Rafael, meu filho,
você já é um rapazinho que entende bem as coisas. Você sabe que seu pai vem há algum tempo insinuando coisas ao meu respeito. Ultimamente disse que eu estava lhe traindo com um colega do trabalho. Quanta loucura desse homem! Nos nossos vinte e dois anos de casados, jamais ousei em desonrá-lo, sempre me dedicando a ele e a vocês vinte e quatro horas por dia.
É, Rafael. Não sei o que se passa na cabeça de Ernesto. Provavelmente é o efeito do álcool. Temo que a bebida dele nos leve, um dia, à desgraça. E eu não quero esperar para esse dia chegar. Não agüento mais suas ameaças de morte, seus pratos quebrados e seus empurrões que, infelizmente, você e seus irmãos mais novos chegaram a presenciar, inclusive os de ontem à noite.
E ontem mesmo, filho, tomei uma decisão. Irei embora pra casa de mamãe amanhã à tarde, e, como eu não estou podendo entrar em casa, queria que você me ajudasse. Amanhã, quando seu pai sair para o trabalho, arrume as suas coisas e as dos seus irmãos e me espere na praça, próximo à Padaria de Seu Salgueiro. Lá estarei com um táxi aguardando por vocês para gente ir direto à rodoviária. Olha, já comprei até as passagens.
Não queria fazer isso filho, mas não vejo outra solução. Seu pai há muito perdeu o juízo, e não é justo que vocês paguem por isso. Lá na casa de mamãe estaremos seguros e acharei uma solução para as nossas vidas. Espero vocês lá, sem falta.
Da mãe que lhes ama mais do que tudo na vida.
Isaura.
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