Numa cidade pequena acontecem coisas incríveis. Há alguns anos, chegou em uma delas um circo que apresentava touradas e espetáculos teatrais. Em pouco tempo, o pessoal do circo tornou-se íntimo dos habitantes e foi ficando por ali mais um tempo. Para atrair o pessoal, ia inventando fatos. Espalhava-se que o touro havia fugido, que o palhaço estava apaixonado por uma das solteironas do local, e por aí vai... Numa hora, resolveram fazer um concurso para escolher o cara mais feio da cidade.
A animação foi grande. Todos tinham candidatos a apresentar. Verdade seja dita, a cidade era um repositório de gente feia. Ao final, foram "selecionados" três candidatos: o professor Atanásio, de calva lustrosa em forma de submarino; o cartorário Pancrácio, de quem se dizia que (as)sustava qualquer protesto, e o tímido Janjão, de boa família, que fisicamente tinha tudo que os outros têm mas nos lugares errados. O professor tinha sido indicado pelos alunos. Era o terror dos estudantes, sua nota maior era três. Daí a vingança dos jovens. Mas que ele merecia ser candidato, lá isso merecia.
A expectativa do concurso revolucionou a cidade. Em todas as rodinhas só se falava nisso. Davam-se palpites, faziam apostas. A barbearia do Zé Filósofo, central de fofocas da cidade, vivia cheia. Ninguém se lembrou de perguntar o que pensavam disso os indicados para tão grande honraria. Por via das dúvidas, o pessoal do circo arrumou mais um candidato: Chico Balula, lelezinho de pedra, que perambulava pelas ruas sem moradia fixa. O Chico até que não era tão feio, com um bom banho e umas roupas decentes virava doutor.
No grande dia, o circo lotado, o apresentador finalmente falou: agora, vamos apresentar o grande vencedor, o homem mais feio da cidade! Tchan, tchan, tchan... E quem aparece, saltitante, no palco? O Chico Balula. O apresentador grita: paaalmas para o mais feio!
Tudo se ajeita, não é mesmo? Ficou evidente que nessas coisas existem influências políticas e financeiras. Coisas de circo, naturalmente.
|