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Contos-->BORDADOS DE TIAS -- 27/06/2004 - 16:15 (Maria Luiza Kuhn) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

BORDADOS DE TIAS


Velhas tias bordam na sala. Tagarelam sobre pontos em cruz e outros tantos.
Algumas bem matronas, outras nem. Um tio lê a bíblia silenciosamente, ouvindo radio num som individual. É único do sexo masculino no meio das velhas tias.
Os fantasmas saltitam felizes e vão dançando na volta dos móveis velhos cheios de mantas de inverno.
O fogão a lenha crepita e o fogo se assusta. Reascende.. Chamas de esperança visitam a sala. A mãe das tias pediu licença aos seus mentores e veio dar uma espiadinha na filhas e está sorridente. Pisca discretamente para o seu companheiro que nem na eternidade se desgrudou dela e abraçados concordam que a suas meninas aprenderam algumas lições de vida.
Hoje são velhas tias que bordam tapetes, toalhas de banquete e inventam peças nos seus crochês sem fim.
Relembram entre um ponto e outro suas histórias, algumas próprias, outras dos filhos.
Contam que o córrego era tão limpo que na suas meninices elas se banhavam nas tardes de verão como se o riacho fosse uma límpida piscina. Difícil é convencer os netos sobre isso. Os balanços nos cipós se misturam na lembrança às cores dos bordados.
Agora elas trocam receitas: Biscoitos de manteiga, bolos de nata, cucas de uva e requeijão.
Mudam de assunto. Catapora dos filhos, coqueluche do menino da mais velha que quase se finou de tanto tossir, coitado. Hoje está um marmanjo de quase dois metros de descendência germânica.
Voltam ao ponto em cruz e resolvem tomar um chazinho de intervalo. Que venha à mesa, a cuca fresquinha, o pão de milho e a saudade do café da tarde com o pai e a mãe delas. Algumas engolem lágrimas outras disfarçam melhor.
Mas o mundo é delas. Prosaico universo da sala que já mudou de cores nas paredes, cortinas nas janelas, mas continua abrigar, agora, a terceira geração.
Vão tecendo nos panos e nas linhas frases sem nexo. Isto para os outros , para elas são contos de vida. Histórias de amor. Cochichos dos sonhos. Cochilos do cotidiano.
Velhas tias bordam na sala. Alguns netos aprendem a faina de graça e pirraça. Estragam linhas e panos como aprendizes curiosos.
As tias sorriem na doce ilusão de perpetuar os encontros na sala.
Velhas tias bordam....


Ma.Luiza/2004
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