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Contos-->Barbada -- 15/08/2004 - 11:45 (Gabriel Valmont) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando menina ela corria pelo circo, subia e descia nas cordas e colecionava, junto dos outros meninos, os palitos de algodão-doce encontrados no chão.
Sua mãe disse que os pêlos surgiriam no auge de seus treze anos - como todos os pêlos -, e como em muita coisa, a mãe estava certa. No início eram uns pêlos ralos e finos que não chegavam a coçar, nem a incomodava, para dizer a verdade. Por experiência pessoal a mãe disse que aos dezesseis para dezessete ela já teria uma barba que lhes possibilitariam formar um dupla. Não seria legal? E a menina já estava ansiosa pra isso, se sentia eufórica com o barulho do público, com o cheiro de pipoca e com as marchinhas que tocavam na entrada. De cidade em cidade uma emoção diferente, um novo público e ela ficava apostando com o filho do palhaço qual o número de espectadores. Aprendeu desde cedo a ganhar e a perder.
Não estudou. A mãe não achou necessário, seu destino já estava traçado, dizia, e a menina não ligava mesmo. Gostava de pular na cama elástica e de dar banho nos macacos. Essa era a sua escola.
Cresceu no meio de leões e elefantes, e na valsa dos seus quinze anos dançou com toda a família de acrobatas. Não podia ser mais feliz.
O primeiro beijo foi aos dezoito, atrás do circo, com o domador de leões, que era forte e não tinha barba. Mas se apaixonou perdidamente pelo filho do mágico, que como um truque bem feito a conquistou e a fez pensar nele o dia todo. Mas apaixonado por ela era o palhacinho desajeitado que colecionava fotos e pôsteres dessa menina barbada.
Se tornou mulher barbada nos braços de um trapezista que a conquistou com um salto mortal, mas acabou fugindo no dia seguinte, não deixando nem uma carta como explicação. Ela não chorou; pelo contrário, nos dias seguintes já estava se escondendo com o engolidor de facas ou com qualquer pipoqueiro da cidade.
Fez sucesso estrondoso e até sua mãe se aposentou e passou a guardar matérias e fotografias da filha, com o maior orgulho que uma mãe barbada pode ter. Quando morreu rasparam a barba e a filha guardou com cuidado e carinho numa urna dada de presente pelo palhacinho. Chorou durante semanas e não conseguiu apresentar em outras, mas trabalho é trabalho, pensou, e sabia que sua mãe ficaria contente em vê-la dando piruetas e fazendo o público rir.
Trabalhou intensamente os dez anos que se seguiram até conhecer o empresário bonitão que a convenceu de casamento, e foi morar em um condomínio chique com piscina e quarto com ar-condicionado. Decidiu, então, nunca mais deixar a barba crescer, e passou a raspá-la todas as manhãs antes dos cremes facias importados que acabaram por inibir o crescimento dos fios.
Viveu a velhice assistindo televisão e anotando receitas para servir ao marido quando chegasse depois das oito.
Morreu aos oitenta e quatro anos sentada numa cadeira de balanço em pleno verão. Sua pele lisinha como a de um bebê. Poucos chegaram a saber que seu nome era Bárbara.
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