Tudo começou com um pneu furado, era 22:30, lugar muito escuro, uma rua deserta, sentiu o carro desgovernar, parou logo mais adiante, desceu e verificou que o pneu dianteiro do lado direito estava murcho.
- Caramba, terei que trocar o pneu para poder chegar em casa.
Abre a porta mala e começa procurar o macaco, e sempre assim, quando a gente procura nunca acha, depois de procurar e sentir o rosto ficar vermelho de raiva, consegue achar através do tato o macaco, coloca no chão, e volta a procurar naquele breu a chave de roda, achou de tudo, jornal velho, revista antiga, lata de tinta, pedaço de mangueira, chave de fenda, uma làmpada queimada e quando estava já desistindo achou a danada.
Leva tudo para o pneu furado, agacha e começa a desparafusar os parafuso das rodas.
- Amigo, você tem fogo aí?
Leva o maior susto da sua vida, nem imaginava que alguém estaria naquele lugar, a essa hora da noite, e num frio de rachar, vira o rosto e da de cara com um cidadão bêbado que nem um gambá, com um cigarro todo torto na sua boca, e custando ficar de pé de tanta cachaça.
- Não tenho não - diz ao bebum.
- Que pena, queria fumar um cigarro.
- Pois é, fico devendo ao senhor.
Concentra no trabalho que tinha começado, tira o primeiro parafuso, começa no segundo e...
- Hei colega, o que você esta fazendo aí agachado no chão?
- Será que não deu para você perceber que o pneu do meu carro furou?
- Furou? Que legal, você vai trocar?
- Mas é claro que vou trocar, ou você acha que vou embora com o pneu murcho.
- Hei companheiro, você não tem aí dentro do seu carro, uma pinguinha?
- Mesmo se tivesse não daria para você.
- É mesmo? Que legal.
Aquela conversa já estava torrando a paciência, e doido para terminar de trocar o pneu, não dá mais atenção ao cara que está do seu lado.
- Hei - entra o bebum de novo com a conversa - você mora aqui perto?
- Não senhor.
- Você estava trabalhando?
- Sim senhor - responde em monossílabos, para encurtar a conversa.
- Você quer uma ajudinha?
- Não senhor.
- Hei, amigo, você bebe?
- Só água.
- Fuma?
- Pelo amor de Deus, quer deixar eu trabalhar em paz?
- Ei, amigo, você trabalha de borracheiro?
- Olha aqui, seu bêbado, mais uma palavrinha, te darei um soco na sua cara e te jogarei no meio daquele capim.
- Puxa, você é um cara nervoso, você sabe que sua cara é muito feia?
Pronto, aquilo foi a gota dágua, levantou, pois a chave de roda no chão, e abraçou com o bebum e levantou do chão e já ia jogar ele no capim ao lado da rodovia, quando um carro parou e duas pessoas desceram e logo o agarraram e separou o bêbado.
- Que isso amigo, que agressão é essa?
- Esse besta quadrado deste bêbado, está me tirando do sério.
- Qualé amigo, esse coitado não faz mal a ninguém.
E nessa discussão toda, mais dois carro para, e a confusão aumenta, discussão, gritaria, palavrão, e o auê foi crescendo tanto que o pneu ficou sem ser trocado, o bêbado num canto olhando a confusão armada, o dono do pneu de um lado sorrindo da briga que a cada momento cresce.
Para uma moto, olha o bolo de gente, um grito, um ai, um soco, pescoção, um tapa, e a sirene da polícia ecoa no ar, e um corre corre começa, a polícia chega jogando gás lacrimogêneo no meio da multidão, tiro para o alto, paulada para todo lado, e a polícia consegue dissolver a briga.
O povo se dispersa e cada um segue o seu rumo, são 00:00 e o dono do pneu agacha para trocar o pneu que ficou no segundo parafuso, começa apertar, pula para o terceiro e...
- Oi moço, o que você esta fazendo aí agachado?
Olha e o bêbado está em pé do seu lado com um sorriso inocente nos lábios.
Por: Mesaque S. Santos
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