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cronicas-->Paliativos -- 29/07/2003 - 09:17 (Paulo Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sabe aqueles dias em que você se encontra com você mesmo. Foi o que aconteceu com ele num sábado a tarde.
Sentado na sua poltrona velha, diante de uma velha televisão, em um apartamento, sujo, minúsculo e velho. Ele se viu.
Trinta e poucos anos. Quinze quilos acima do peso. Sem mulher. Sem família. Uns poucos amigos que odiavam a vida mais do que ele. Sem perspectiva. Trabalhava há vários anos em uma repartição pública qualquer. Não conseguia definir o cargo que ocupava. Talvez fosse um carimbador público. Ao menos era superior ao servente. Tentou sorrir. Não conseguiu.
A idéia de meter uma bala na cabeça lhe rondava. Mas uma coisa lhe preocupava. O fedor. Imaginava quantos dias demorariam para sentirem a sua falta e em que estado de decomposição estaria o seu cadáver quando finalmente fosse encontrado. A Fedentina iria espantar qualquer sentimento de pena no seu velório. Se é que alguém iria aparecer. Ao menos morrendo ele se livraria de pagar os aluguéis atrasados da lixeira onde morava. Tentou sorrir. Não conseguiu.
Além de tudo era uma figura flatulenta. Os gases lhe proibiam de ter uma vida social. Problemas intestinais constantes lhe atormentavam. Talvez fruto de uma alimentação suína. O seu suor era fétido. Nem todos os perfumes vagabundos lhe livravam desse odor desagradável que lhe perseguia. Já tinha quebrado todos os espelhos da casa para fugir da verdade. O ser abjeto que ele encontrava pela manhã lhe assustava. Não lembrava se sempre fora assim. Talvez um dia, quando jovem, tivesse sido bonito, corajoso, inteligente. Ao menos inventando lembranças tivesse força para mudar o presente. Tentou sorrir. Não conseguiu.
Patético, talvez essa fosse a sua melhor definição. Fracassado talvez fosse melhor. Ou, senão, nojento. Talvez um suco desses adjetivos. Um patético fracassado nojento. A aquele cenário de horror que estava vendo, era simplesmente a sua vida. Nada havia construído. Nada iria construir. Nada para se orgulhar. Nada para lembrar.
Lentamente um sorriso foi lhe tomando a face. No começo tímido, como o da Monalisa. Depois largo, como o do gato de Alice. Pensou: "Hoje tem futebol na televisão". E tudo lhe pareceu pequeno.



Paulo J. Teixeira
23/02/02
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