A face mais visível da violência brasileira se estrutura em torno do tráfico de drogas e armas, no que o Brasil não difere de outros países. Leonarda Musumeci, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acredita, contudo, que se tem dado um viés bélico ao tratamento do crime organizado. Focaliza-se o problema apenas nas comunidades carentes, onde está uma ponta do tráfico, talvez a mais organizada, justificando-se, dessa forma, ações repressivas que acabam aguçando a exclusão social.
A maior preocupação de quem estuda a questão é a população mais jovem dessas comunidades carentes, que enxerga no narcotráfico emprego e poder. O tráfico de drogas e armas é origem não só dos crimes contra a pessoa, mas também contra o patrimônio, sendo a matriz de seqüestros, roubos de automóveis e autocargas, assaltos a residências e estabelecimentos comerciais e financeiros, extorsões e latrocínios.
O grande impasse em concentrar as ações repressivas nas comunidades carentes é provocar a falta de confiança dessa camada da população no poder público, criando, como diz Musumeci, um justificado sentimento de temor em relação à polícia, a parte mais visível do aparelho estatal.
A corrupção na polícia e em outros setores do estado também ajuda a complicar o quadro. Por todas essas questões, a ação isolada do governo federal não terá êxito, segundo os estudiosos. É preciso uma ampla modificação na estrutura do estado.
Os presidenciáveis demonstram consciência do problema, mas as soluções que apontam são genéricas, como combater a corrupção . José Serra concentra na criação de um ministério da Segurança Pública a coordenação das ações preventivas contra o crime organizado. Já Lula fala de uma secretaria federal de Segurança Pública, ligada diretamente à Presidência da República. Ciro, mais cauteloso, prefere não propor medidas emergenciais. (PA)
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