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cronicas-->Gata Borralheira Reinventada -- 04/08/2003 - 03:52 (Patrícia Köhler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Gata Borralheira Reinventada

Andei pensando esta semana nas voltas e mais voltas que este mundo dá. E em como uma infinidade de pessoas perde ótimas oportunidades de, nestas voltas, se comunicar com outras que passam logo abaixo - ou acima - delas.
Minha vida, não sei se chega a ser mais interessante que a de outras pessoas, mas posso afirmar que é recheada de acontecimentos bem inusitados.
Já tive e tenho contato com pessoas muito ricas e outras paupérrimas. Contato mesmo, amizade, parentesco, namoro, intimidade. E não dá pra medir com qual delas fui mais feliz, tive mais empatia, quais as que promoveram as mudanças mais significativas dentro de mim.
Não sou uma pessoa muito extrovertida, pelo contrário, às vezes minha timidez chega a ser um entrave na minha personalidade. Mas quase nunca perco a oportunidade de conhecer e conversar com pessoas diferentes, quando tenho chance. Motoristas de táxi, de ónibus, cobradores, atendentes, jardineiros, vendedores, manobristas, garçons, gente com quem a gente passa boa parte da vida em contato. Passa mesmo, pode acreditar.
Mas percebo uma altivez enorme em certas pessoas, estas que muitas vezes não são capazes de dizer um boa noite a um motorista de táxi, a um manobrista. Senhoras distintíssimas que entram num táxi no banco de trás e informam apenas o endereço de destino. Algumas provavelmente desejariam que o motorista o adivinhasse, para poupá-las deste pequeno papo e intimidade com um estranho.
Estas pessoas não percebem as chances que a vida nos dá de conhecermos outros universos, outras histórias, de nos abstrairmos, ainda que por alguns minutos, do nosso próprio mundo e umbigo.
Em 1998 tive a chance de ir a Portugal e ficar na casa de uns tios-avós que têm muita, mas muita grana. E influência.
Passei uns meses lá comendo do bom e do melhor, frequentando os melhores restaurantes da cidade, cortando o cabelo no melhor salão e tudo o mais que convinha ao sobrenome Vinagre. Vinagre de lá, lusitano, que fique bem entendido. Porque os Vinagre brazucas vivem numa pindaíba perene. Mas é claro que aproveitei muito lá. Quem me via ao lado dos meus tios e primos não imaginava quem eu era, qual a minha situação aqui no meu Brasil de samba e pandeiro. Me sentia uma espécie de Gata Borralheira, à espera da derradeira hora de dar adeus àquele sonho.
Em Portugal: cheguei a sair em algumas colunas sociais de lá, ao lado do meu saudosíssimo tio-avó, toda sorridente, com legendas embaixo das fotos do tipo: "Afonso Reigosa ao lado de sua sobrinha luso-brasileira Patrícia aproveitam o cocktail".
No Brasil: saí numa foto publicada no jornal do bairro, aos 13 ou 14 anos, com lama até os joelhos e com "os olhos embotados de cimento e lágrima". A legenda: "garota chora em frente de casa tentando recuperar o que sobrou de seus pertences depois de mais uma enchente".
A vida é ou não é uma grande brincadeira? Como é que podemos levar tão a sério tudo isso?
Quis registrar estas coisas só para dividir com vocês algumas experiências que nos acontecem e os efeitos que elas têm sobre nós, sobre nossa maneira de enxergar o mundo e as pessoas que porventura têm algum contato conosco no dia-a-dia.
Não perca a chance de conversar com o taxista que está ao seu lado, ou à sua frente, a menos que ele não esteja a fim de conversa, o que é muito raro. Também pode ser que você, seja qual for o motivo, é que não queira papo. Neste caso, melhor não puxar assunto mesmo. Deixa pra outra hora e outro táxi.
É claro que isso foi um exemplo. A mensagem que eu queria passar é que a vida é muito curta pra gente desperdiçar as chances de conhecer outras histórias, de rir, se emocionar.
Para encerrar, um provérbio italiano que adoro, e que aliás, foi o que me incitou a escrever tudo isso aqui:
"Terminado o jogo, o rei e o peão voltam à mesma caixa".

Patrícia Köhler, estudante de jornalismo, poeta, cronista iniciante
*TODOS OS DIREITOS RESERVADOS*
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