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Contos-->O limite da estrela -- 06/06/2004 - 14:14 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Àquela hora os organizadores não poderiam adiar uma competição automobilística, onde o maior espetáculo, na categoria, estava acontecendo, simplesmente porque a meteorologia anunciava que a chuva não demoraria a desabar.
Nunca se viu a Barra da Lagoa tão movimentada. O Autódromo Kart agitado como se fosse um formigueiro em guerra contra a enxurrada estremecia ao comportar mais uns que não queriam ficar fora deste marco histórico na linha de tempo do automobilismo.
O favorito campeão era o jovem piloto Artur Smith que conseguira divulgar o seu trabalho desde a largada no trigésimo lugar e sua ascensão ao segundo, com brilhantes vitórias em corridas espetaculares. Ele sabia que não poderia mais deixar este tão cobiçado título. Todos acreditavam nele, até os adversários. Em qualquer lugar que estivesse, lá estavam as fãs solicitando autógrafos e muitas querendo levá-lo para o altar. Sempre muito delicado, dizia que a sua paixão era mesmo o volante. Esta paixão fora despertada ainda muito jovem, aos cinco anos, quando dirigia no colo de seu pai. Iniciava aí sua preferência por velozes máquinas, vocação patrocinada pelo rico industrial, Paul Smith, seu pai. Pretendia realizar no filho aquilo que não pôde ser um dia. Sua obsessão era tamanha que construiu uma grande pista sobre sua fábrica de pneus e acessórios automobilísticos, só para que o filho pudesse treinar a qualquer momento.
Mas aquele dia chuvoso, não sabia porquê, trazia a Artur, maus presságios. Mesmo sendo um exímio piloto em pista molhada, estava com um olhar anuviado, pairando alguma preocupação, influenciando até suas reações biológicas.
Na tentativa de encontrar tranqüilidade, o piloto mirava a verde paisagem que insistia em fazer parte daquele cenário encantador matizado com o azul do mar, que só ali, naquele lugar, poderia ser observado.
Olhou no relógio e mal pôde enxergar que a hora da largada se aproximava.
Percebeu algo estranho, embaçado, mas precisava, a qualquer custo, fazer esta última corrida. Lutara muito para chegar aonde chegou, não permitiria outro lhe roubando a cena. Não poderia decepcionar a todos, muito menos a seu pai que jogara todas as cartas nesse campeonato de fórmula Kart.
Aproximou-se do pai e receoso comentou ao ouvido:
- Não estou muito bem. Sinto-me estranho.
- Estranho como?
- Estou enxergando embaçado e escutando pouco.
- Não há de ser nada. Qualquer novidade eu guio você com minha voz, brincou
- Mas pai, nunca senti essa sensação antes.
- Não há de ser nada, já disse. Não é possível que as conseqüências daquele acidente vão manifestar reflexos, logo nesta final. Impossível. Fique tranqüilo. Deus está do nosso lado e boa corrida.

Quando Artur acomodou-se no carro, sentiu a força de sua torcida. Gritava pelo seu nome e sem sombra de dúvidas, mostraria porque era o líder da temporada.
O grid de largada foi anunciado e máquinas roncaram sobre a pista úmida, alimentada pela fria chuva fina.
Logo no início da largada, Artur perdeu a posição para Jack Fragoso, seu ferrenho perseguidor. Poderia ser superado por qualquer piloto menos por Fragoso. Quase toda a corrida foi aquela troca de posições entre os dois, arrancando delírios e suspiros da torcida.
Na metade da prova, Jack sofreu uma terrível rodada na pista, forçando-o a abandonar a prova. Saiu furioso, gesticulando por todos os poros, pela falta de sorte. Artur, com grande habilidade, manteve-se firme e livrou-se dos obstáculos, acelerando com prazer, conseguindo grande diferença entre o segundo piloto.
De repente o carro de Artur começa a fazer ziguezague na pista. Ele enxerga tudo embaçado e apavorado grita para a equipe da qual o pai era componente:
- Tenho que abandonar a pista. Só vejo vultos cinzentos. Quase não estou
escutando. Algo de ruim está acontecendo comigo.
- Fique calmo. Só falta uma volta para vencer a prova.
- Vou sair. Alguém vem me ajudar, urgente.
Ele já não estava escutando bem.
Percebendo isso o Sr Smith, apressadamente arranjou um alto falante e gritou o mais alto que podia, sensibilizando toda a platéia Kardista:
- Ô FILHO! FIRMA O VOLANTE E VÁ EM FRENTE. EXISTEM MAIS CURVAS NA PISTA E OS OUTROS PILOTOS ESTÃO DISTANTES DE VOCÊ! FALTA POUQUINHO PARA VENCERMOS. NÃO HÁ DE SER NADA. É SÓ PORQUE FICOU NERVOSO COM O INCIDENTE PASSADO. ACALME-SE E AGÜENTA SÓ MAIS ESTE MINUTO! POR FAVOR, FILHÃO! VAMOS CONSEGUIR!
- Mas eu não estou em condições nem para encostar o carro.
O Sr. Smith, menos desesperado, já falava sem gritar:
- Não encoste o carro, filho. Siga minha voz de comando através do alto-falante, em silêncio. Vá um pouquinho para a direita. Centraliza. Agora para a esquerda. Diminua um pouco a velocidade que mesmo assim não será alcançado. Calma, filho. Todos os outros participantes diminuíram a velocidade. Siga em linha reta, de olho fechado. Vamos conseguir. Diminua mais a velocidade, agora mais um pouquinho para a esquerda... Tranqüilidade Arturzinho, vamos conseguir!!! Só depende de você!...
– Ok, pai. Estou mais tranqüilo, apesar dos olhos fechados.
Não se ouvia outro som no autódromo a não ser as ordens do Sr. Smith passando toda energia para aquela estrela que chegara a seu limite. Até o locutor ficou mudo. O pensamento positivo de todos dava força àquela família que lutava para alcançar os objetivos propostos.
- Vamos conseguir filho! Vai parando devagarinho... Mais devagar... Isso... Devagarinho...
Conseguimos!!! Conseguimos!!!
Ai!!! Suspirou aliviada a platéia.

Minutos depois Artur já embarcava para o exterior em busca de tratamento especializado para sanar seu problema de saúde, satisfeito com a solidariedade dos brasileiros.

Juraci de Oliveira
www.jurainverso.kit.net
juraci@interpira.com.br (Texto ilustrado aqui)
Pirapora MG 2000
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