Usina de Letras
Usina de Letras
152 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50616)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140801)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->UM VIAJANTE DO TEMPO NUMA CIDADE SEM-MEMÓRIA E INCONSEQÃœEN -- 16/08/2003 - 03:01 (Carlos Jatobá) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

UM VIAJANTE DO TEMPO NUMA CIDADE SEM-MEMÓRIA E INCONSEQÃœENTE*


por Carlos Jatobá


  
    Estando em plena rotatória de San Martin sigo pela Rua 21 de Abril no sentido dos Afogados. Lembro-me que ali perto encontra-se o "Campo do Jiquiá" antiga estação de atracação do dirigível alemão Graf Zeppelin. Entro pela Rua Alexandre Rodrigues Ferreira e no final sigo à direita, quando finalmente chego ao destino que ora me proponho.


    Apesar de bem guarnecida pelo poder público do ponto de vista da segurança, historicamente a velha torre de ferro, única do tipo ainda remanescente em todo o mundo; sem manutenção e reforma, está exposta às intempéries e à deterioração irreversível. Diante de tal, sinto-me estar, como um nauta, transcendendo o tempo e o espaço. Subvertendo, de certa forma, a cronologia.


    Pareço divisar o artefato dirigível prefixo LZ-127 "Graf Zeppelin", contornando os céus da nossa cidade e procurando os melhores ventos para aterrissagem. A prefeitura do município, diante de tal espetáculo, decretara feriado. Estamos, pois, a 22 de maio de 1930, uma quinta-feira.


    O aeródromo fora construído especialmente para esta primeira atracação no Brasil e em toda América do Sul. No hangar estavam, o presidente do Estado de Pernambuco Estácio Coimbra, o prefeito da capital Lauro Borba, o cónsul da Alemanha no Recife Erich Paul Kurt Moltke von Stauffenberg und Schwartzwald, demais autoridades civis, militares, eclesiásticas e, naturalmente, eu.


    Em conversa com o Conde von Stauffenberg fico sabendo que o dirigível alemão, mede 235 metros de comprimento e pode desenvolver uma considerável velocidade, para uma aeronave do seu porte, de 110 quilómetros por hora. Sua missão, dentre outras, é de estabelecer o tempo médio que os dirigíveis perfazem no deslocamento da Europa Central até o Brasil, a fim de determinar sua viabilidade económica como transporte de cargas.


    Quando fazia-se exatamente 18h30min, os raios crepusculares se dissipando no firmamento e dando lugar ao anoitecer de uma aura vermelho-alaranjado, pousa o Graf Zeppelin depois de haver deixado a base de Friedrichshaven, na Alemanha, desde às 17h00min de 18 de maio, último.


    Nisso, saio desse "transe" inominável ao ser interpelado por um homem que ordena: Alto! (Aquilo me soa como: Halt! ou Achtung!, de um SS, no check-point de entrada do ghetto de Varsóvia). Vejo diante de mim, nisso já em alguns quilómetros adiante do Campo do Jiquiá, um acampamento de brancaleones. O indivíduo que me interpelara, tinha tez corada, sotaque diferente dos demais e linguagem "sócio-antropológica"; coisas que, naturalmente não podia disfarçar. Ordena-me mais uma vez: Somos do MSC (Movimento dos Sem-Casa)! Ponha-se fora da nossa "ocupação"! O senhor a está "invadindo"!


    Mais uma vez tento compreender onde estou. No pórtico do acampamento havia uma faixa em arco que me fazia lembrar mais o Arbeit Macht Frei do nacional-socialismo, do que o ora escrito: "Ocupação Traz Habitação". Nesse lugar os papéis estavam invertidos: os repórteres eram tratados como "turba" e os invasores se arvoravam de autoridades policiais.


    Saindo do lugar, penso com meus botões: Estamos realmente num estado democrático de direito! ... Mas!, ... e de fato?!...


   Só aí chego à realidade. Estou em 2003. O Graf Zeppelin não mais existe, o "Campo do Jiquiá" e sua torre de atracação precisam ser preservados. Isso faz parte da História.


    Mais uma vez intuo que, em nossa cidade, ao alargarmos ruas podemos estar estreitando mentes. Somos pobres na preservação da memória histórica; mas, ricos na assimilação da dita virtual.


    Sigo meu caminho. Já em frente à Estação da Mangueira sou quase "atropelado" por um popular de bicicleta que, além de si, transporta no quadro da mesma uma mulher com o filho de colo e no bagageiro um outro de tenra idade. O ciclista, avocando-se de razão, me inquire: O senhor não olha onde anda?... Barão!...


*Crónica do autor publicada na FOLHA DE PERNAMBUCO,


Recife-PE., em 03/08/2003, Caderno de Economia, página 4.


 

 


Copyright © 2001-2003 by CARLOS JATOBÁ.
Todos os direitos reservados por lei.

Proibida a reprodução total ou parcial deste sítio, salvo com permissão do autor.
LEI Nº 9.609/98 - PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

 e LEI Nº 9.610/98 - DIREITOS AUTORAIS.

 


  voltar



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui