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Cronicas-->A Vida -- 31/07/2003 - 10:54 (Mesaque Severino dos SAntos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Crise mais crise, dólar, inflação, economia, viés, medo, incerteza, dúvida, curiosidade, sem saber o que está acontecendo, o pobre vai vivendo a sua vida. Vivendo com todas as letras da palavra vivendo.
Viver todos os dias, lutando para sobreviver, as seis em ponto acorda, levanta, as costas doem, as mãos doem, os pés doem, tudo doem. Recorda do trabalho de orelha seca, encher o carrinho de areia, encher o carrinho de pedra brita, carregar o cimento nos ombros, o sol quente, o rosto com rugas, é novo de idade, mas o sofrimento, a luta, a labuta é grande.
Caminha para o banheiro, tateia no escuro a tomada, lembra que a dita cuja queimou há duas semanas atrás, acende a luz do corredor, e inicia o ritual de escovar os dentes, a pasta já acabou, hoje dia vinte e cinco, quase no fiz do mês, parece que o dia dez não chega.
Pega o sabão de quadro, feito pela esposa com as sobras de óleo, passa na escova de dente, sente um arrepio quando a espuma começa a aumentar dentro da sua boca, fecha os olhos para não pensar em nada, enxágua a boca, lava o rosto, molha os cabelos em desalinho, enxuga em uma toalha que mais parece um pano de chão de tão fino e roto que se encontra.
Penteia os cabelos com um pente faltando vários dentes, da uma rápida olha no espelho do banheiro, quase não vê o sorriso devido o escuro e o que sobrou do espelho, pois a maior parte está tampada pelo mofo ou outra substància que caiu e manchou aquilo que era um espelho de banheiro.
Passos lentos, passos cambaleantes, caminha para a cozinha, a mesa toda suja, louças do dia anterior em cima da mesa, a pia abarrotada de panelas, pratos e talheres, restos de comidas, faíscas de pão pelo chão, algumas baratas percorrendo pelo piso e saindo em correria pela aproximação do indivíduo.
Abre a geladeira azul, procura ali um resto de café coado na noite que passou, várias garrafas de água estão ali, algumas sem nada dentro, outras pela metade, lá no fundo encontra o bule amassado por meio de café. Coloca no fogão, tenta acender o fogo com um isqueiro, na quarta tentativa consegue fazer que o fogo brote e o bule é colocado em cima, procura um pedaço de pão, encontra em um armário sem porta, com a companhia de várias caixas de remédio, dipirona, anador e outros produtos incluindo alguns comprimidos para dormir.
Ao morder o pão, ele estrala dentro da sua boca, pão duro, mais do que pão amanhecido, pão velho, pão usado, um pedaço de pão com um gole de café, mais um pedaço daquilo que outrora era um pão francês, hoje um pão de pobre.
Coloca a camisa amarrotada, rasgada, antes era uma camisa de marca, ainda da para ler "Pierre Cardim" bordado no bolso, foi ganho não sabe de quem e quando, só sabe que a usa para ir ao trabalho.
Sai de casa, os ventos frios, cortantes como uma navalha passa pelo seu rosto, sorri, sente que vive, sim vive na miséria, na pobreza, naquela vida de tristeza, mas nasceu pobre, vive pobre, morrerá pobre. Caminha em passos apressados rumo ao ponto de ónibus, várias pessoas aguardam o coletivo, cada um para um lugar, um rumo, um destino.
De repente aparece o "busu", lotado, passa pelo ponto sem dizer um tchau, um grita, outro xinga, outra põe a mão na cabeça desesperada, pois já é tarde e se chegar após o horário, perde o dia e leva uma bronca do patrão.
Já está conformado com a sua vida, sabe que não adianta desesperar, a vida o curtiu, está insensível a tudo. O ónibus vai longe, ele sorri, que importa se chegar atrasado mais um dia, não é culpa sua, logo aproxima mais um, o povo se alvoroça e vira aquele sarau, ele olha e aproxima da multidão, e luta por um lugar em pé dentro do ónibus.
Empurra um, outro, mais outro, alguém o empurra, outro pisa no seu pé, sente alguém o puxando pela camisa, um barulho de algo rasgando ecoa no meio do povo, sente o rosto envermelhar, o sangue começa subir para cabeça, começa sentir uma tontura, levanta o braço musculoso e agarra a mão que está com o pedaço da sua camisa, aperta, torce um pouco, arrasta o sujeito para fora daquele alvoroço de pessoas, debaixo do ponto de ónibus encara o indivíduo, o indivíduo olha nos seus olhos, pela sua cabeça passa toda sorte de raiva, sabe que neste momento haverá briga, se prepara para esmurrar o rosto daquele cidadão, o cara sorri, saca um trinta e oito e sem dizer nenhuma palavra aperta o gatilho, o barulho é grande, sente no peito um ardume, o sangue aflora, mancha a camisa, as pernas bambeiam, os olhos começam a escurecer, percebe que está caindo, cai ao chão, a multidão esquece o ónibus todos se voltam, o ónibus se esvazia, e todos olham para aquele homem deitado no chão sem vida, procuram o autor do crime, ele já encontra longe, correndo, fugindo.
A vida terminou, acabou, não levantará mais cedo, não mais escovará os dentes com o sabão de quadro, não beberá mais café esquentado com pão amanhecido duro, tudo findou, todo sofrimento chegou ao fim.

Por: Mesaque S. Santos
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