Ospré! Sinceramente não sei o que tem mais me enojado nos últimos anos: se é a política nacional, o terrorismo ianque ou a cultura de massa difundida pela maldita TV. Aparelho, aliás, que uso pouco e quando ligo dou a sorte de ver, no mesmo dia, duas notícias que me levaram à mais profunda gargalhada: o dólar quase chegando na casa dos R$ 4,00 e o ridículo presidenciável “Rapazinho” nos braços do povo; não que seja popular, mas é que seu palanque caiu divertidamente num comício. Imaginem as obras públicas, que fracasso não devem ser? Lembram-se do “Latrinão de Ramos”?
Mas o povão anda tão preocupado com quem vai ganhar o prêmio de puta mor do Big Broder Brazil, ou que clube contratará esse ou aquele palhaço/mercenário para o circo do brasileirão, que não nota toda a sacanagem especulativa dos gringos para conosco! “O que é especulação, capital, FMI?” Deixa o pãozinho, o gás, o combustível aumentar... continuará tudo as mil maravilhas. Afinal, fomos pentacampeões... nada mais importa, o que vier é lucro!
As massas já acostumaram-se a sofrer e sofrem acreditando ser isso uma virtude. Perfeitamente compreensível! Afinal, o Brasil é um grande país cristão e há séculos, como a Igreja pinta JC?, o primeiro e maior revolucionário da História, de todos os tempos? Como um sofredor resignado, fracassado, pregado na cruz. Os homens querem seguir seus mitos, ou seja, “Vamos ser como JC, vamos sofrer! Vamos carregar nossa cruz!”.
O que me dói é que a Arte é muito eficaz como instrumento de perfídia. Por que vocês acham que até nos dias de hoje tem gente que acredita no absurdo de um JC branquelo, aloirado e de olhos azuis? Ele não era europeu e a Arte, financiada pela Igreja, europeizou JC. Os europeus fizeram-se modelo universal, e os ianques pegaram essa carona na esculhambação cinematográfica do roliúdiano “JC Súperistar”! Seria inconcebível um JC moreno, cabelos escuros... características de povos atrasados, subjugados, escravos.
O que tem isso a ver com o contexto atual? Tudo! É onde quero chegar. Entremos nas caravelas européias e transportemo-nos para os trópicos. A mentalidade eurocêntrica, figurada aqui pelo barroco, denunciada acima, veio também nas embarcações e espalhou-se aqui da mesma forma que as doenças trazidas por aqueles imundos. Acontece que a colônia mudou de dono, mas a mentalidade do JC resignado e sofredor pregado na cruz, continua a funcionar. Além disso, os nossos atuais patrões sacaram uma coisa muito importante com a História: que os grandes e pequenos impérios falharam por deixar que os subjugados mantessem seus costumes, sua Cultura; mais cedo ou mais tarde estes rebelavam-se contra os dominadores. Assim sucumbiu Roma, os países ibéricos na América Latina, a Inglaterra na Índia...
Ou seja, a receita para instalar uma dominação irreversível, “pacata”, é destruir nossa cultura, fazendo-nos assimilar a deles. Estão fazendo isso muito bem! Cai como uma luva a analogia entre os mecenas de Arte de antes e os mecenas de “arte” da atualidade. A TV no Brasil é um canhão apontado contra seu próprio povo e sua própria cultura. A TV é a “abre alas carnavalesca que não sabe sambar” para todo o lixo enlatado estadunidense que nos invade sem que o povão perceba, de forma mais ou menos subliminar.
Quando eu falo de TV neste sentido, não são dos ótimos canais alternativos culturais, como a TVE, mas da massificante Rede Globo, que só existe graças à grana da Táime Láife e surgiu num momento estratégico, para servir aos interesses da alta burguesia e dos grupos financeiros estadunidenses. A Globo é a grande difusora da “arte” na atualidade, “arte” que forma/deforma opinião... respondam-me então: quem financia a Globo, a SBT, grandes emissoras? Fácil: os anunciantes. Quem são os anunciantes? Se você ligar a TV em horário nobre, verá comerciais da Fordi, Geêmi, Volks, Fiat, Mercedes, Mc’Donaldis, Embratel, bancos... Todas empresas multinacionais. Imagine então se estas emissoras começarem a bandear para o lado nacionalista (não falo do verdeamarelismo de fachada do futebol, por exemplo), e começarem a criar uma mentalidade libertadora no povo? Elas simplesmente vão à falência, ficarão sem patrocínio. O papel delas é nos contaminar com a cultura estadunidense, européia, fazer-nos identificar com sua cultura. Todo dia tem filme roliúdiano! Onde estão os nacionais? Vocês deveriam assistir o atemporal “Terra em Transe”, esta obra prima do cinema brasileiro denuncia toda a sujeira a qual se presta a TV. Onde está Glauber Rocha? Este, com propriedade já dizia: “A televisão (é) escrava da publicidade e da audiência de um público deformado”.
O maior cineasta brasileiro de todos os tempos também disse: “O cinema é a Igreja do século XX” e eu acrescento que do XXI também. O grande problema é que nossa igreja é importada e o nosso JC continuará a ser aquele branquelo, loiro, de olhos claros... nós continuaremos cegos religiosos; mulatos, baixinhos, feios, INFERIORES... a trabalhar para o grande pontífice: Tio Sam e seus asseclas do G7. O que me conforta é que os ignorantes nem sentirão a socada! Estarão ocupados demais com suas orações na frente da TV. Enquanto isso... carreguem suas cruzes! A minha eu já queimei, junto com o controle remoto.
Geiso
07/09/2002
|
