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Contos-->Mariana E O Himalaia -- 13/07/2004 - 14:21 (João Brito) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mariana era destas mulheres que havia vencido na vida com seus próprios esforços. Seu dinamismo e objetividade eram notáveis. Chegou ao curso superior quando já havia conhe-cido Carlos e ambos, terminaram seus respectivos cursos no mesmo ano. Ela se formou em jornalismo, seu sonho de menina. Ele queria ser engenheiro, mas teve que se contentar com um curso de Administração de Empresas, levado a trancos e barrancos, pois a dedicação ao emprego lhe roubava o tempo e o entusiasmo com o curso. Direito teria lhe sido muito mais útil. Antes de terminarem a faculdade, resolveram se casar, sob protestos do pai de Mariana, que vislumbrava um futuro para filha, melhor do que prometia Carlos, um franzino rapaz de pouca vocação para o sucesso no mundo dos negócios, no qual o pai de Mariana já estava há muito tempo e com relativo êxito, afinal criar e educar cinco filhos, sendo todos com láurea, não é tarefa fácil nos dias de hoje.
Carlos não era o marido idealizado pelo pai de Mariana. É verdade que tratava-se de um rapaz esforçado, aos estudos nem tanto, muito dedicado ao trabalho mas não ia além disto. Já havia tentado vários pequenos negócios. Fracassara-se em todos, o jeito mesmo foi arrumar um emprego modesto num cartório e lá seguir carreira até tornar-se tabelião.
Mariana era a terceira dos cinco filhos do Sr. Pedro com Dona Elza. Desde pequena, Mariana demonstrava in-dependência e seu ímpeto para fazer as coisas sozinha. Aos quinze anos, resolveu por conta própria ir trabalhar para não mais depender do auxílio financeiro do pai, o qual insis-tia em tentar dissuadi-la da decisão, mas Mariana não cos-tumava dar ouvidos a ninguém quando alguma coisa lhe interessava. Parecia, segundo a mãe, que sempre gostava de contrariar os gostos do pai.
Mariana amava Carlos. As brigas, nos tempos da faculdade, eram acirradas. Passavam dias sem se conversa-rem, mas entre um e outro cachorro quente, nos intervalos das aulas, acabavam se falando e tudo terminava bem na mesma semana.
Carlos não era de falar muito. De amor então, quase que nada. Às vezes, demonstrava carinho, afeição, sobretudo atenção para com Mariana. Trazia no seu íntimo a paciência de Jó, principalmente quando sentava ao lado de Mariana para escutá-la falar dos problemas que a afligiam no novo emprego na redação de um pequeno jornal, conquistado na época, a duras penas, depois de uma maratona de entrevis-tas e testes.
O dia do casamento já havia ficado para trás há algum tempo, filhos porém, embora estivessem nos planos, Mariana achava que era cedo demais, todavia, Carlos era de opinião de que já estava na hora, afinal ele já estava por completar trinta anos e ela apesar de um pouco mais jovem, precisava ser mãe, seguindo os costumes familiares.
A rotina do dia-a-dia tomava conta de suas vidas. Mariana, um pouco vaidosa e ambiciosa, freqüentava aca-demia segundas e quartas, terças e quintas cursava inglês. Carlos não deixava de jogar seu futebol de salão com seus amigos do bairro onde nasceu e foi criado, nem mesmo que chovesse ou fizesse frio. No Ginásio, onde Carlos jogava, havia quadras cobertas e campeonatos em disputa o ano inteiro. Após o jogo nunca faltava a costumeira roda de a-migos regada à cerveja, que às vezes avançava na noite ho-ras à fio.
A primavera se aproximava e com ela os ventos do mês de agosto prenunciavam mudanças nas vidas de Carlos e Mariana. Era certo que não soubessem do que estava por vir contudo, tanto Carlos quanto Mariana, pressentiam em suas almas algum sinal enviado pela perspicácia da intuição e isto os deixava ora deprimidos, ora pensativos.
Era uma segunda-feira, Mariana chegou pontualmente às 10:00 horas ao escritório de um empresário de sucesso, com quem havia marcado uma entrevista há dias. A entrevista seria sua primeira matéria de peso para um grande jornal que a havia recentemente contratada para um serviço free lance e deveria conter fatos relacionados com o mercado de automóveis, sobretudo uma opinião do tal em-presário sobre a invasão dos carros estrangeiros no merca-do nacional. O empresário, dono de algumas concessioná-rias, se chamava por ironia do destino, Carlos - Carlos Sampaio. Do alto de seus quarenta e pouco anos, Carlos, um homem de negócios, astuto, olhar de águia, diplomata por excelência, esbanjava charme por onde passava. Estava no seu terceiro casamento, ou melhor, pronto para o quarto, quero dizer o quarto casamento, pois o terceiro havia tam-bém se acabado repentinamente, quase que exaurido como éter.
Mariana, após ser anunciada pela secretária, caminhou a passos firmes em direção à mesa de Carlos, que ain-da estava atendendo uma última ligação telefônica, antes de iniciar a entrevista. A cadeira de Carlos, girou 180 graus e colocou-o frente a frente com Mariana que já estava, em pé, de olhar fixo sobre ele. Aqueles olhos amendoados e negros de Mariana, que combinavam com os negros cabelos de Carlos, cravaram-lhe na alma um tiro certeiro de uma mistura incerta de paixão e sensualidade, como Carlos nunca havia sentido antes.
Sem se deixar abater, friamente, com voz pausada, Carlos, estendeu a mão para Mariana que, com o tocar das mãos - estremeceu-se de modo imperceptível. Sorrindo leve-mente, convidou-a a sentar-se no confortável sofá. E assim, deu-se início à entrevista.
Mariana logo se deu conta de que estava diante de um homem hábil com as palavras, que articulava de maneira inteligente cada frase, cada idéia, que lhe vinha à mente. Por diversas vezes, apercebeu-se de que deixava se levar, envolvendo-se no turbilhão de idéias que brotavam de modo fértil do cérebro treinado de Carlos, e desta maneira não conseguia seus objetivos, que eram o de captar e registrar suas idéias e opiniões.
Com o passar dos minutos, foram ambos, descontraindo-se e o bom humor passou a ser a tônica da entrevista, que aos poucos transformava-se num bate-papo entre sorrisos e elogios de ambas as partes, de modo que, a duração da entrevista, antes prevista para uma hora, uma hora e meia, já estava com duas horas ameaçando ir mais além, até que Carlos num ímpeto muito próprio de sua personalidade, lançou um convite à Mariana.
Mariana hesitou, argumentou, porém a sua curiosidade em saber mais sobre aquela pessoa que estava diante dela lhe pedindo algo como criança que pede doce, falou mais alto, e acabou aceitando o convite para um almoço a dois, num restaurante especializado em frutos do mar, prefe-rência comum descoberta durante a entrevista que já estava encerrada.
Não é preciso dizer leitor, que mais uma vez, Carlos deixava se levar pelo seu instinto aventureiro em busca de novas descobertas do coração. Mariana, por sua vez, pare-cia enfeitiçada pelo charme daquele homem que exalava um agradável perfume e falava com segurança inspirando con-fiança a quem quer que estivesse ao seu lado.
A despedida veio com promessas de novo encontro e fez com que Mariana se desse conta de que tudo que acaba-va de acontecer entre ela e Carlos Sampaio, lhe parecesse como se houvesse terminado um sonho e de onde tivesse saído com a quebra repentina de um encanto. Mariana res-pirou fundo e perguntou a si mesma: afinal, o que estava acontecendo com ela? Porque deixava se levar pelos encantos daquele homem tão diferente do seu marido Carlos. O que havia nele de tão especial que fazia sua cabeça rodar e seu raciocínio escorregar por caminhos que não chegavam a lugar nenhum. Seria um feitiço? Seria uma fraqueza da sua personalidade? Não encontrando respostas de imediato, preferiu esquecer de tudo que havia acontecido naquele dia.
Dizem, amigo leitor, que o cérebro, assim como o estômago, não aceita coisas mal resolvidas, principalmente as do coração, de modo que tudo que vai para dentro dele sem que esteja bem digerido, volta à tona mais cedo ou mais tarde com toda força. Foi assim que se sucedeu com nossa amiga Mariana, que de tão aflita com aqueles acontecimentos, tivera logo mais à noite, uma noite de cão, ou seja, não con-seguiu pregar os olhos durante quase a noite toda revivendo mentalmente todos os acontecimentos do dia.
Carlos, naquela noite, nem sequer se deu conta da insônia acometida por Mariana. Tivera um dia cheio de pro-blemas no cartório e havia falado com ela apenas uma vez durante todo o dia e tudo parecia bem.
Mariana chegou, no dia seguinte, mais tarde ao trabalho com olheiras profundas que até os colegas passaram a indagar se estava tudo bem, se havia acontecido alguma coisa, mas Mariana justificava pela noite mal dormida e dava logo um ponto final na conversa. O dia de trabalha mal havia começado. O telefone toca. Mariana estremece com um pressentimento, como se algo lhe dissesse claramente que se tratava de Carlos Sampaio, preferiu não atender. Estava certa a sua intuição. Mariana, então, começa a ouvir o recado que Carlos deixa gravado na secretária eletrônica e não consegue dissimular a inquietação que abala e toma conta do seu espírito naquele momento.
Há um conflito estabelecido na alma de Mariana. Disto ela sabe e prefere não fugir, quer enfrentá-lo de frente como tudo, até então, em sua vida. Sai do escritório em busca de um lugar para pensar, sabe que está diante de um problema e precisa resolvê-lo. Para isto, precisa refletir, encon-trar respostas que só ela sabe onde estão. Volta mais tarde para o escritório e encontra mais um recado de Carlos Sam-paio, desta feita resolve responder ao chamado. Conversam sobre amenidades, sobre a entrevista, mas a conversa vai ao ponto principal, que é um novo encontro. Mariana aceita o convite, pois está decidida por enfrentar o desafio.
Os dias passam e os encontros entre Mariana e Carlos Sampaio tornam-se mais freqüentes, até que o adultério de Mariana chega às vias de fato e com ele uma paixão a-vassaladora e envolvente passa a dominar por completo seu coração. A constatação deste fato leva a outro ou seja, Ma-riana não ama mais seu marido Carlos e isto a faz duvidar se algum dia o amou de verdade, pois agora, diante do amor envolvente de Carlos Sampaio, tudo leva a crer que talvez nunca amou por completo o seu marido e que mantinha por ele uma combinação de amizade com afeição carinhosa pro-jetada na figura masculina do pai, explicável apenas por psicólogos experimentados.
Uma decisão precisa ser tomada, não há mais o que esconder, algumas pessoas já notam o que se sucede entre ela e Carlos Sampaio, que cada vez mais se faz presente em sua vida. Mariana não quer saber de falsidades entre ela e Carlos, seu marido. Seu caráter não lhe permite manter um caso de amor às escondidas e resolve contar todo para ele.
É noite, Carlos chega em casa, estranha a presença de Mariana que deveria estar na aula de inglês. Pressente que algo estranho está no ar, sabe que seu relacionamento conjugal, ultimamente, anda muito frio e teme pelo que possa vir acontecer.
Mariana inicia a conversa com ares de preocupação e arremata logo uma pergunta à queima-roupa, que Carlos já es-perava.
— Onde você esteve ontem? Carlos sentiu um calafrio e rapidamente pensou antes de responder.
— Saí com alguns amigos do cartório para comer uma pizza. Por que? Antes que Mariana respondesse, imaginou o que havia acontecido e logo concluiu que ela de algu-ma forma, sabia que ele não havia saído com os amigos e que aquilo era apenas um álibi criado de última hora.
— Por nada, achei que você chegou um pouco tarde. Sabe Carlos, acho que precisamos conversar sobre nós...
Carlos, receou que Mariana o desmascarasse, pois há muito tempo ele vinha mentindo para ela e decidiu abrir o jogo, pois já não suportava mais aquela situação. Mariana tam-bém andava diferente ultimamente, não era mais a mesma pessoa, sequer dava-lhe atenção, sempre estava muito atare-fada com as matérias do jornal. Carlos estava cansado de tudo aquilo, queria dar um basta e foi logo dizendo...
— Mariana, preciso lhe confessar uma coisa.
Mariana, ficou perplexa ao ouvir as palavras que saíram da boca de Carlos nos minutos que sucederam-se.
— Eu tenho outra pessoa e quero o divórcio. O nosso casamento acabou, estamos nos enganando, você mudou, eu mudei, etc.
O mundo girou sob os pés de Mariana. Estarrecida, sem saber o que dizer, pois estava na iminência de confessar o seu adultério a Carlos. Contudo, sentiu uma revolta tão grande dentro de si com tal ingratidão, que foi incapaz de levar adiante seu intento. Perguntou a si mesma, como aqui-lo podia estar acontecendo entre ela e Carlos. O Carlos, aquele meigo e sincero rapaz, que parecia incapaz de tal coisa, que sempre demonstrava sua fidelidade até de um modo quase ingênuo havia, sorrateiramente às escondidas, pelas suas costas, trocada-a por outra. Custava-lhe acredi-tar em tal ousadia, mas era a verdade, a dura verdade que doía profundamente.
Mariana estava diante de um dilema. Não sabia se também se confessava com Carlos, contando-lhe seu único e acidental adultério ou se vingava-se dele, escondendo-lhe o fato para faze-lo pensar que lhe devia uma ingratidão. Optou pela última alternativa e considerou-se vingada. Carlos, jamais soube da existência de Carlos Sampaio. O divórcio entre Carlos e Mariana, não tardou a acontecer.
Ah! Amigo leitor, o destino, às vezes, nos prega pe-ças e nós sabemos quanto ele nos surpreende com seus ca-prichos. O romance de Mariana e Carlos Sampaio parecia um verdadeiro conto de fadas. Porém, numa tarde de sexta-feira, Mariana, estava dirigindo seu automóvel entre um emaranhado de carros em um dos comuns e quilométricos congestionamentos da Capital, quando viu sair de uma ga-ragem em marcha a ré, um automóvel, o qual lhe parecia muito familiar. Notou, subitamente, que ao volante estava Carlos Sampaio e que de dentro da garagem saía acompa-nhando o veículo, uma bonita e sorridente mulher com ares de felicidade exalando pelos poros. Tão feliz quanto ela, Mariana, que vivia intensamente um grande romance. Carlos Sampaio alinhou o veículo ao meio fio, a mulher veio até a sua porta e beijando-o longamente se despediu, fazendo-lhe carinhosos afagos em sua cabeleira negra. Naquele fatídico encontro que se desenrolava sob os olhos de Mariana, todos os seus sonhos com Carlos Sampaio, se desmoronaram como pedras que caem do alto do Himalaia.
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