Conforme se poderá com alguma paciência conferir no meio da amálgama torrusina, já descrevi que em 1971, num festivo jantar de confraternização, que assumiu motivo no baptizado de minha filha Paula, ainda meio bezerro exposto à brasa rolava ao ar-livre no bem arquitectado espeto que o precioso cozinheiro Massuma dominava com mão de mestre, discursei de copo cheio gesticulando que desejaria apenas viver até aos 50 anos.

Então, com 32 robustos anos implantados na pele, geri antecipadamente a missão que de alma estreita à promessa me comprometia intimamente alcançar: em 1989 a Paula seria já uma jovem mulher capaz de tomar a vida e o sonho à sua exclusiva conta.

Bem... Há uma quinzena de anos, pois, que ultrapassei o desejo consumado ( o destino minorou-o e deu-lhe outras voltas) e, embora pense com atenta reflexão no meu fim, não vislumbro por enquanto as mãos "Dela" a fazerem-me cócegas na cabeça.

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Qualquer brasuca que lhe dê na nuca pra visitar a cidade de Portus Calle, por nada mesmo deve perder o ensejo de fazer uma visita à Conga & Conga, na rua do Bonjardim, logo por trás do Palácio dos Correios voltado para a Câmara Municipal em plena praça General Humberto Delgado.

Quem é que não gosta de petiscar esplendidamente bem, apetitosamente bom e sobretudo correntemente barato?... Cada turista deverá tomar a conta só para si para não criar confusão colectiva.

A abrir, recomendo uma bifanazinha bem molhada entre saboroso pão, acompanhada por uns goles de excelente maduro branco que é apresentado numa garrafinha que não dá sinal a bêbado. De seguida, cerre dente incisivo sobre uma cordoniz banhada no molho das bifanas. Saboreie, perpasse e trespasse os lábios um no outro a fim de que o magnífico paladar, mesmo que alguma baba escorra para o queixo, lhe abranja por inteiro a boca toda. Mais um ou dois gostosos pãezinhos e quiçá ainda uma outra garrafinha cairão muitíssimo bem consoante a cordoniz vá desaparecendo. Finalmente, peça uma sopa com o tal molho, faça uma festas na barriga, respire longo algumas vezes e termine com um cafezinho da Sanzala, tranquilamente. A conta montará a 3,5/4 euros - cerca de 11/12 reais.

Bem e bem... O efeito começa logo a anunciar explosão quando Você for a meio da cordoniz. Ao fim, quando já estiver na rua, trate de fazer entender à companheira que no quarto de hotel vai haver samba. Palavra, ela não se fará rogada, uma vez que também estará sentindo exactamente os mesmos galopantes eflúvios.

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Hoje, cerca das 19h30 fui à Conga & Conga. Sentei-me numa mesa mesmo defronte a um casal que jantava na companhia de dois rapazinhos, provavelmente e sem erro - as feições correspondiam ao enlace mútuo - seus filhos.

Enquanto me fui regalando com o repasto, comecei a observar em pormenor os meus vizinhos de mesa. Ele, um brutamontes obeso, em calção, donde sobressaíam dois peludos presuntos de rinoceronte. Reparei, desde que eu tinha chegado, que emborcou em apenas seis lances três sandes de bifana. Ela, de rosto moreno, mas muito macerado pela evidência que sombreava a seu lado, com uma sande sobre o prato repartia bocadinho a bocadinho pelos dois garotos, de sorriso inocente, com notada ansiedade por uma sande inteira e ao mesmo tempo felizes por estarem a comer fora junto do pai e da mãe, que naquele momento me demonstrou o que todas as mães do mundo demonstram: sabiamente capaz de tudo para olhar pela vida de seus filhos.

Consoante mais aprofundei a contemplação, mais a revolta me ensarilhava os neurónios no corpo. A rogar por dentro mercês e pragas ao mundo, refreei a vontade de mandar vir sandes que bastassem para aqueles dois garotinhos e mãe. Se o fizesse, era certo que o matulão não hesitaria um segundo em apertar-me o gasganete e a proclamar: "O que é que tu queres da minha vida, ó filho da... ?...

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Agora é chegada a altura de dar o nó aos três itens que equacionei e terminar com brevidade esta espécie de conto, que é sem dúvida um conto muito simples sobre a complexa existência do ser humano.

Considerando que ando nesta vida há mais 15 anos do que desejei, então em plena serra do Songo com Cabora Bassa à vista, produzi neste momento três aspectos de autêntico "beMal". Um, demonstrando que a existência não é nunca como a desejamos, mas sim fortuitamente inesperada e incalculável. No entanto, fartámo-nos de gastar o caco com quiméticas previsões. Outro, com um conselho assaz útil que proporcionará um excelente consolo terreno a quem proventura numa eventual oportunidade o siga. E ainda outro, algo de deprimente e tácito que a vida actual continua infelizmente a comportar à vista de todos, mas ninguém vê, finge que não vê e, veja ou não veja, dá ideia que a avantesma não tem nada a ver connosco. Todavia, no caso que submeti a apreço, o futuro de duas crianças deveria começar bem melhor, muito melhor mesmo, mas, o que se há-de fazer?

Torre da Guia = Portus Calle