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cronicas-->Intimidade -- 30/07/2003 - 13:09 (Patrícia Köhler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Intimidade

Queria dissertar hoje sobre a intimidade. Aquela coisa gostosa que você tem com seus amigos ou namorados de longa data, com seus irmãos, seus pais, maridos e esposas ("ex" incluídos), filhos.
Ela é um bem tão valioso que muitas vezes a gente só se dá conta disso num momento em que nos percebemos ao lado de alguém com quem não temos a menor intimidade, não há aconchego, acolhimento de idéias, cumplicidade até num silêncio sepulcral.
Um exemplo: você está refestelada no sofá e seu "caso" - estão saindo há uma semana - com a cabeça sobre seu colo. De repente seu estómago emite aqueele barulho, parece que você está com uma Anaconda na barriga. Se houvesse intimidade entre os parceiros, você certamente soltaria uma piada e ririam. Mas o que você sente é uma vontade quase incontrolável de sair correndo e se jogar do 10º andar. Tudo bem, não é pra tanto, mas um pouco incomodada você certamente fica. Mesmo que tente descontrair e faça uma piadinha, você e eu sabemos que por trás dela há um quê de constrangimento.
Ou então você está com uma diarréia (detesto esta palavra, não é pra menos que ela é o que é) terrível e não pode sair. Uma garota que você conheceu há dois dias quer muito te ver. Se fosse uma namorada com quem houvesse um mínimo de cumplicidade, você certamente contaria a ela (e se não, é idiota. Namoradas servem pra te ajudar até nas maiores cagadas), inclusive na esperança de ela poder te ajudar de alguma forma, cuidar de você, te indicar um remédio. Mas e a esta garota, você abre o jogo? Claro que não. A menos que queira se livrar dela.
São tantos os exemplos que não daria para enumerar...você usa aparelho nos dentes e, ao acabar de comer uma salada, um pedacinho de uma alface jaz preso às garras metálicas. Você e seu recentíssimo novo amor conversam e você ainda ri bastante, mostrando todos os 32 dentes e, claro, o matinho intruso. Quando vai ao banheiro, ao se olhar no espelho e retocar o batom, repara nesta hecatombe. E aí você perde a noção de tudo. Não sabe se volta à mesa e age como se nada acontecera (tá bom!) ou se não sai nunca mais do banheiro do Fran´s Café. Viu como intimidade é tudo numa hora destas? Você voltaria à mesa e ainda cobraria do seu namorado: "Pó, Marcelo, por que não me avisou daquela alface na minha boca?". Mas neste caso, o mais provável é que ele mesmo tivesse se encarregado de adverti-la: "Lú, tem uma alface presa no seu dente. Melhor palitar os dentes, gata."
Quando não há esta cumplicidade, ficam os dois cheios de dedos, tentando adivinhar o que o outro vai pensar se você falar isso ou aquilo.
Você pode e deve estar pensando: "mas como a gente chega a ter intimidade com alguém sem passar por isso? Não tem como, faz parte de qualquer relacionamento".
E eu concordo. Mas acontece que os relacionamentos estão ficando tão efêmeros, que a cada dia está mais e mais complicado chegarmos a um grau aceitável de cumplicidade e intimidade.
Eu mesma estou solteira há um bom tempo justamente por ter me cansado desta vida sem vínculos, tentando ler pensamentos e me ajustar às idéias dos parceiros. Gosto de envolvimento, cumplicidade total, entrega. Namoros, e inclusive amizades, para mim, têm muito mais sabor quando largamente providos destes ingredientes.
E as pessoas estão cada vez mais com receio de namorar, se entregar. Claro que isso é muito mais comum na ala masculina. Na mulherada, o desejo de se unir a um príncipe é atávico, algo talvez inerente ao cromossomo XX. Mas está crescente também no clube do estrogênio esta vontade de liberdade, de não se doar por completo e até de competir com os homens no quesito "solteirice".No momento, até eu prefiro continuar solteira, já que ao menos com as palavras tenho intimidade desde que nasci. Estou aproveitando então para escrever e criar cumplicidade com você, que me leu até aqui.

Patrícia Köhler, estudande de jornalismo, poeta, escritora. E desempregada, mas aí já é pleonasmo!

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