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Contos-->O Velho -- 13/06/2004 - 02:58 (paula cury) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O velho caminha à passos largos, devagar como tartaruga em verão carioca. Cabeça baixa. Anda e pensa.Pensa e anda. Cada passo uma lembrança.
Lembra do dia, contava 10 anos, ganhou de presente um soldadinho, daqueles que chamam “soldadinhos de chumbo”, ficou feliz, embora quisesse mesmo um pião de corda colorida.
Esboçou um pequeno sorriso, áureos tempos de sua meninice. Viu-se correndo com outro meninos de sua idade, atrás de cotovias, quanta maldade, pensava ele, pegar o pobre passarinho apenas para arrancar-lhe as asas, ouvi-los piar desesperados. Criança é mesmo um ser sarcástico.
Parou, olhou o céu, azul, onze e meia talvez, hora do almoço. Mais um passo. Como eram bons os bolinhos de chuva que a mamãe fazia. Comer só depois de limpar o prato de arroz e feijão, caso contrário, nada feito. Eram doces, os bolinhos, nunca mais sentiu aquele gosto, massa quente, açúcar, o gosto doce, doce gosto dos bolinhos de chuva.
O velho enxuga a lágrima que, teimosa, tenta escorrer.
Mais um passo.
Ouve ao longe alguém chamar seu nome. Olha para trás e se dá conta, é apenas mais uma lembrança. Lembrança do pai, sempre bravo, autoritário, que fazia tremer só de olhar. A surra de cinta depois de assustar a Dona Candinha, vizinha feia e gorda, alvo preferido dos meninos e dele também. Pobre Dona Candinha, gorda e feia. Essa não teve sorte na vida, deve ter morrido virgem.
Virgem, mais um passo, Helena, hoje tão enrugada, sua primeira e única namorada. Como deu trabalho conquistá-la. O primeiro beijo, depois do cinema, no escuro da rua, quase levou um bofetão. Conseguiu segurar a mão de Helena, mão tão macia que tantos beijos recebeu. Helena, hoje enrugada, lhe deu quatro filhos, três formados e um meio sem juízo, vive viajando, manda notícias quando quer. Filhos de Helena, hoje tão enrugada.
O velho caminha à passos largos, vê, do outro lado da rua, alguns meninos correndo, atrás de um gato. Está cercado o pobre bicho. Puxam o rabo e riem alto.
Um dos meninos percebe o velho e lhe sorri.
O velho devolve o sorriso, levanta a cabeça, olha para frente, dá um pequeno salto e continua a andar.

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