Abri lentamente o envelope que acabara de receber... Dentro, uma carta que transcrevo, parcialmente:
« Querido : quero lamber-te os dedos dos pés... 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10... todos, um a um, como se fosse uma gata, como se fosse tua escrava !
1,2,3,4,5,6,7,8,9,10... Vou esgotar a minha saliva ... Hummmm ! Que bom ! E ficar toda molhada !
Tu vais gemer, vais gritar... muito... muito... de tanto não te poderes conter !
Vais pedir-me : pára !... E eu vou continuar a lamber-te...
Lamber... lamber... todos os dedos... um a um, como se fosse uma gata, como se fosse tua escrava !... E vou continuar molhada... e a lamber... Sentindo o teu sexo despertar , vou continuar a lamber-te !
Pára ! Pára ! E eu não vou parar... Eu só quero lamber ! Muito... Muito... É o meu prazer que se deixa entrever, na câmara do desejo... E continuo, louca, a lamber-te ! E o grito !... ( Não conheces o meu grito, mas vais querer... tu vais ver ! ).
Pega... toma os meus dedos molhados...
Pega... podes lamber... o meu prazer !
Eterno orgasmo feminino... eterno e sempre a crescer...
Pega... podes lamber !
Nunca saboreaste o meu gosto... mas hoje é só para ti... poderoso... imponente... deixa... deixa-o ser ! »
Assina Hasan Nazir, minha amiga do Afeganistão. Eu já o sabia porque vira os selos do Paquistão, país através do qual me chegava sempre a sua correspondência... Ela aprendera português durante os três anos que passou no Brasil, mas nunca me escrevera assim... Mantínhamos apenas uma relação de amizade... Trocávamos ideias sobre os nossos países e os nossos costumes... Também sobre política...
Quantos pensamentos me assaltaram o cérebro ! Sonhei viajar e fazer-me largar em pára-quedas sobre o Afeganistão, juntamente com a ajuda humanitária americana... A seu modo, seria também uma ajuda «humanitária» para Nazir... Já me via a retirar-lhe a «burqa» e a olhá-la completamente nua, qual deusa oriental... Seria possível eu ir ? E se fosse, poderia eu encontrá-la ? Não viria a ser preso por espionagem ? Mas todos os riscos mereciam um encontro com Nazir, com «esta» Nazir que eu desconhecia !
De repente, olhei para as minhas mãos e gritei... Gritei de medo... As minhas mãos estavam cobertas de um pó, de um pó branco... Cheirei e senti um aperto nos pulmões ! Talvez sugestão... Seria o agora assustadoramente célebre antraz ? Como poderei saber ? Alguém está brincando decerto comigo, me querendo assustar... Só pode ser isso. Outra coisa não me poderia acontecer a mim !
Quem escreveu aquele texto não foi Nazir ! Quem foi, que se acuse ! Eu perdoo ! Mande-me um e-mail para me sossegar... Mas já ! Porque não consigo dormir ! - Será que vou morrer ? - Será que os deuses me vão castigar, por ter pensado erotismo em tempo de guerra ?
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