem sabe, eu sofra de falta de assertividade (não, não é coisa grave). Ou, ainda, que não me atrevo a acreditar na certeza dos fatos. Afinal, como se pode ter certeza de alguma coisa neste mundo? O Titanic não era "inafundável"? O World Trade não era indestrutível? Somente se me perguntassem se vou morrer algum dia eu responderia: com certeza!
A princípio, me sentia mal. Tinha inveja daquelas pessoas que aparentavam saber o que querem. Nada de dúvidas vãs e traiçoeiras. Nada de espaços para contestações. Quem respondia de tal modo, sem nenhuma vacilação, era certamente um vencedor.
Depois, o uso dessa expressão se alastrou. Não havia mais distinção: ricos ou pobres, cultos ou ignorantes, homens ou mulheres, artistas conhecidos ou meros anónimos, todos se nivelavam na sua certeza irretrucável. Era a resposta para todas as perguntas: Você é um energúmeno? Com certeza! Pensa que está agradando? Com certeza! Tem certeza de que tem certeza? Com certeza!
Aí, como não sou bobo, comecei a desconfiar que essa assertividade toda não provinha de nenhum caráter firme e decidido, mas que se tratava de mais um modismo, coisa bonita de se repetir. Poderia, Ã s vezes, equivaler a um modesto "penso que sim" ou a um sofrível "acho que não". Como modismo, certamente vai passar, você não acha? E por favor, não responda: com certeza!
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