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Cronicas-->A banana indigesta -- 27/07/2003 - 13:38 (Raul Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A banana indigesta


A noite estava escura, nenhuma estrela era vista no firmamento. Só o pisca-pisca de pirilampos aqui e acolá. O tabaco queimando no porronca dava um leve prazer a Noventa e Cinco e espantava os carapanãs, que muitas das vezes atingiam boas picadas na sua vergastada epiderme, mas cuja incómoda dor era atenuada por generosos tragos numa garrafa de Tatuzinho. Eles eram comuns nas épocas de cheia do Rio Branco. A pesca estava ruim, desde as dezoito horas, e apenas três mirrados mandis. Chamava atenção o leve marulhar das águas represadas por algum objeto flutuante preso aos galhos das ingaranas, entrecortado por zunires dos malditos insetos hematófagos.
Noventa e Cinco morava nas imediações do Bombeamento, conhecido que era pelo ofício de bombeiro do primeiro sistema de captação de água de Boa Vista. Ele o velho Bispo...
Era quase rotina: ao término do expediente, tralhas de pesca, a fiel garrafa de aguardente (Cocal ou Tatuzinho) comprada no boteco do nego Leontilio, tabaco já esmiuçado e papelinho (no aperto, qualquer pedaço de papel servia), ia ter a dois ou três lugares `seus´ na margem do grande rio. Ouvia-se o zunir do nylon e o `ploc´ da chumbada na água. Vez por outra o anzol enganchava. A velha lanterna, importada da Guiana Inglesa, facilitava o encastóo. A noite já ia longe, e aqueles três mirrados mandis.
- Puta que o pariu!... - Imprecava, por entre as desgastadas `pererecas´ focando a enfieira: três mirrados mandis!
O rio cheio dava navegabilidade a embarcações boiadeiros que desciam rumo a Manaus, vindas, principalmente de Carnaúba, fazenda-porto do grupo J.G. Araújo e Cia. A pecuária era vigorosa e abastecia o mercado daquela capital do vizinho Amazonas. O álcool já tomara Noventa e Cinco. Três mandis, dois dedos de cana na garrafa. De repente, eis que, depois do conhecido barulho do motor a diesel, surge a silhueta da embarcação vivificada por pontos luminosos norteada pelo iluminar do forte refletor, que buscava possíveis obstáculos à frente, procurando o fio imaginário de seu caminho sobre as águas barrentas da cheia.
- Socorro! Socorro!... - Repetia, já com a voz empastada, mas aos berros, Noventa e Cinco.
- Socorro!...
O desespero era tanto, que, repentinamente, o potente motor desacelerou. O conjunto náutico buscou, lentamente, a margem, de onde vinham os gritos. O holofote, em cheio, ofuscou Noventa e Cinco, que, braço sobre os olhos vermelhos e esbugalhados, lascou:
- Vocês têm banana aí? - Severo, a ponta de fumo no canto da boca, enroscado em frio e fome.
Sobrepondo-se aos indizíveis praguejamentos, o motor ronronou com fúria, levando a embarcação de volta para sua velha trajetória de descida...
A noite já ia alta.
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