Esta é a história de uma rádio comunitária. Com uma programação diversificada, pautada literalmente na filosofia de atender a comunidade, teve seus equipamentos apreendidos em março de 1999. No mesmo mês e ano, toda a documentação exigida pela legislação foi apresentada no Ministério das Comunicações, atendendo publicação no Diário Oficial da União. Ironicamente, no mesmo mês e ano a rádio recebeu um diploma expedido pela Associação Comercial da cidade, após pesquisa de opinião feita na comunidade, atestando a audiência da pequena emissora, mesmo diante das poderosas emissoras da Capital Federal. Mas até o momento o transmissor continua apreendido e o processo de legalização continua parado no Ministério. Essa curta história, contada em versos, é um desabafo contra os atentados à liberdade de expressão e contra a Lei maior do País, que é a Constituição vigente.
Edvalson Bezerra Silva (Mocoin)
A quem de direito possa...
Peço licença primeiro
Ao autor da petição
Paraibano guerreiro
E um grande cidadão
Com rimas e versos expressos
De tocar o coração
Libertou em um processo
Um inocente violão
Pra soltar um transmissor
Vamos apelar para a rima
Com a licença do poeta
Ronaldo Cunha Lima
Processado por contravenção
O instrumento agressor
Não é faca nem revólver
É um simples transmissor.
Transmissor, que na verdade,
Nem matou e nem feriu,
Só ajudava o povo,
Enquanto a ele serviu!
Este pobre transmissor
Irregular, bom que se diga,
Aos pobres só ajudou
Nesta cidade antiga
Pra nosso povo falar
E amenizar sua sina
Mande o aparelho soltar
E alegre Planaltina
Esta cidade fundada
Há quase um século e meio
Precisa ser escutada
Nem que seja no seu seio
O pedido ora feito
Tá na Constituição
É coisa de direito
Garantido ao cidadão
O artigo quinto aprovado
Da Lei maior da nação
Garante entre outras coisas
a nossa livre expressão
No momento que esse povo
Se acostumava a falar
Tomaram seu instrumento
Lhe obrigando a calar
Essa nossa petição
Já não está solitária
Existe lei que ampara
A Rádio Comunitária
É lei já reconhecida
Pelo congresso e governo
Depois de muito emendada
Aprovaram os seus termos
Para cumprir a contento
Esse negócio tão sério
Nossa rádio tramitava
Lá pelo Ministério
Pergunte a qualquer ouvinte
Quanto é verdade, doutor,
Que logo depois da prisão
O Diário publicou
Agora só tá faltando
Do ministro seu aval
Pro povo falar de novo
Sem que isso seja um mal
A prova de competência
Foi um prêmio especial
Que recebemos em março
Da classe empresarial
Foi um atestado dado
Da nossa missão cumprida
Ganhar pesquisa do povo
Como a rádio mais ouvida
Parece que complicou
Ganhar das comerciais
Onde o povo não tem vez
Nos seus potentes canais
Para provar ainda mais
Que o rádio não é bélico
Faça a pergunta também
Ao nosso povo evangélico.
Quem disser que ouviu
Alguma coisa contrária
Prove que não cumprimos
A Lei da Comunitária
Talvez tenham alegado
A política partidária
Isso é por medo, doutor,
Da rádio comunitária
É política, sim senhor
Lutar pelo seu direito
Não é cabível é prisão
Como ladrão ou suspeito
Dar voz a esse povão
Não é Utopia pura
Já que passou o tempo
Amargo da ditadura
Desculpe falar de novo,
Do detido equipamento,
Mas que crime ele cometeu
Pra tanto constrangimento?
Se a prisão é indevida
Premie com a liberdade
E encha de alegria
Os radinhos da cidade
Neste momento histórico
O povo vai ter sucesso
Mande logo libertá-lo
E arquive esse processo
O povo é quem agradece
Quem seu reclame não nega
Reconhecendo de vez
Que a nossa justiça é cega
Tem tanta coisa errada
Nesta nossa capital
Que vive, sofre e padece
Do problema social
Se esse povo tiver voz
Na nossa comunidade
Essa voz ecoará
Nas nossas autoridades
As grandes rádios daqui
Nunca concordarão
Pois não terão o domínio
Dessa comunicação
Que é livre e graciosa
Pra toda a comunidade
Atende a qualquer pedido
Sem chamar de caridade
Não pedimos quase nada
Nessa humilde petição
Só que se tire a mordaça
Da nossa população
Três anos já se passaram
Desde a data da prisão
Há três anos esperamos
A nossa liberação