Desenhara em dias de sonho,
de sonhadora que era,
um lago calmo e sereno,
e uma casa bonita,
toda coberta de hera.
No desenho, uma brisa.
Mansa, que é como se quer
a brisa que em barcos desliza
os sonhos de uma mulher.
A brisa, de repente,
rebelou-se.
Não mais suave, nem mansa.
Nem doce.
Vento forte, furacão,
saiu derrubando a casa,
sem mesmo poupar-lhe o portão.
Vento teimoso e rebelado,
e até um tanto abusado,
tinha por diversão
desfazer-lhe o lindo penteado.
A sonhadora, entretanto,
tinha seu lado malvado:
teimosa e insubordinada,
rompeu-se em desacatos,
armou pipas, pára-quedas.
Aprendeu a voar sobre os ventos,
desobedeceu-lhe as ordens,
e criou outros inventos.
O vento, por certo que não gostou.
Fez-se tornado,
levantou ondas no mar,
criou maremotos vários
que a viessem afogar.
Em vão:
quem aprende a voar,
é pra lá de obstinada.
Também aprende a nadar.
|