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cronicas-->O Menino e a Chuva -- 28/07/2003 - 21:47 (João Afonso Carvalho Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O MENINO E A CHUVA


Chovia fortemente. Muitas pessoas, aglomeradas sob a marquise, comprimiam-se mais e mais, porque a chuva, trazida pelo vento, molhava os que se encontravam mais à beira da proteção. Dentre os que estavam ali, passando a chuva, havia uns três ou quatro desses garotos que andam pelas ruas a engraxar sapatos e/ou mendigar.
Afeitos que somos ao calor, diante do temporal que desabava muitos já manifestavam sentir frio. Quase todos. Menos um dos garotos engraxates.
Quando a chuva se fez mais forte, enquanto o povo procurava proteger-se mais, o garoto, rapidamente, despiu-se da camisa, colocou-a dentro de sua caixa de material, correu para o meio da chuva. Banhou-se. Deitou-se na praça alagada. Divertiu-se. Ria Sozinho.
No meio da praça, havia algumas cadeiras de ferro, pertencentes a um ponto de táxi. O garoto, vendo aquelas cadeiras ali, desocupadas, olhou para a cabina do ponto de táxi. Estava fechada. Ninguém iria brigar com ele... Emperiquitou-se numa das cadeiras. Cruzou os braços, pós uma perna sobre a outra e ficou como se estivesse em sua própria casa. Casa que talvez nem tenha.
Pouco depois, vendo o jardim da praça, o nosso banhista arrastou para lá, para o meio das plantas, a "sua" cadeira. Aí, sim. Ficou mesmo à vontade. Mas, ao que parece, o garoto achou que sua obra ainda não estava completa. Correu à sua caixa, apanhou um dinheiro e foi ao bar próximo. Comprou um pão e voltou à "sua" cadeira, ao "seu" jardim, e, comendo o pão, ainda que molhado, parecia satisfeito, abraçado à felicidade.
Talvez, naquele momento o garoto se imaginasse no jardim que não tem. Na cadeira que não tem. Comendo o lanche que não lhe vem à boca em todas as horas que a fome - companheira inseparável - diz-lhe que está presente.
Mas, naquele instante, naquela chuva, naquela praça, sua mente infantil, ingênua, dá-lhe a sensação de opulência, de felicidade, de TER e SER.
Do meio da multidão saiu uma voz: "Olhem como está aquele moleque, na cadeira!" Outra fez coro: "Parece um macaco!".
Tive compaixão dos donos daquelas vozes, que mangavam do garoto, pela ignorància revelada diante do quadro à vista, da vida dos chamados meninos de rua. O garoto me comoveu, ao pensar no sofrimento que deve ser sua vida, fora daquela hora. E me emocionou sua capacidade de dar aquele corte no real e encontrar alegria, quem sabe, uma nesga de felicidade, diante do que para os outros era um estorvo.

Para mim, o garoto - ainda que naquele instante - não era um moleque. Nem parecido a um macaco. Era, antes, um desprezado por nós, sociedade, que não priorizamos as prioridades certas.
Sua mente infantil, ingênua, infantil, sonhadora, moleca, brincalhona, fê-lo até se assemelhar um anjo, portador de boas novas. Ave, garotos sonhadores! Ave moleques que sabem achar felicidade no nada que têm!

João Afonso, Palmas - TO
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