Giba, meu considerado, numa tarde bucólica de sábado, em Tupinambica das Linhas, lá pelos idos de 70, caminhava pela rua central deserta, chutando latinhas.
Aquela densa cabeleira negra ornava a cachola continente dos miolos febris. Ele se lembrava da consulta feita alguns dias antes e considerou a psicologista muito esquisita.
A doutora dissera-lhe: “Você pode até limpar a bunda com a bandeira nacional. Ninguém vai impedi-lo. Mas isso, no futuro, pesará contra você. Isto é, se a balança não estiver corrompida”.
Quando Giba perguntou à psicóloga se ela o considerava louco, ela respondeu: “Acho você um louco normal”.
Passando defronte ao mercado municipal, Giba recordou-se de quando estivera num churrasco na casa do Eurípides. Ele e a amiga comemoravam a vitória obtida num processo, no qual foram acusados injustamente, de apropriação indébita, ocorrida lá do clube de carteado.
Nos encontramos defronte a marquise do Banco da Colônia. Era ali o local onde a maioria dos folgados da cidade, parava pra botar os temas em dia, e fazer a fofoca assuntando a vida alheia.
Meu amigo Giba, do alto dos seus dezessete anos, queixava-se, (sempre comigo!), dizendo terem os vizinhos apelidado-o de cachorro. O infeliz não imaginava qual traço seu provocava tanta aversão assim. Não seria a tesão enrustida nas mulheres, ou os ciúmes odientos nos homens, quase cornos. Quem sabe?
Mas ele confessara-me não desejar comer nenhuma delas. Ponderei, naquele dia: talvez fosse essa sua disposição, a culpada por tanta ira expelida pelas vazias e descompensadas. Elas formavam uma legião de má vontade terrível.
Considerei de muito mau gosto aquele chiste mencionando Natanaela. Ele dissera não ter efetivado o crau, por ser o boiola velho, laranja passada.
De repente, não mais que isso, Giba perguntou-me:
- Qual é a semelhança entre Tupinambica das Linhas e a curva do rio? Quando lhe respondi não saber e estar impossibilitado de imaginar, ele estocou:
- Nenhuma! Em ambas só param sujeita.
Sentamo-nos num banco do jardim e com aquele tom depressivo-financeiro, queixava-se da Rita K.Alsa Jeans, sua ex-namorada. Ela por não querer mais saber do trabalho, vivia como sanguessuga, aboletada no bem-bom da rapaziada.
Giba apresentava sinais evidentes de tristeza e falava existir um homem bêbado, e rasteiro, parecido com um escorpião assassino, porém muito rico. Esse tal invadira a casa dos seus pais, trazendo balbúrdia e confusão para todos. A quizumba estava contaminando a vizinhança e poderia alastrar-se pela comunidade inteira.
Disse-lhe estar queixando-se por causa de momentos ruins, mas que se contivesse; a situação poderia tornar-se pior.
Giba era um poço de prantos.
Entre um lamento e outro ele segredou-me: “Minha mãe depositara Cr$15.000,00 (quinze mil cruzeiros) na conta bancária antiga, mas para surpresa geral da família, depois de alguns dias só encontrou Cr$12.000,00. Quando mamãe Chuma pôs a boca no trombone, espalharam lá no banco que era louca”.
Mas sua mãe, a dona Chuma, fora tão enfática na indignação que devolveram o produto do crime; alegaram estar aplicado num fundo de investimento.
Disseram a ela ser impossível, a demissão dos funcionários envolvidos, por estarem todos concursados.
Existem tantos idosos, recebedores das suas aposentadorias, por intermédio daquele banco, quanto artimanhas e justificações pra embasar centenas de subtrações indevidas.
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