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Cordel-->A FABRICA DE TECIDOS -- 15/01/2008 - 06:43 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O misterioso desaparecimento da Fábrica de Tecidos do “Corte Oito”


Naquela manhã de dois mil e seis
aconteceu uma tragédia na cidade
que neste cordel conto pra vocês
pois, é uma história de triste verdade
que deixou muita gente atordoada
até porque não dizer, abestalhada
pelo sucedido e sua crueldade.

Todo mundo ficava olhando
sem entender o que sucedia.
Era algazarra de gente trabalhando
enquanto muita poeira subia;
um caminhão que entrava sem nada
depois com muitas toneladas
de pedaços, cacos e entulhos, saía.

Estava o caos estabelecido
naquela manhã, hoje histórica.
Derrubavam a Fábrica de Tecidos
patrimônio importante da história,
da cidade de Duque de Caxias
que com certeza não merecia
ser apunhalada em sua memória.

Sendo do trabalho a namorada
que nos alertava o compositor,
até o bom senso não lhe foi camarada
pois como catedral do trabalhador
mesmo um museu seria bom mimo
resguardando sua glória e destino
deixando da memória um pendor.

Alguém, procurando registrar o evento
empunhava a máquina de fotografias
enquanto a poeira trazida pelo vento
tinha origem na parede que caía.
No pátio, as árvores de maior porte,
depois de passar por muito corte
em pilhas, era nos caminhões que saía.

Um moço que portava uma pasta
e olhava com tristeza aquela cena,
trajando um calça de linho surrada,
parecia medir com imaginária trena
o tamanho da dor de sua desilusão
ao ver a covardia da demolição
sua alma parecia ficar pequena.

Lembrava de cinqüenta e três
quando João Coelho, a fábrica inaugurou
e Brásperola era o linho da vez
fazendo a moda que ela exportou.
Integrada ao complexo industrial
essa linha de tecido era a tal,
e a industrial têxtil, aqui se agigantou.

Foi muita a produção de seus teares
que de emprego, centenas geraram
ou mesmo chegando a milhares
nos três turnos em que trabalhavam.
Era uma atividade febril
no complexo industrial fabril
que na cidade, muitos se orgulhavam.

Da pequena pasta que o moço trazia
ele tira uma pequena matéria de jornal
que comentava a cidade em seu dia-a-dia
no aspecto político e no social.
Da fábrica o tema era a exportação
para a França, Argentina e Japão
do linho no mercado internacional.

Alguém perguntava pela placa afixada
indicando o responsável, empresa ou cidadão
por aquela arquitetura desmantelada,
aquela terrível e absurda demolição.
Não se encontrou nada que informasse
nem alguém que não a ignorasse:
ninguém conhecia a real face do cão.

Consultada, a prefeitura não informou
nem os jornais souberam informar.
Rádios, tevês, ciência não tomou
e, parece, não procuraram tomar.
Na cidade o mistério ficou implantado
e os cidadãos ficaram assustados,
sendo isso o que a obra causou.

Foi demolida uma fábrica inteira
junto ao centro de uma grande cidade
e a prefeitura sem tomar dianteira
não soube mostrar do fato a realidade.
Foi autorizada ou sem autorização,
que seu deu a tragédia da demolição?
Será extraterrena esta verdade?

4


Alguém que chegara àquela altura
pergunta entre perplexo e apressado
- É a construção do centro de cultura?
- Agora? - depois de derrubado?
Retrucava outro, de cabeça quente,
enquanto chegava mais gente
- nem pra shopping, templo ou mercado.

Um outro moço, de terno discreto
olhos grandes e bem esbugalhados,
achava que o demo estava perto
que o terreno ficou carregado.
Só podia ser o coisa ruim
pra fazer tanta desgraça assim
e ninguém ser responsabilizado

Ali foi produzido o linho de exportação
S-120 inspirado no modelo inglês.
E os sacos de juta era fabricação
que ajudava o Brasil a vender
no transporte de batatas e café
e aumentado suas divisas e a fé
de que com trabalho iria crescer

Imponente, no prédio principal
ficavam a creche e os escritórios,
o setor de treinamento de pessoal,
o posto médico e laboratório.
Na hora do almoço um pito:
em cena os talheres em agito
no arejado e espaçoso refeitório.

Um pedaço da história dessa cidade,
a golpes de inclementes marretadas.
que aos ouvidos, com certa ferocidade,
avisavam que não deixariam nada.
Se preciso, até o terreno iriam salgar
para que ali nenhuma flor viesse brotar:
seria um monumento a mente desocupada

Tijolos eram estraçalhados por marretas
Enquanto os arvoredos eram arrancados.
Um homem, do muro da ferrovia, espreita
corredores dissolvidos e braços cansados.
Era o homem, filho de um dos trabalhadores
E ele se via correndo pelos corredores
Nos dias das festas, pela fábrica patrocinados.

Lembrava de domingueiras antigas
promovida por seus trabalhadores.
Do time de futebol e da torcida
que as fiandeiras eram organizadoras.
A integração no esporte e no social
não havia somente na época do natal,
o ano inteiro ela era patrocinadora.

Um outro que se aproximara,
lembrou que a água começou a faltar
e faltando, à fabrica prejudicara.
Que tecido sem água, produzir não dá.
Em outras cidades com melhor acolhida
ela se preparou para a partida
e o governo nada fez para, melhorar.

Não havendo condições de se manter
em condições tão desfavoráveis
em outras terras foi se estabelecer,
deixando lembrança memoráveis.
Deixando uma fonte de recursos fechada
e muita gente da cidade desempregada.
E, a indiferença de alguns notáveis

como, ainda hoje, está acontecendo
com o exemplo da fábrica desaparecida.
O poder público parece não estar vendo
ou é seu interesse que fique desapercebida
essa miragem, sem a chaminé de outrora,
de gente honesta e trabalhadora
que faz do trabalho sua razão de vida.

Mas, conscientes da história, da cidadania,
do lastro que foi deixado pelo antigo
pois nunca é da noite para o dia
que o nosso patrimônio é construído,
professores, jornalistas, escritores, em tempo,
estão usando a inteligência e o conhecimento,
para resgatar o que foi destruído.

Não vamos chorar pelo leite derramado,
vamos do Stélio Lacerda, o livro ler.
As nossas raízes, nossos antepassados,
nosso patrimônio cultural defender.
A cidade de Duque de Caxias, camarada,
é do trabalho, amante, amiga, amada.
Não deixe, a cidade, da fábrica esquecer.






Inaugurada em 1949, a fábrica da Companhia União Manufatora de Tecidos de Duque de Caxias (Avenida Rio Petrópolis, atual Presidente Kennedy, bairro Corte Oito) empregou milhares de trabalhadores, produziu toneladas de sacos de juta e polipropileno, peças de linho e botões de madrepérola; gerou enorme receita tarifária e foi um dos símbolos da industrialização da cidade. Nos anos 1990, definhou e, em 2006 faleceu por insensibilidade patronal e omissão do poder público.

Stélio Lacerda (steliolacerda@yahoo.com.br) em “A FÁBRICA DE TECIDOS DO “CORTE OITO” – Duque de Caxias ∕ RJ - 2007


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