Uma simples visita ao espelho despertou Svenson Swenson para a insuportável certeza de que todos iríamos morrer um dia; e que antes de morrer, apodreceríamos a olhos nus, até nem conseguirmos mais respirar.
Era manhã e Svenson Swenson ainda não havia acordado de todo; começava a arrumar a cama quando avistou no travesseiro os sinais de sua decrepitude: fios e mais fios de cabelos pretos espalhados pela fronha branca. Diabos! Postou-se em frente ao espelho, que ficava em cima da pia do banheiro, e começou a rastrear a cabeleira até encontrar o foco do desmatamento. Não era uma área muito grande, mas prometia mais, muito mais.
Em pânico, Svenson Swenson experimentava pela milionésima vez em sua vida a sensação de impotência inerente a seres domesticados como ele. O pai de Svenson Swenson calvo e a mãe com cabelos ralos haviam lhe deixado esta herança. Restava a Svenson render-se a condição de calvo precoce, já que contava apenas com vinte e sete anos.
Na praça em frente ao prédio, velhinhos sentados em bancos de cimento contemplavam a solidão em pares. Da janela, Svenson Swenson observava o movimento monótono e pacífico dos aposentados. Ainda sensível pela revelação de minutos atrás, Svenson tomou uma decisão irrefletida e de pijama desceu à praça para observar de perto o que seria sua vida futura.
Rostos macilentos, cabelos sem vida, costas curvadas, andar com dificuldade e Svenson Swenson já se via ali. Não, ainda era novo. Ainda podia pular e pensando isso, pulou, um salto curto. Caiu, batendo os pés firmes no chão. Estou vivo e bem. Mas, logo voltou à memória a lembrança daquela clareira bem em cima da cabeça, aquele caminho de rato que já insurgia entre os cabelos volumosos.
De volta ao apartamento, lá foi Svenson Swenson olhar-se no espelho, novamente. Não se deteve nos cabelos, isto não era o que mais importava no momento. Svenson Swenson queria descobrir uma maneira de impedir o impossível. Ou de pelo menos, remediar o inexorável. Forçou o sorriso e com isso esticou a pele da bochecha, havia visto em um desses programas de TV que esta prática evitava rugas. Forçou o sorriso mais uma vez e mais uma vez, ficando com a boca arreganhada alguns segundos, como um palhaço sem graça. Pronto, assim, viveria mais uns anos sem saborear as lástimas da velhice.
Por Bruno Moreira
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