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Cordel-->ESTÓRIA DO CHICO-JÁ-TEVE -BARBOZA LEITE - Ed.Pedro Marcilio -- 11/02/2008 - 06:26 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTÓRIA DO CHICO-JÁ-TEVE

- 1ª PARTE -


Chico-Já-Teve é o nome
de distinta personagem
até o seu sobrenome
prejudica sua imagem

Trabalhador pertinaz
Chico não foge a serviço
inteligente e capaz
não escolhe compromisso

De fardunço ele não gosta
não intrica com ninguém
nunca deixa sem resposta
o deboche ou o desdém

Anda sempre avexado
conhece a lapa do mundo
sujeito destabocado
é do nordeste oriundo

Está sempre grungunzando
se chega em casa mais cedo
suas coisas não encontrando
fica a família com medo

Jamais o que ele procura
Chico encontra onde guardou
para sua desventura
- mudou-se e não avisou

Pergunta à esposa, então
e ela não sabe informar
na maior sofreguidão
Chico só falta chorar

Arma o fiango e descansa
quase meio esbilitado
Todo mundo entra na dança
para achar o procurado

sendo muito diligente
panema longe de ser
Chico fica impaciente
se começa a perceber

Insinuação de mangofa
de sua falta de sorte
ronca forte e o santo mofa
porque o homem é de morte

Imaginem o sucedido
certa vez com o cidadão
sempre atento o prevenido
para não ter decepção

Um mucufa o provocou
e, foi aquele demastreio
Chico-Já-teve se empombou
pois não gosta de paleio

Com energia falou
não gostar de galizia
se nunca você apanhou
agora chegou seu dia

Dito o que se preparou
para revidar o abuso
uma arma não achou
que dela fizesse uso

Chico se lamentava
felizmente não achei
a arma que carregava
e por isso evitei

de um crime cometer
e a tua vida poupei
agora eu quero saber
com quem a arma deixei

Arma tua já tiveste
disse-lhe em casa a mulher
mas você, cabra da peste
nunca sabe o que quer

cabeça de munduru
você merece é morrer
ser carniça que urubu
também morre se comer

A mulher estava danada
com o fracasso do Chico
baixou-lhe a ripa, a danada
com o fundo do penico

dizendo-lhe, seu condenado
deixa logo de moleza
deixa de ser abestado
faz as coisas com presteza

Teus filhos estão crescendo
e o que é que vão dizer
de um pai sempre perdendo
o que eles não vão ter

comida paz e agasalho
e livros para estudar
os frutos do teu trabalho
eles tem que aproveitar

coçando o seu mucumbu
suando como chaleira
como um prato de angu
escorrendo pelas beiras

Já-Teve, o Chico saiu
para a rua abilolado
nem sequer se despediu
de quem estava ao seu lado

meteu o pé no caminho
correu como boi sangrado
só parou com um espinho
na sola dope enfiado

Virou-se, então, para trás
para verse alguém o seguia
vinha com pressa um rapaz
que de longe o perseguia

era o mesmo da briga
já antes mencionada
não vinha com cara amiga
Trazia a cara amarrada

Num instante, pensou Chico
esse cara é renitente
já apanhei de um penico
não levo o caso pra frente

Vou me plantar esperando
que ele chegue mais perto
pode até vir com um bando
que hoje a coisa eu acerto

Aconteceu que mudou
de pronto a situação
Chico até se encabulou
com a rápida transformação

Quem o vinha perseguindo
era o seu melhor irmão
foi como chuva caindo
para refrescar o verão

O rapaz ficou sabendo
como o Chico padecia
saiu disposto correndo
vendo se lhe oferecia

a paz de que precisava
o nosso Chico-Já-Teve
que enquanto lhe escutava
de besteira se absteve

Todas as coisas acontecem
com a intenção das pessoas
que nem sempre o mal merecem
como criaturas boas

E, Chico-Já-Teve era assim
como um poço de ternura
não via o lado ruim
com a sua alma pura

Pacífico como um gambá
o seu fraco era feijão
com cambica ou aluá
pra compor sua refeição

Respeitava qualquer um
que andasse no riscado
não dava folga a nenhum
que bancasse o abusado

Mas era sem sorte o coitado:
cada vez que se influía
querendo ficar de lado
em desgraça se metia

certa vez indo à feira
para comprar jirimum
e um pouco de macaxeira
pra quebra o seu jejum

disseram-lhe que não havia
o que ele procurava
enquanto na frente ele via
os produtos e retrucava:

então não venda meu senhor
produtos que não conhece
não precisa ser doutor
quem a verdade oferece

Está aqui o que procuro
e só não ver quem não quer
confesso-lhe que não aturo
abuso, nem de mulher

Pegou na mercadoria
e ao merceeiro mostrou
- era isso o que queria.
diga porque me negou

O merceeiro, zangado
disse: deixe isso aí,
não se meta de engraçado
saia logo por ali

o que eu vendo é aipim
e abóbora, da melhor
não faça pouco de mim
pra não levar a pior

Chico, então, ficou sabendo
o uso que a terra troca
como fio se torcendo
no fuso de cada roca

saindo dali Já-Teve
o Chico nosso conhecido
sua opinião manteve
pois não estava convencido

Como quem não quer, querendo
foi a outra mercearia
na cachola remoendo
outra duvida que o afligia

-Foi entrando e perguntando
de quem é essa bodega?
- ao que o dono, retrucando
disse, qual o bicho que lhe pega ?

Mostrando-se muito ofendido
foi as mangas arregaçando
e dizendo, está perdido
quem aqui entra zombando

Numa casa como a minha
abuso não admito
bodega é a sua cozinha
cheia de mosca e mosquito

Bodega é a casa da sogra
onde até você é gente
veja se a língua dobra
ou daqui sai de lombo quente

O jeito que Chico achou
foi desculpar-se depressa
e dali se retirou
para encurtar a conversa

Ficava sabendo, então
que um termo tão natural
nas terras do sem sertão
não tinha sentido igual

Noutras partes do País
- pois chovera no molhado
com a pergunta infeliz
que o deixou humilhado

Mas, é errando que se aprende
foi o que pensou a seguir
e, um homem não se ofende
quando ganha em se instruir

Chico continuou
caminhado ao Deus dará
outros locais alcançou
mas não quis se demorar

Botou o pé na estrada
ganhando a lapa do mundo
estava de pá virada
com um desgosto profundo

pelos choques que sofria
por não ser compreendido
nem sempre o que ele dizia
era fielmente compreendido

Das coisas que desejava
a justiça era a primeira
era o que lhe interessava
para a humanidade inteira

Já-Teve ficava alegre
quando as criança encontrava
ás brincadeiras entregues
era o que lhe agradava

Não podia suportar
a dor que a vida consome
de crianças sem brincar
e de órfão passando fome

de velhos abandonados
nas ruas catando lixo
- ficava, então, revoltado
e capaz de virar bicho
..........................................





Termos utilizados no Cordel


Açulerado - apresado, inquieto
Amiudar - tornar a canto sucessivo (do galo)
A lapa do mundo - terras distantes
Arripunar - repugnar
Babage - erva rasteira incipiente
Bater as botas - morrer
Biqueiro - fastioso
Carritia - seqüência ininterrupta
Chambregado - ébrio
Cheio de galizia - ...implicância
Ter coragem de matar coandu (porco espinho)
com a bunda - capaz de grandes façanhas
Comer no mesmo côcho - nivelar-se
Dar murro em ponta de faca - querer o
impossível
Mangar - debochar
De primeiro - antigamente
Esgalamido - glutão
Farnezim - frenesi, mal estar
Farrambamba - fanfarronada
Friango/tipóia - rede ordinária
Fracatear - esmorecer
Furdunço - tumulto
Grungunzar - remexer em coisas
Inticar - implicar
Mangofa - mofa, escárnio
Mondrango - incgaço
Mucufa - covarde
Mucumbu - cóxic
Munduru - montículo
Pàleio - pilhéria
Panema - palerma
Sobrosso - medo
Taipeiro - muito cheio de comida




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