Usina de Letras
Usina de Letras
21 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62298 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22541)

Discursos (3239)

Ensaios - (10394)

Erótico (13574)

Frases (50690)

Humor (20042)

Infantil (5462)

Infanto Juvenil (4786)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140827)

Redação (3311)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6215)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->A Guerra de Canudos-Vol.1 -BARBOZA LEITE -Ed.Pedro Marcilio -- 12/02/2008 - 07:32 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A GUERRA DE CANUDOS
VOLUME 1

- ou a história dos
fanáticos que
derrotaram
um exército:


Só faltavam quatro anos
para o século terminar;
e uma nova era, então,
o Nordeste começar;
quando foi desenrolada
bem no centro do sertão
a história que eu vou contar.

Bem ao norte da Bahia
Canudos ficava encravado
sendo lugar propício
a um viver sossegado,
quando ali veio morar
se ocupando de outro ofício
um beato, por um crime procurado.

Por Antônio Conselheiro
passara a ser conhecido,
pensando que do seu crime
iria ficar redimido,
pois abrigara no peito
a disposição sublime
de um cristão convertido.

Assim começa esta página
da história brasileira
tendo Deus por testemunha.
Era, então, a vez primeira
que o escritor Euclides da Cunha
ao escrever “Os Sertões”
uma odisséia compunha.

Acabava a Monarquia
e a República começava
instalando-se um mal estar
que à ordem ameaçava;
deposto o Imperador,
conferiu-se a um militar
o poder que se instalava.

Corria pelo Brasil
uma nova sensação
que atravessava o País
estremecendo a Nação,
tornado-se muito difícil
aos ânimos conciliar
no sentido da união.

Sendo o regime inspirado
nas razões da liberdade
que iria produzir
uma nova sociedade,
havia muita discussão
e questões se insurgiam
em torno da novidade.

eram totalmente isolados,
dominavam tantas distâncias
à maneira de potentados,
os donos de latifúndios
que perversos e analfabetos,
tinham jagunços como agregados.

Tinha esses a obrigação
de as terras cultivar,
mas sendo o patrão atacado
não precisavam esperar;
batiam-se com desespero
de clavinote, faca e punhal,
pois a ordem era matar.

E assim os donos da terra
exerciam o seu poder;
qualquer ação contra eles
fazia o sertão tremer;
era cruel a submissão
à qual quem fosse contra,
fugia para não morrer.

Dessa forma tornou-se
uma prática rotineira
fugir da perseguição
e cair numa ratoeira
como então acontecia
com um cabra que fugindo
só achava uma maneira

de defender sua vida
ao beato se aliando;
pois em Canudos ficava
resguardado e trabalhando;
e, todos que vinham assim
correndo do desespero
iam uma cidade formando.

Canudos então crescia
parecendo um formigueiro,
um centro de convergência
transformado num celeiro,
um espírito comunitário
atraindo e aumentando
o número de forasteiros.

Era um trabalho arrojado
o de Antonio Conselheiro
alterando comportamentos
naquele sertão brasileiro
onde o que era cultivado,.
dividido era por todos,
Sem intervenção do dinheiro.

Era uma subversão
o que o beato fazia
gerando procedimentos
que ali não se conhecia,
não merecendo perdão
dos ricos proprietários
que ele contradizia.

Estavam em pé de guerra
os “coronéis”sertanejos
à espera que o Conselheiro
lhes desse o menor ensejo
de contrariar suas leis
para, sem mais aquela,
ficarem com a faca e o queijo.

Faziam forte pressão
ao governo brasileiro
declarando-se ameaçados
pelo beato missioneiro
que arrebanhava os jagunços
esvaziando as lavouras
com fama de milagreiro.

Era assim que começava
uma verdadeira implosão
que iria abalar
a vida naquele sertão
assim como aconteceu
quando chegaram em canudos
as forças de ocupação.

Foi medonho o aparato
que o governo enviou
sob comando de um coronel
que a história destacou
por bravura e capacidade
em manobras estratégicas
que, no sul, orientou.

Estava a sua disposição,
pelo que lhe fora informado,
de em dois tempos acabar
com o beato e seu reinado,
partindo assim convencido
de voltar vitorioso,
como estava acostumado.

Levava a convicção
aliás, bem razoável,
de abater sem mais demora,
assim como era provável,
as forças do Conselheiro,
que seriam dominadas
de uma forma inevitável.

o pretexto principal
que movia tanta ação
era que Canudos relutava
contra a implantação
do governo republicano
do qual fora baluarte
o Marechal Floriano.

Não se podia deixar
que jagunços mal armados
viessem ameaçar
o governo já formado,
depois que a monarquia
perdera para a República,
estando o Imperador exilado.

Foi um esforço perdido
o daquele coronel
da batalha quase ao início
sorveu uma taça de fel
sem nenhuma glória obter
acabou assassinado
sem retornar ao quartel.

Uma descuidada omissão
o coronel cometeu
menosprezando os jagunços
cuja prática surpreendeu
a um contingente dotado
de uma estratégia formal
que, ali, não prevaleceu.

Foi terrível o morticínio
dos soldados descuidados
ao varejarem a caatinga
garbosamente fardados
e expostos mais facilmente
aos tiros da lazarinas
como alvos já esperados.

Adotados pelos jagunços
tornou-se uma norma prática
que funcionava a contento
deixando a infantaria apática,
quando eles no chão surgiam
de onde não foram esperados,
tornando a situação problemática

para as forças invasoras
que não esperavam o embaraço
que criavam para o governo
com um inesperado fracasso;
urgia que outras expedições
fossem enviadas a Canudos
pra extinguir o cangaço.

Jagunços e cangaceiros,
de bandoleiros chamados,
eram nobres sertanejos
que estavam fanatizados
por Antonio Conselheiro
que a todos eles havia
lentamente aliciado.

O argumento que havia
conforme os latifundiários
era que o Conselheiro
à República era contrário
e defendendo a Monarquia
contrariava o regime
como um reacionário.

Estava uma guerra instalada
entre o sertão e a cidade
era a morte do selvagem
em nome da criatividade
era forte contra o fraco
como se não fossem irmãos,
com mesma ferocidade.

As primeiras escaramuças
resultaram no que deu
deixando o País assustado
quando o brilho arrefeceu,
das forças que foram enviadas
cheias de galhardia,
para serem destroçadas.

Uma nova expedição
teve que ser preparada
para expulsar os jagunços
de uma cidadela cercada
que às forças não se rendia
e mais problemas criava
sempre que era atacada.

Assumia uma dimensão
que as forças não contavam
ficando mais reduzidas
sempre que atacavam,
essa guerra de Canudos
assumindo proporções
que a elas esgotavam.

Canudos enchia-se de gente
aumentando a resistência
eram outros oprimidos
das mais várias procedências
atraídos para Canudos
pela fama do beato
quem a eles dava clemência.

De Bom Conselho, Naruba
Cumbe, Monte Santo, Uauá
Inhanhupe, Tucano
Jeremoabo, Maçacará
Entre Rios, Mundo Novo
Jacobina, Itabaiana,
todos iam para lá.

As forças legais fracassaram
nas duas primeiras incursões
ficando nas mãos de jagunços
vários tipos de munições
que eles não desperdiçavam
aumentando suprimentos
para outras ocasiões.

Reuniram-se batalhões
vindo de vários estados,
com brilhantes oficiais
em outros combates treinados,
que pela segunda vez
iriam sair de Canudos
novamente derrotados.

Dos estados Nordestinos
de São Paulo e de Minas
convergiam mais fanáticos
para ocupar as colinas
que os jagunços defendiam
tentando salvar Canudos
com uma fúria assassina.

Um General de brigada
dirigia a invasão
feita pela segunda vez
escalavrando o sertão
desde junho até outubro;
no entanto sem conseguir
chegar a uma conclusão.

quase vinte batalhões
foram, então, reunidos
compondo várias brigadas
e em colunas divididos
para atacarem Canudos
deixando o chão arrasado
vingando o que foi perdido.

Envolvia três generais
e o triplo de coronéis
fora tenentes e capitães
retirados dos quartéis,
infantaria e artilharia
combinadas para liquidar
com a massa dos infiéis.

Um corpo de engenharia
abria estradas no chão
por onde passassem as tropas
conduzindo até canhão
e as armas de intendência
atendimento hospitalar
mantimentos e munição.

Já o desgaste era grande
nas duas frentes de combate,
com muito tempo de luta
conservava-se num empate.
os reforços dos dois lados
prolongavam um jogo duro
e adiavam um cheque-mate.

Se um lado aumentava
o outro também crescia
prolongando mais a luta
que em Canudos ocorria.
entre as forças do governo
quase ninguém dormia.

Durante cerca de três meses
uma nova preparação
para o ataque definitivo
às forças da rebelião,
ia ser a terceira vez
que um terrível morticínio
abalaria o sertão.

A 1ª. coluna partiu
de Cocorobó para Canudos
conforme planos já feitos
e minuciosos estudos;
mas em Macambira e Trambubu
num ataque que fracassou,
as forças perdiam quase tudo.

Incluindo o seu comandante
com mais seis oficiais
que ali perderam a vida
junto com as tropas leais
para 140 homens
postos fora de combate
as perdas foram totais.

A 2ª coluna marchava
de Rosário na direção
da cidadela encravada
no vértice da operação
sem fazer muito progresso
nas áreas que atolaram
os animais de tração.

À distância de três léguas
do Vaza-Barris, onde esperavam
encontrar árvores frondosas
- um sonho que ali alimentavam
os soldados combatiam
xique-xiques e mandacarús
que sua marcha atrapalhavam.

Iam cortando com facões
os espinhos afiados
dos cardos, croatas, unha-de-gato
que surgiam de todos os lados
até vencerem a caatinga
tangidos pela fome e sede
com os trajes esfarrapados.

O silêncio era medonho,
não piava um gavião,
só os golpes dos facões
os nervos feriam do sertão;
uma insuportável ansiedade
manifestavam os soldados
de entrarem em operação.

No lugar chamado Angico
começou a provocação.
Fazia um calor medonho
que impedia a respiração,
quando os jagunços interviram
tentando conter o avanço
das forças de ocupação.

A 1ª coluna estreava
mesmo sem autorização,
pela surpresa do ataque
ao 25º batalhão,
o seu comandante ordenando
o começo da ação..

Os jagunços se ocultavam
no fundo de um descampado,
em trincheiras naturais
ficando bem abrigados
e lutavam valentemente
impedindo a passagem
da coluna de soldados.

Foi rápida a investida
prontamente rechassada
com o domínio das forças
que seguiram pela estrada
com a baixa de dois soldados
e a morte de quatro jagunços
quando a luta foi sustada.

Tinha a marcha que seguir
dali, com a maior urgência,
exigindo a caminhada
mais vigilância e prudência
para chegar em Canudos
ainda na mesma tarde,
sem piores conseqüências.

Assim foi feito; a coluna
com a marcha retomada
prosseguiu o seu trabalho
arrastando-se pela estrada
de vez em quando encontrando
esqueletos de soldados
mortos de emboscada.

Fizeram fogo os jagunços
contra duas companhias,
os tiros vindo do alto
o tiroteio se expandia
por cima dos invasores;
os estragos sendo terríveis...
longe, o brilho do sol morria.

Canudos se defrontava
com o morro da favela
onde as forças legais
se instalaram com cautela,
ali tem que ficar
nos vinte dias seguintes,
caídas numa esparrela.

À cavaleiro dos montes
onde instalaram trincheiras
sem às forças darem tréguas,
com suas rajadas certeiras
os jagunços atiravam
sem que fossem atingidos
e matando de qualquer maneira.

Cerca de seis mil homens
das forças de ocupação
ficara ali sem saída
sem condições de ação
com cordões de segurança
pelos flancos e retaguarda,
garantindo a posição.

Tornou-se a Favela um cenário
de episódios lamentáveis,
com prejuízos sensíveis
e fracassos inegáveis
que as forças legais sofreram
obstadas pelos jagunços
em suas posições invejáveis.

Elas atingiram a Favela
quando já escurecia
com cinco batalhões protegidos
por um grupo de artilharia,
sem tempo de reconhecerem
os perigos encontráveis
depois de um penoso dia.

Do coronel Tamarindo
encontraram o esqueleto
com a farda que vestia
misturada com os gravetos
dos galhos onde foi pendurado
depois de ser degolado,
a cabeça posta num espeto.

Foi na expedição de março
que tal coisa aconteceu,
ao comando de Moreira César
que na batalha morreu;
da fúria dos bandoleiros
foi feliz quem fugiu
se de medo não morreu.

Da primeira expedição
as vítimas eram encontradas
com marcas de perversão
a que eram acostumadas
as criaturas sem lei
que assim se divertiam
deixando o terror nas estradas.

Na verdade nada tiravam
dos corpos assassinados,
deixavam-nos com roupa e tudo
pelos galhos espalhados,
só as armas eles queriam,
saindo de suas vitórias
sempre mais municiados.

Assim a expedição avançava
distando de Canudos uma légua;
a noite chegava, afinal
trazendo, talvez uma trégua;
já apareciam as plantações
de cana, mandioca ou milho,
como bem mandava a regra.

Mergulhado no poente,
o sol tinha se escondido
quando o avanço das forças
foi subitamente retido
a pouco mais de mil metros,
já Canudos se entremostrando
em posição de sentido.

Haviam atravessado o sertão,
vindas de Monte Santo,
tendo que abrir caminhos
para enfrentar muitos espantos;
fome, sede e exaustão
sendo-lhes fiés companheiras
até então, e por enquanto...

O luar era tão puro
e a brisa deliciosa
tornado, ironicamente,
a noite maravilhosa;
no entanto, de cansaço
a morte lhe atraía
como a opção mais honrosa.

Debaixo do poder de fogo
dos terríveis adversários,
se jogavam pelo chão,
das forças os níveis vários;
gemiam os que estavam feridos,
Blasfemavam os mais cansados,
sob o julgo dos sicários.

Foi uma noite de agonia,
de vigília absoluta.
Ambos os lados esperavam
o reinício da disputa;
Canudos, em completa escuridão
esperava com paciência
a próxima fase da lua

Ficara imersa em silêncio
a cidadela-esfinge,
em completa escuridão
que um fiapo de luz não tinge,
até o sopro do vento
que antes se apressava,
agora, o medo restringe.
.................................................
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 5Exibido 869 vezesFale com o autor