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Contos-->A GALERA E O ATO -- 23/06/2004 - 09:21 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estávamos naqueles dias gélidos, precedentes das eleições municipais em Tupinambica das Linhas. Alianças eram firmadas. No futuro cobranças de influências e pagamentos, por troca de favores, haveriam de ser feitas. Por isso, para que ficassem indeléveis na mídia, os compromissos eram selados com atribuições de títulos de benemerência, e supostos reconhecimentos.
As fotos estampadas nos jornais, eram mais convincentes do que as cártulas de crédito, emitidas com selos dos tabelionatos oficiais.
Eu andava sorumbático pelas ruas, quando naquela sexta-feira, pensei em assuntar as opiniões vigentes, num local conhecido como "a boca do capeta". O trecho era notório, há décadas, pela reunião diária e matutina, dos menos apertados. Eles, ao trocarem idéias e notícias, faziam alaridos retumbantes sorvendo cafés ou tomando pinga.
Os populares comentavam a volta dos bondes ao sistema viário da cidade. As marias-fumaças seriam exumadas. Àqueles que lembrassem estar a humanidade vivendo já em o século XXI, no qual as viagens espaciais seriam tão corriqueiras quanto as de transatlântico, eram reservados os muxoxos e a pecha de loucos.
Com minha xícara fervente nas mãos, ouvia um velho conhecido, dissertar sobre os museus de água, duplicações necessárias e os demais planos mirabolantes, concebidos para o alento do eleitorado.
Logo surgiu Adélio cabeça-de-mico, dizendo que iria, naquela tarde ao bingo, onde sonhou ganhar uma nota preta. Ele vestia paletó amarelo, camisa verde, gravata vermelha, calça branca, e tênis azul. As meias brancas tinham listras pretas.
Ele falava, com veemência, do E.C.30 de Novembro, que naquele ano, se Deus quisesse, subiria às posições já ocupadas, com galhardia, num passado, não muito distante. A galera queria.
Ao retirar-se ele disse uma frase ontológica: "Se tempo fosse dinheiro, eu seria o cara mais rico do mundo". É claro que se referia ao seu tempo ocioso excedente.
Quando chegou defronte ao Café Fina Flor, sacou do bolso um lenço branco e preto. Com ele, voltando-se para trás, fez tchau aos remanescentes.
A gozação já esquentava, quando de repente, num átimo, uma espécie de chuva de granizo, ou meteórica, polarizou a atenção dos circundantes. Bolas de bosta canina atingiram cabeças, ombros, rostos e carros dos viventes ali presentes.
As pessoas embasbacadas, olharam pra cima e perceberam que tudo não passara, graças a Deus, duma pancada breve. Tupinambica das Linhas, meu amigo, minha amiga e senhoras donas de casa, estava deveras esquisita!
Ninguém, jamais poderia imaginar essa manchete nos jornais da cidade: "Choveu bosta em Tupinambica das Linhas!", mas que choveu, choveu!
Lembrei-me da seita maligna do pavão-louco, do trafico de influências, da difamação, dos desvios de sangue, e verbas nas casas de saúde, mas não falei nada. Não poderia melindrar as opiniões. A elite, igual aos latifundiários e coronéis nordestinos, estava indisposta aos diálogos. Os mandões faziam o que sempre souberam fazer. Eles prendiam e arrebentavam. Afinal não era esse o tipo de comportamento prevalecente entre os autoritários?
Eu vivia momentos de paz e não desejava quizila com ninguém. Com nojo, busquei a última moeda, existente nos meus bolsos, acostumados à inópia, e paguei a água de barrela.
Os murmúrios dos descompensados e envenenadores, esfriariam. Mas uma pergunta latejava na minha cabeça: Tupinambica das Linhas seria mesmo a terra dos bundudos? A terra dos bundões?




Contatos para materialização deste trabalho em HQ, livro ou filme, podem ser feitos com o autor pelo e-mail benjaminconstant@ig.com.br
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